Tocatta and Fugue (remix) - Vanessa Mae
A caixinha não passava de um pequeno cubo de latão prateado, com estrelas e luas salientes. A ele, cabia na palma da mão. Eu peguei-lhe com esforço, por saber que ali estava o peso de um sonho e os sonhos são sempre coisas para pesar toneladas, pelo menos no peito.
“Que estória tão maluca!”, exclamou ele, depois de eu lhe ter explicado tudo aquilo que se tinha acumulado nos meus sacos lacrimais. “Quando penso que já nada mais te pode acontecer, há sempre mais alguma coisa que desafia os limites da normalidade”. E eu fiquei a olhar lá para fora, tentando distinguir pelos vidros embaciados os traços de um domingo tão cinzento e, acima de tudo, pedaços de vida normal. Mas até a realidade me parecia desfocada.
“Não acredito que ainda tenhas isto contigo, Luna”. E eu olhei para ele, tentando perceber o que quereria ele dizer com aquilo. “Devíamos tratar disso, para seguir em frente”. “Tipo um funeral?”, perguntei eu. “Sim. Senão nunca mais ficas em paz”.
Não sei se concordei e não sei se concordo. Mas deixei-me levar, sem olhar para a frente ou para trás, sempre com os olhos postos naquele rasgão de caminho que passava por nós, com os solavancos a incitar-nos a abrandar a velocidade. Em menos de um sopro estávamos naquele nosso sítio, de onde se vê o mar revolto, mesmo em dias bonitos, o que não era o caso, e eu limitei-me a inspirar fundo, trazendo para os pulmões o sal da maresia.
Perguntou-me se estava preparada e eu respondi que não. Mesmo assim, peguei na caixinha e despedi-me mentalmente de todos aqueles devaneios, tentando esquecer que cada um deles tinha saído de mim. Ajudou-me a retirar a tampa e a espalhar todos aqueles pedacinhos de algo que nunca foi pelo ar frio da manhã quase tarde. E lá foram eles, como filhos pródigos que se entregam ao resto do mundo, esquecendo por momentos de onde realmente vieram.
“Doeu?”, perguntou ele, pegando na minha mão gelada. “Sim”. “Mas vai passar. Sabes o que ajuda? O chocolate que te comprei ontem e a meia de leite que te vou preparar. Com muito chantilly. Ah e Bach, esse velho amigo. Anda, a minha casa está quentinha”.
Sabe bem ter por perto pessoas que nos ajudam a resolver questões que nem nós sabemos como resolver. No fundo, era mesmo disto que estava a precisar. Agora sim, recomeço. Obrigado L., pela ideia, pelo chocolate, pela meia de leite com chantilly, pela música, pela casa quentinha e pela pachorra paciência.
“Happiness is a sad song…”
2 comments:
não vieste à queiminha? :(
aconteça o que acontecer tu, gémea fofi és genial :) brilha sempre luninha :D *
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