Profundo torpor, até à ponta dos dedos, a tamborilar no resquício de mesa que não está ocupado com papelada, com os nós a ficarem vermelhos. As pálpebras pesadas, pela noite atribulada e as gaivotas a debicar as janelas, e o torpor a alastrar-se à alma. Olho pela janela, para as traseiras de um prémio, mesmo à minha frente, as janelas fechadas para a chuva não entrar, pedaços de vida que se escondem por detrás dos vidros embaciados, a passar de vez em quando, como que a troçar da minha inércia. Sinto as lágrimas de um bocejo profundo, que não se quis esconder. Isto é a monotonia de quem já se habituou a uma rotina que é a falta de rotina. E o que acontece agora? Pode uma pessoa andar descontente a vida inteira por uma parvoíce destas? O sonho de ter dias a fio sem uma rede de segurança por baixo, o sonho de poder comandar os próprios sonhos, o sonho de não me deixar levar pelos sonhos dos outros, o sonho de escrever sobre os sonhos dos outros [apesar dos sonhos serem um mercado limitado], o sonho de ter sonhos adaptáveis à realidade, já que o contrário é quase impossível. Bom, e é assim. Detesto segundas-feiras.
"Happiness is a sad song..."
"Happiness is a sad song..."
4 comments:
Realmente era muito bom se os sonhos fossem adaptáveis à realidade, assim poderíamos viver de sonho. Eu também não vou muito com segundas-feiras... Bj*
Seria o sonho a comandar a realidade e não a vida. Há um peso qualquer sob as segundas, como se fosse um anti-sonho depois do fim-de-semana (aqueles em que não trabalho, claro).
Biju*
Sabes o que te digo? Há sempre sonhos se há palavras!
E há sempre palavras se há sonhos*
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