quantos indecisos andam agora por aqui

Wednesday, January 02, 2008

Subúrbios


É sempre bom voltar aos subúrbios. Por mais prático que seja morar perto de tudo, numa cidade com cerca de um terço do tamanho de Lisboa, não há sensação mais aconchegante do que poder pousar as malas e ir dar uma volta e conseguir ver tudo aquilo a que estávamos habituados a ver todos os dias, em menos de uma hora. Onde mais posso encontrar um centro comercial onde consigo passear em dez minutos, sem contar com o supermercado [normalmente atulhado de pessoas]? E onde mais posso encontrar a maioria das pessoas senão no café de sempre?


Voltar aos subúrbios é um alívio. Pode ser pequeno e estar cheio de pessoas chatas e que querem meter o nariz na nossa vida e saber o que tenho feito e por onde tenho andado. Mas não há nada melhor do que ver as mesmas caras de sempre. Algumas envelhecidas, outras crescidas e outras com o mesmo ar de sempre.

Não há nada melhor do que chegar e sentir-me em casa depois de mais de nove meses por ano sem me poder acomodar a essa sensação. Por mais que o Porto seja a cidade onde reuni uma enorme quantidade de pessoas queridas, que é como quem diz amigos, não é a minha cidade. Por mais que sinta a nostalgia do Douro quando o vejo pela janela do autocarro é quando sinto o cheiro da velha Rio de Mouro, assim que saio do comboio, que me sinto em paz. Estar perto de Sintra faz toda a diferença. Espreitar pela janela da cozinha e ver o Palácio da Pena, por mais pequeno que seja e por mais que pareça que toda a serra pode caber na palma da minha mão. Faz toda a diferença, principalmente quando a vista que tenho da janela do quarto da residência universitária, no Porto, é uma escola, o parque de estacionamento improvisado das traseiras e um punhado de prédios cujos moradores nunca vi.




Estar perto da família também é importante. Mesmo que não esteja constantemente perto deles, pelo menos estou em casa, estou à mão e eles também. E no Natal sabe mesmo bem ter os papás e o mano por perto, nem que seja para nos irritarmos uns aos outros. E fazer o arroz de cenoura que o mano gosta [uma panela para a mamã congelar e assim ele comer sempre que queira até eu vir a casa outra vez] e bolos e outras inovações culinárias para perpetuar as nossas aventuras ao jantar.


E a Mimi, que está sempre por perto e cujos anos parecem não passar por ela. Dizem que os gatos têm muitas vidas e que muitos chegam aos vinte anos de idade. A Mimi vai viver até aos vinte e cinco, digo eu, quando o papá se queixa do miar estridente ou dos pêlos colados à roupa. Gosto de senti-la deitada ao fundo da cama, ou ao meu lado a ronronar alto.


Gosto de chegar e de receber telefonemas para ir tomar café, dos jantares até madrugada com os amigos, de almoçar no restaurante japonês [descoberta recente], do chá bem quente ao lanche, do cinema com os amigos do peito, de ficar até tarde a ler, ou de me apoderar da sala e enchê-la de apontamentos da faculdade [o meu sítio preferido para estudar] ou de chamar um ou dois amigos e acordar os meus pais com as gargalhadas às tantas da noite.


Também gosto dos longos passeios, principalmente por Sintra. Em dias de nevoeiro ou cinzentos, pois é aí que a beleza da serra desabrocha. Dizem que se bebermos a água de determinada fonte ficamos para sempre presos a Sintra. Eu bebi, um dia, sem o saber e talvez seja por isso que não me consigo fartar de ali estar.
Gosto de ver o ar maravilhado dos turistas e das queijadas da Piriquita ou de Sapa. E dos travesseiros. E de um bar cujo nome nunca decorei, cujo ambiente sempre me inspirou devido à decoração, inspirada em várias culturas. E gosto dos concertos de jazz, nas noites de verão, junto ao Palácio da Vila.


Há tantas coisas de que gosto! Se antes de ir para o Porto me assustava a rotina e me rodeava de actividades para preencher o próprio vazio do tempo, agora gosto de saborear os rituais, mesmo os repetitivos. Tudo me sabe melhor ao cubo. A distância faz-me degustar os momentos como se cada um fosse único. Talvez seja por isso que custa abandonar este ambiente.


Home sweet home never was never felt so real.



"Happiness is a sad song..."

6 comments:

Anonymous said...

Faz-me lembrar aquela música da Kelly Clarckson... Breakaway =)

Anonymous said...
This comment has been removed by the author.
Carlos said...

Olá
gostaria se mo permites de te dizer que , eu simples analfabeto,
senti um arrepio ao ler este texto.
é lindo é de uma veracidade e grandeza interior...
Sintra é lindo , eu adoro , é mágico...
Foi realmente aí em Rio de Mouro, que viveu ou ainda vive o meu primeiro amor.....



Um bom 2008
beijo

.diana.alves. said...

Que combinação de palavras aliadas a sentimentos tão estonteante!
Mais uma vez, gostei muito de deleitar o olhar com o que escreves:)*
p.s. Um óptimo 2008*

m said...

São os pequenos prazeres que a vida nos dá, não é verdade? Voltar às origens...

Bonito post! Gostei muito*

Beijinhos :)

APC said...

Sintra tem magia. Quem pode esquecer os "montes da lua?"
Beijos