Pânico a bordo

Às vezes parece impossível que o tempo passe tão depressa em alturas como esta, em que o pessoal quase não consegue fazer mais nada senão trabalhar para a faculdade e está demasiado ansioso para fazer qualquer outra coisa como comer, dormir, ver televisão, namorar, passear. Estamos constantemente a pensar no que temos de fazer a seguir, que mais trabalhos há na lista dos que ainda estão por fazer, o que temos de saber para os exames.

É por essas e por outras coisas que a juventude está cada vez mais deprimida, mais insatisfeita e mais inconformada. Não temos tempo para nós próprios, para podermos aproveitar a juventude. No outro dia estava com um grupo de amigos num café, a tentar injectar cafeína na vontade apocalíptica de ir para casa pôr o sono em dia, enquanto despachávamos alguns trabalhos pendentes e, de repente, começámos a falar das coisas de que tínhamos saudades. “Tenho saudades de estar com os amigos”, “tenho saudades de ver um bom filme no cinema”, “tenho saudades de não ter nada preocupante em que pensar”, “tenho saudades de sair à noite”. Não é triste?

Li num daqueles jornais grátis, na quarta ou na quinta feira, que o ensino português é dos mais fáceis e mesmo assim os estudantes queixam-se. Não vejo nada de fácil naquilo que ensinam, pelo menos na faculdade. Será que somos todos assim tão burros?

Há coisas que me irritam mesmo. Mas talvez esteja assim tão irritadiça só por ter de olhar para a pilha babilónica de cadernos, livros e folhas soltas de apontamentos, que estão por cima da secretária e que quase tapam a janela e proíbem o sol de entrar no quarto.

O tempo corre. Ainda nem fiz as compras de Natal e já só falta uma semana e meia para voltar para casa. Além disso, até lá tenho quatro exames para fazer, uns quantos trabalhos para entregar e duas actuações do Orfeão.

Até estou a imaginar uma ampulheta gigante, com a areia a cair incessantemente. Quem me dera poder derrubá-la para poder ter mais tempo…