Já reparei que as filas dos supermercados têm muito que se lhe diga...
Bom, hoje lá fui eu, estafada depois de uma reportagem mal sucedida, pelas ruas húmidas da chuva que cai nos momentos mais inoportunos (principalmente quando não temos nenhum guarda-chuva). Lá ia eu, perguntando a mim própria porque não existe mesmo teletransporte e resmungando contra o vento que empurra o fumo dos tubos de escape contra a nossa cara.
Entrei num supermercado, perto da faculdade, peguei nas coisas de que precisava e lá vou eu para a fila. Na caixa ao lado está um homem, vermelho e com os olhos irritados, gritanto impropérios contra a humanidade numa voz arrastada. O diagnóstico era óbvio. Bebedeira pura e dura.
O homem grita contra a corrupção, diz que os portugueses são o pior povo que há, que só sabem c**** e coçar o c*, que as ruas estão cheias de intelectuais de café, que no tempo dele é que era! Que ele e o Silva (seja lá ele quem for) meteram um monte (o número oscilava entre o 12 e os 31) de polícias na cadeia, que era lá que eles mereciam estar.
As pessoas à volta estavam a ficar incomodadas, claro. Mas o homem lá continuou o berreiro, dizendo que as mulheres de agora são umas interesseiras, umas c*****, que no tempo dele teve 3 mulheres (TRÊS MULHERES, HÃ!OUBIRAM BEM!TRÊS!E EU CHEGABA PRA TODAS!TIVE FILHOS DE TODAS ELAS!) que as mulheres jovens querem é velhos para lhes catar o dinheiro. E começou a cantar uma música brasileira, da qual só se percebiam as últimas palavras, enquanto colocava as garrafas de vinho e as latas de pêssego em calda no tapete rolante da caixa (ESTAS GARRAFAS SÃO PRÁ MINHA BIZINHA QUE É CEGA!NUM SÕ PRA MIM!). E eu comecei o meu devaneio, enquanto sorria, distraída, para a senhora que estava atrás de mim e me dava cotovelas de riso trocista.
E se ele é que é o normal e nós os anormais? Podia ser que fosse ele o são e nós os débeis mentais... não sei porque torciam as pessoas o nariz, quando muitas das coisas que ele disse até são verdade. Não devemos criticar o produto por uma má embalagem, se nunca o provámos. Um mendigo é capaz de dizer mais verdades do que muitos políticos. E o vinho até é capaz de avivar a inteligência a muito boa gente. Enfim... devaneios surgem quando menos se espera...
"O amor é a sabedoria do louco e a loucura do sábio."
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