Bolo de escritalate

Escrever bem é relativo. E aí reside a beleza da escrita.
Certamente há regras, mas não há regras ficas e não há pessoas que respeitem sempre essas regras. Graças a deus!!
Está certo que é preciso conhecer as regras para as desrespeitar. Mas como é que sabemos se as pessoas que desrespeitam as regras as conhecem, de facto? Como é que sabemos se Saramago sabe o que são sinais de pontuação? Eu sei que é patético, mas é apenas um exemplo e não é obrigatório os exemplos serem verdadeiros.
Infelizmente a maioria das pessoas não consegue afastar-se do que aprendeu na escola. Por isso, muito do que se lê por aí é incrivelmente enfadonho, por mais interessante que seja o enredo. Para mal dos meus pecados também eu me inseri neste grupo de pessoas que escreve consoante o que aprendeu e o que leu, até a algum tempo. Nos últimos tempos tenho ligado mais aos meus instintos e ainda que as minhas pseudo obras pareçam novelos intrincados de palavras sem sentido aparente e não prestem para entreter um velho moribundo e muito menos um surdo, pelo menos aprendi a escapar àquele livrinho de regras que todos (os letrados em geral) temos na nossa mente.
Para tornar mais óbvio o ponto a que quero chegar, prossigo o meu (intrincado… gosto desta palavra!) raciocínio.
Quando faço alguma coisa que implique seguir uma receita, nunca a consigo cumprir passo por passo, porque me parece sem graça e frio. Acrescento condimentos, corto ingredientes, reduzo tempos de cozedura.
O mesmo se passa com a escrita. Há que personalizar as coisas, caso contrário nunca haverá obras originais, seja em que campo artístico for (a culinária, pode mesmo ser uma forma de arte) e os livros parecerão filmes americanos. Sempre as mesmas personagens heróicas, sempre os mesmos vilões, sempre os mesmos happy endings. Boring!
Devemos tornar as coisas nossas e dar-lhe um ar da nossa graça.
Podemos sempre fazer bolo de chocolate sem usar chocolate. Basta usar a imaginação.

“Happiness is a sad song…”