quantos indecisos andam agora por aqui

Friday, January 23, 2009

Canetas e devaneios


Vou acumulando canetas que gritam, desesperadas, para serem usadas de cada vez que pego nas folhas amarelecidas e lisas ou no bloco de notas, que foi perdendo páginas ao sabor de devaneios de última hora que interrompem sonhos sofridos. Elas gritam, como se estivessem em agonia. Mas escolho sempre a mesma, aquela que já conhece o calor dos meus dedos, o polegar e o indicador juntos numa dança, o anelar esmagado junto à palma e o pulso dorido. A mesma dança que ocupa folhas e folhas e acaba num crescendo de emoções. Tristes canetas.

Chega-me o rumor da chuva, o uivo do vento e por entre suspiros desenfreados vou fazendo da solidão o punhal com que rasgo a pele. Não sinto o frio que gela as paredes, nem a brisa que refresca as gotinhas que vão deslizando pelos vidros, apenas a melodia que se entranha no estado de espírito.

Oiço vezes e vezes sem conta, porque de uma assentada, escuto chuva e escuto piano. E de uma assentada recupero de um qualquer baú oculto por um pano bafiento, palavras e mais palavras que fui acumulando em cartas que não enviei. Leio e releio, numa vã tentativa de recordar sem sentir saudades. Os dias cinzentos trazem-me sempre as mesmas sensações, os mesmos sentimentos, os mesmos cheiros. E pedem-me sempre a mesma canção, aquela tocada em piano, baixinha para conseguir ouvir o resto da noite.

"Happiness is a sad song..."

3 comments:

Lunático said...

E eu grito, desesperado: Luna escreve um livro!

Podia dizer tanta coisa sobre o que escreveste. Tanta coisa sobre o que sentiste. Mas deixo-me ficar embalado pela música, já aprendi a confiar no teu gosto. Clair just like the lune =)

beijo meu*

m said...

Isto vai soar estranho, mas tenho saudades da ''mesma canção, aquela tocada em piano, baixinha para conseguir ouvir o resto da noite''

beijinhos

Anonymous said...

Genial essa música, assim como o teu texto. Da mesma forma que posso escutar a noite por cima ou por baixo da melodia, consigo ouvir a minha própria voz a recriar as tuas palavras no meu ar. Fiquei com falta de ar.