Memoires

Quando se tem insónias, pensa-se. No que se deve e no que não se deve. Pensa-se até à exaustão, mas a fadiga mental não faz dormir e então ficamos na cama a olhar para o tecto (ou no meu caso, para as estrelas do meu, imersas num negro profundo), à espera que o corpo se canse também. Agarro-me à almofada, como se fosse a Mimi e conto ovelhas, lebres, um lobo!, patinhos e tartarugas. Penso mais um pouco. Desisto e vou fazer um chá enquanto olho lá para fora pela janela da cozinha. O vento que tenta arrastar consigo as árvores, que assobia nas esquinas... e sinto a falta de coisas.

Vou para o quarto e leio, mas não me consigo concentrar nas palavras. Dedico-me à tarefa de terminar o chá, que queima na língua e deixa um travo agradavelmente amargo no fundo da boca. Deito-me outra vez, mas está frio e tenho que ir buscar outro cobertor. Deito-me e fecho os olhos. Adormeço. Tenho pesadelos como há muito não tinha, daqueles que nos põem perplexos quando acordamos, extasiados pela capacidade que o nosso sub-consciente tem para criar situações hipotéticas e imaginárias, mas ainda assim tão reais e aterrorizantes. Oh medo! Logo agora? Certezas se esvaem, como se já não fosse tão fácil perdê-las quando estou acordada... penso em coisas bonitas, mas as imagens dos pesadelos (foram dois) não me largam e tenho de me levantar.

E é quando me levanto que penso. Faltam três dias e quero aproveitar cada segundo desta casa, como se nunca mais fosse voltar. Quero guardar cada pedacinho na memória. Por isso sento-me a olhar para a confusão que está o meu quarto e levanto-me para contar quantos passos são precisos para ir da janela à porta e da porta à sala. É para aqui que volto entre cada viagem que faço, seja ela física ou imaginária...

"Happiness is a sad song..."