Tornamo-nos amigos inseparáveis, companheiros, amantes, sonhadores, sarapintados de vontades, coleccionadores de toques e depois separamo-nos, pelo tempo ou pelo espaço, ou pelos dois, e fugimos, colocando mais distância entre nós e depois tudo recomeça. Uma e outra vez, de cada vez que as distâncias se dissolvem pela vontade de mais uma vez e uma outra e talvez de uma outra, mas tudo é diferente, porque estamos sempre a mudar. Quem me disse que somos camaleões de vontades tinha toda a razão, mas faltava-lhe dizer que somos também estúpidos precisamente pelo diletantismo dos da nossa espécie.
O que mais gosto em noites quentes, como estas que retornam sempre por esta altura do ano, é da brisa que vem das folhagens de Sintra, ou da maresia doce do rio Douro ou do perfume da fruta fresca e dos cantares dialectos dos confins de África. Extremas comparações dizes tu, mas eu passo a vida a comparar; comparo-te e muito, ou pensas que não?, comparo preços, amizades, passados, futuros, passados e futuros, livros, capas duras e moles, compromissos, lanches, comparo as estrelas, comparo a lua, comparo palavras, comparo-me ao meu reflexo. O que vejo sempre e mesmo sempre? Dualidades e paradoxos.
No fundo, no fundo, nunca seremos a roupa, mas sim o tecido; seremos as palavras e nunca a frase; seremos prazer mas nunca êxtase; seremos sempre dois e nunca um só. E hoje recordo sentimentos de infância, porque é aí que todos os paradoxos começam e porque cheguei hoje de casa e tenho tempo para recapitular [faço sempre isso na noite de regresso, quando sei que tenho que me rodear de pessoas e mais pessoas, daquelas que já estão guardadas num sítio especial], e lembro-me da luz de Agosto a invadir-me o quarto, e os livros empilhados e a Mimi de olhos fechados no parapeito e o teu punho fechado a bater à janela, como costumam fazer os meus amigos quando nos encontramos lá em casa e por causa disso, no dia seguinte os livros continuam lá empilhados, por arrumar.
E logo hoje que fui, depois de quase 15 anos, ao café da minha infância e o senhor Serafim, mais baixo e careca principalmente quando comparado com o irmão, (que por acaso serve melhor os cafés), esse senhor que me dava chupa-chupas sob o olhar atento do meu tio, reconheceu-me e lembrou-se do meu nome e a minha mãe fez questão de lhe dizer que estou a terminar o curso e ele fez questão de lhe dizer que me via sempre no vão da escada do prédio a conversar animadamente, mas que nunca mais tinha ido lá ao estabelecimento e eu corei, eu que nunca coro, por pensar que o senhor ia falar demais.
E, tudo isto, toda esta melancolia, mais uma vez nem sequer se justifica. Às vezes sou mesmo parva, não sou?...
"Happiness is a sad song..."
O que mais gosto em noites quentes, como estas que retornam sempre por esta altura do ano, é da brisa que vem das folhagens de Sintra, ou da maresia doce do rio Douro ou do perfume da fruta fresca e dos cantares dialectos dos confins de África. Extremas comparações dizes tu, mas eu passo a vida a comparar; comparo-te e muito, ou pensas que não?, comparo preços, amizades, passados, futuros, passados e futuros, livros, capas duras e moles, compromissos, lanches, comparo as estrelas, comparo a lua, comparo palavras, comparo-me ao meu reflexo. O que vejo sempre e mesmo sempre? Dualidades e paradoxos.
No fundo, no fundo, nunca seremos a roupa, mas sim o tecido; seremos as palavras e nunca a frase; seremos prazer mas nunca êxtase; seremos sempre dois e nunca um só. E hoje recordo sentimentos de infância, porque é aí que todos os paradoxos começam e porque cheguei hoje de casa e tenho tempo para recapitular [faço sempre isso na noite de regresso, quando sei que tenho que me rodear de pessoas e mais pessoas, daquelas que já estão guardadas num sítio especial], e lembro-me da luz de Agosto a invadir-me o quarto, e os livros empilhados e a Mimi de olhos fechados no parapeito e o teu punho fechado a bater à janela, como costumam fazer os meus amigos quando nos encontramos lá em casa e por causa disso, no dia seguinte os livros continuam lá empilhados, por arrumar.
