quantos indecisos andam agora por aqui

Friday, December 07, 2007

Uma espécie de nada II







Se fossemos eternos as nossas palavras ditas em silêncio durariam apenas o instante do nosso olhar. Como somos efémeros elas ficam, persistem e não nos deixam viver um instante sem que as recordemos naquele suspirar saudoso. Nada é eterno porque se fosse era tão injusto como nada ser, disseste-me uma vez. Nada ser eterno é o mesmo que dizer que as tuas palavras vão ficar aqui, no coração, para sempre.

Podia ser que sim, que me esquecesses e tudo fosse mais fácil. Podia ser que sim, que eu não me tivesse esquecido de como era ter-te ao meu lado enquanto via paisagem, fosse ela qual fosse, à minha frente, a esquivar-se dos meus olhos num jogo de esconde-esconde. Nenhum de nós cumpriu a sua parte, pois não? E ainda nos lembramos disso enquanto vamos passear por aí, enquanto contamos piadas e poemas quase na mesma frase, como quem não tem tempo para dizer tudo o que quer.

Se fosse fácil, tudo seria fácil e assim era difícil não nos cansarmos das coisas [da mesma forma que nos cansámos daquela música repetitiva e incessante que não nos saía pelos lábios fora e insistiam em rir de nós com aquele escarninho que nos fere por dentro]. Para nós não há o inalcançável e é aí que os nossos corpos vão contra uma parede dura, mais dolorosa do que o cimento; quando nos apercebemos da efemeridade do tempo e das nossas mentes.

Como mudámos os dois e como insistimos em mostrá-lo constantemente! Podíamos ter mudado o estilo da nossa roupa, ou o estilo do nosso olhar [numa tentativa de mudar a alma], podíamos ter mudado de café, de amigos, de janelas, de cortinas, de tectos e de chãos. Mas optámos por mudar a forma de sentir, que foi a coisa mais parva para se mudar.

Raramente se consegue mudar bem aquilo que se quer mudar. Mais depressa se muda aquilo que não se quer. Aprendeste isso comigo, não foi? Não é? O mundo está cheio de surpresas, como uma caixinha que tem sempre mais uma caixinha lá dentro. Se assim não fosse não te tinha encontrado na mesma esquina, aquela das conversas absurdas e não tinha esbarrado em ti [ou tu em mim] naquela ala de supermercado, aquela dos produtos surreis que se comem antes do pequeno-almoço, e não te teria encontrado na paragem do autocarro, aquele que vai para a Terra do Nunca.

Nunca perceberias o que sinto, porque sentes o mesmo que eu. É aí que somos diferentes... [e tão iguais]... porque quando chove não há uma primeira gota, mas um sem-número delas que cai de uma vez. Foi assim que começaram as nossas conversas. Todas de uma vez... e mesmo que quisesses que o céu derretesse ele não derretia. E mesmo que me perguntasses se podemos ficar aqui para sempre eu não te diria que o para sempre não existe. E mesmo que pudessemos tomar o chá depois da chuva, eu não te daria o meu preferido. Já somos demasiado iguais.

[por isso não me perguntes que horas são]


"Happiness is a sad song..."



8 comments:

Anonymous said...

Brilliant my dear! =D

Gosto da música, se bem que é indie demais para o meu gosto. No entanto combina bem (demais)com as tuas palavras. Saudosas e irritadas, talvez... ainda bem que te serves da catarse da escrita... os teus leitores assíduos agradecem...

Anonymous said...

Amiga (ou irmã), texto excelente, palavras maravilhosas, música altamente... enfim... gosto-te...

Anonymous said...

ainda bem que eu nunca te pergunto que horas são...

p.S.: para além do I love you já te disse que escreves muito bem? :P

Anonymous said...

isto foi com certeza um chá quente para a minha alma...

Raistlin The Wizard said...

Outro extracto do livro insondável de origem desconhecida.

Mais uma vez a história de X e Y ou X e X ou Y e X ou Y e Y. Mas uma vez pensamentos. Mais uma vez sentimentos.

Porém desta vez não me senti tão envolvido como no último extracto... algo não ressoou harmonicamente na minha percepção.

Ficarei a espreita de novos capítulos.

PostScriptum said...

O relógio parou com os ponteiros a marcarem 10.30 horas. talvez seja ausência de tempo porque não passa de inexistência.
Adoro como escreves. Mas isso já sabes.
Beijos

RDSER said...

Ola querida passando pra te ler.

Bjos doces e bom fim de semana.

lua prateada said...

Passei pelo teu cantinho e gostei e se gostei!...continua estás de parabens e estou de acordo contigo.Um fim de semana cheio de coisas boas...Beijinho prateado com carinho
SOL