E eis que cedo à preguiça de me deitar e ler um livro, enquanto uma outra vontade se aproxima de mim. Reler um outro livro da estante, já um pouco atulhada (graças a Deus), assim, como quem escolhe a maçã mais madura que há numa banca de frutaria. Não há nada como colocar de parte o livro que se está a ler, para adiar o tédio da leitura ou prolongar a ansiedade dos próximos acontecimentos narrativos um pouco mais, e partir para aventuras anteriores.
E eis que as minhas mãos tacteiam a estante mais próxima, acima do meu pescoço, e param numa lombada já conhecida pelos meus olhos, por estar presente em vários momentos que a minha memória decidiu guardar, mas ainda pouco conhecida pelos meus dedos [devido ao hábito de deixar o livro aberto em cima de uma mesa, enquanto me debruço, uma mão a apoiar o queixo e outra a folhear as páginas rugosas].
E eis que os meus olhos viram o título e permaneceram alguns segundos, pousados no longo 'L' e no 'o' logo a seguir. O negro da capa deixa entrever o conteúdo do livro. aacabo por ceder à leitura, pois se foi o acaso que levou as minhas mãos àquele livro, seria a minha vontade de o querer reler que me levou a abri-lo directamente na primeira página [já marcada pelo tempo e pelo uso].
«Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu da boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta. (...)»
«Segunda-feira. Manhã chuvosa. "Ces matins gris si doux...". O meu pijama branco tem um desenho lilás nas costas. Sou como uma dessas pálidas e inchadas aranhas que se costumam ver nos velhos jardins. Instalada no meio de uma teia luminosa e dando puxõezinhos a este ou àquele fio. A minha teia está estendida por toda a casa, enquanto eu escuto na minha cadeira, na qual estou sentado como um manhoso feiticeiro. A Lo estará no seu quarto? Suavemente, puxo a seda da teia. Não está. Ouvi há pouco o porta-papel higiénico emtir o staccato habitual, ao girar; e o meu filamento esticado não captou passos alguns, da casa de banho para o seu quarto.»
(Lolita, Vladimir Nabokov)
Ninguém me tira da cabeça que esta é uma das estórias de amor/obsessão mais bonitas que existem. Sim, é doentio um intelectual de meia-idade apaixonar-se por uma menina de 12 anos. Mas também é bonito. Narrado de forma brilhante, mas real, num tom quase irónico, de quem já não pretende esconder o seu lado sádico (mas inegável), é um dos livros que está sempre na minha estante, para reler algumas das suas partes sempre que o acaso assim o dita ou a minha vontade assim o demanda.
Não tenho vergonha de dizer que é um dos meus livros preferidos. Podia ter escolhido outros, mas nenhum relata um amor (quase) impossível da mesma forma que este.
Não há maior fogosidade de amor ou violência de paixão do que nos romances proibidos... [penso eu...]
"Happiness is a sad song..."
E eis que as minhas mãos tacteiam a estante mais próxima, acima do meu pescoço, e param numa lombada já conhecida pelos meus olhos, por estar presente em vários momentos que a minha memória decidiu guardar, mas ainda pouco conhecida pelos meus dedos [devido ao hábito de deixar o livro aberto em cima de uma mesa, enquanto me debruço, uma mão a apoiar o queixo e outra a folhear as páginas rugosas].
E eis que os meus olhos viram o título e permaneceram alguns segundos, pousados no longo 'L' e no 'o' logo a seguir. O negro da capa deixa entrever o conteúdo do livro. aacabo por ceder à leitura, pois se foi o acaso que levou as minhas mãos àquele livro, seria a minha vontade de o querer reler que me levou a abri-lo directamente na primeira página [já marcada pelo tempo e pelo uso].
«Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu da boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta. (...)»
«Segunda-feira. Manhã chuvosa. "Ces matins gris si doux...". O meu pijama branco tem um desenho lilás nas costas. Sou como uma dessas pálidas e inchadas aranhas que se costumam ver nos velhos jardins. Instalada no meio de uma teia luminosa e dando puxõezinhos a este ou àquele fio. A minha teia está estendida por toda a casa, enquanto eu escuto na minha cadeira, na qual estou sentado como um manhoso feiticeiro. A Lo estará no seu quarto? Suavemente, puxo a seda da teia. Não está. Ouvi há pouco o porta-papel higiénico emtir o staccato habitual, ao girar; e o meu filamento esticado não captou passos alguns, da casa de banho para o seu quarto.»
(Lolita, Vladimir Nabokov)
Ninguém me tira da cabeça que esta é uma das estórias de amor/obsessão mais bonitas que existem. Sim, é doentio um intelectual de meia-idade apaixonar-se por uma menina de 12 anos. Mas também é bonito. Narrado de forma brilhante, mas real, num tom quase irónico, de quem já não pretende esconder o seu lado sádico (mas inegável), é um dos livros que está sempre na minha estante, para reler algumas das suas partes sempre que o acaso assim o dita ou a minha vontade assim o demanda.
Não tenho vergonha de dizer que é um dos meus livros preferidos. Podia ter escolhido outros, mas nenhum relata um amor (quase) impossível da mesma forma que este.
Não há maior fogosidade de amor ou violência de paixão do que nos romances proibidos... [penso eu...]
"Happiness is a sad song..."
6 comments:
Sinto-me mal. Opa... eu que ainda leio Uma Aventura, chegar aqui e deparar-me com este cenário deplorável. É inadmissível que a menina escreva desta forma, com este jeito tão natural, como quem nem sequer precisa de pensar, como quem respira palavras...
Ai... *suspiro*
O amor é, quase todo ele, impossível. Neste caso é um dos casos mais bonitos e polémicos que já li. Não consigo perceber como é que alguém consegue juntar uma melodia tão romântica ao texto que narra... ele é um pedófilo, mas quase que sinto pena dele...
Não li, mas vi o filme do Stanley Kubrick.Não deve ser a mesma coisa, mas acho que posso por o meu dedinho neste assunto.
Meh, o homem é um nojento mas olha que a miudinha é uma assanhada. O que ela quer sei eu.
No fundo, há por aí mta miúda precoce e mts tipos que gostam de precocidades. Cada vez que me lembro da forma como ele descreveu as suas partes preferidas do corpo das ninfetas... meu deus. Que sádico.
No entanto... sim, é bonito.
Ai, ai... esse livro... estou para o ler há imenso tempo. E agora já sei quem me vai emprestar *grin*
Nunca li...
Mas acho que isto prova o quão perigoso pode ser a escrita de alguem quando se é capaz de tornar algo inaceitavel nao aceitavel mas não tao deploravel aos olhos dos outros...
Eu sei que nem tudo é preto e branco mas...
Olá:)
Quando li "Lolita" também me apaixonei pelo livro. Por estranho que pareça,a cumplicidade entre esse homem e essa ninfeta ultrapassou em muito os melhores livros de paixão e de erotismo que já li. A última coisa que me incomodou foi a percepção de uma pedofilia subjacente, talvez por não ter encontrado vulgaridade nem obscenidade nesse livro.
Espantoso, de facto.
Bj Citrus!
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