E logo hoje que fui, depois de quase 15 anos, ao café da minha infância e o senhor Serafim, mais baixo e careca principalmente quando comparado com o irmão, (que por acaso serve melhor os cafés), esse senhor que me dava chupa-chupas sob o olhar atento do meu tio, reconheceu-me e lembrou-se do meu nome e a minha mãe fez questão de lhe dizer que estou a terminar o curso e ele fez questão de lhe dizer que me via sempre no vão da escada do prédio a conversar animadamente, mas que nunca mais tinha ido lá ao estabelecimento e eu corei, eu que nunca coro, por pensar que o senhor ia falar demais.
E, tudo isto, toda esta melancolia, mais uma vez nem sequer se justifica. Às vezes sou mesmo parva, não sou?...
"Happiness is a sad song..."
7 comments:
Não sei o que foi isto, um assomo de inspiração, um assomo de confidências, um assomo de parvoíce (?), mas gostei... acho que te abriste mais do que alguma vez o fizeste aqui no blogue. Estou enganado? Hum... não és parva às vezes, és quase sempre e é por isso que gosto de ti...
Beijo nessa bochecha (estás mais morena, ou é impressão minha?)
Parva nada. Alargaste as margens e deixaste soltar o rio da memória .
Não soube bem passera por ele ? Onde está a parvoíce numa coisa boa?
Um beijinho, noite feliz
revivi aqui , hoje ,imagens minhas...
que giro.
é tens razão, paletes delas, eu também me interrogo porquê a melancolia,quando as razões , não são verdadeiras razões...mas e se forem???? já não sei.
boa semana,
beijitos do charles
"No fundo, no fundo, nunca seremos a roupa, mas sim o tecido; seremos as palavras e nunca a frase; seremos prazer mas nunca êxtase; seremos sempre dois e nunca um só." Das frases mais bonitas que já li, das mais sentidas, das que têm a capacidade de resumir em meia dúzia de palavras o que sinto, e é sem dúvida, a frase que nestes últimos tempos me caiu melhor! Daquelas frases sem sarcasmo e cujas palavras frias que me refiro tornaram-se quentes e afáveis!
Estou deliciada Luna, mesmo deliciada. Parabéns por este momento! Parabéns pela pessoa que demonstras ser.
E lembra-te, tu não és parva. Não és mesmo.
Podes ser estranha. Isso sim. Por que isso, eu também o sou e revejo-me imenso nas tuas palavras. Mas parva... nunca!
Beijinho muito grande *
Olha, Luna: se há coisa que tu não deves mesmo ser, é parva!
E estranha (como diz a Marta), será porque não é frequente encontrar meninas da tua idade com tamanha sensibilidade, que te leva a valorizar cada momento (bom ou mau) e dissecá-lo até ao âmago.
Descreves a vida como se a tivesses vivido duas vezes.
Beijinho
*cough* *clears throat*
PARVA!
hehe
Sim 9 anos de convívio dão-me o direito de o dizer e quem não gosta que não leia (oh*)
Wunu, depois da conversa sobre metáforas que tivemos hoje vens com um post destes?
Seja de quem for que estejas a falar, de ti, do teu eu, do teu outro eu, do teu eu imaginário, de um amor, de um amigo, de um familiar, de uma memória, de um acontecimento, de um passado, de um futuro, de um presente... seja de quem for gosto de pensar que faço parte dessa melancolia e memória nem que seja por um bocadinho.
Adoro-te Wunu ^^
Odeio-te por me pôres a pensar e nostálgico também, especialmente porque hoje tive na nossa Algueirão Nº 2...
Happiness is a sad song with a cheerful tune."
G.S.,
acho que revelei bastante... e não, não estou mais morena (acho eu)...
Gi,
realmente é verdade... talvez a parvoíce seja eu achar que é parvoíce...
Carlos,
cada vez mais penso que a melancolia é como o destino: às vezes mostra-se, às vezes não, às vezes mistura-se com outras coisas, mas quase sempre é inesperada.
Martinha,
obrigado pelas palavras. penso que temos muitas coisas em comum e às vezes isso faz-me pensar nas coincidências com que me deparo... enfim, somos as duas estranhas e gosto disso =D (gosto de o ser e de encontrar mais alguém que o seja)...
By myself,
obrigado, principalmente por isto: "Descreves a vida como se a tivesses vivido duas vezes"... ^^ fiquei sem palavras!
Raist,
Happiness is a sad song with different tunes; sometimes cheerful, sometimes bittersweet and sometimes melancolic.
Já são nove anos?? Bom, eu odeio-te por teres ido à nossa Algueirão nº2...
E sim, seja de quem for que estou a falar... mas fazes parte das minhas memórias e não das melancolias, claro [you're the cheerful tune in my sad song]
Biju a todos e obrigado pela visita***
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