Nos filmes e nas telenovelas, as personagens, que supostamente representariam a vida real mas que, por isso, acabam por se afastar da realidade, interrompem sempre momentos importantes para atender um telefone que toca em momentos inoportunos.
Eu, no seu lugar, deixar-me-ia levar pelo desejo de não atender. Ignoraria o toque irritantemente estridente do aparelho e continuaria o que estava a fazer e que interrompera apenas por alguns segundos, senão milésimos de segundo até me aperceber de que não vale a pena ficar a meio de uma tarefa importante, seja um momento tórrido, um raciocínio, uma conversa importante (ou mesmo um diálogo supérfluo) ou qualquer outra coisa para atender o telefone. Principalmente porque as probabilidades de se receber uma boa notícia ou do autor do telefonema ser alguém de quem gostamos são mínimas.
Mas é claro que não pensamos nisso, quando nós próprios estamos num momento importante. Muitas vezes, hesitamos e acabamos por levantar o auscultador, quebrando uma linha de pensamento, a concentração ou uma oportunidade que, depois de atendermos, fica perdida e gera apenas desconforto. Acabamos por atender…
Raras são as vezes em que o telefone toca nos momentos certos. Quando estamos a ter uma conversa aborrecida, de circunstância (“Olá, como estás, o que tens feito, como está a tua mãe, o gato o piriquito, o raio que o parta?”, “O que tens feito? Já reparaste que o tempo está uma m****?”, “Viste o programa X no canal X? Como é que eles fizeram aquilo?”), quando estamos a ouvir um sermão (“Podias ter levado o lixo, porque é que não fizeste aquilo, onde é que puseste o sal, encontrei as tuas chaves no frigorífico, o teu cabelo está todo espigado…”), quando não há ninguém com quem conversar (*silêncio sepulcral*) ou quando nos apetece realmente falar com alguém.
Mas é assim a vida. Quase nada acontece como queremos que aconteça, não é verdade? Eu, por acaso, já penso duas vezes antes de atender. Felizmente agora a maior parte de nós depende mais do telemóvel (onde podemos identificar os autores das chamadas) e (ainda mais) felizmente podemos pô-lo em silêncio, a vibrar, desligá-lo, ou simplesmente rejeitar uma chamada… bendito seja o inventor dos telemóveis! Pena é que, provavelmente, qualquer dia o nosso cérebro parecerá um ovo cozido e mirrado de tanto estar exposto às (ainda supostas) radiações…
A vida não é justa, pois não?
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