Sobre tudo e sobre nada II

quando está calor e o ar fica parado por cima de nós, como uma nuvem abafada, tenho mais insónias do que o normal. procuro oxigénio pela janela entreaberta e espreito a mesma rua de sempre, como se ela fosse feita de coisas novas - na verdade, é quase sempre assim, porque há sempre um detalhe que se escapa ou alguma coisa que se transforma ou alguma coisa que, realmente, muda. às vezes tenho companhia - são esses os momentos em que me dou por feliz pela internet e todas essas tecnologias que não param de inventar e que diminuem as distâncias - e é aí que começam os problemas.

porque quando uma pessoa não consegue dormir, mas tem sono, raciocina de forma diferente. porque quando uma pessoa está ensonada, fica uma certa impressão de que a mente está a um passo de entrar no mundo dos sonhos e por isso mesmo o mundo parece surreal. porque quando uma pessoa não consegue conciliar o sono, mas consegue conciliar a memória a longo prazo, fica perdida em devaneios. porque quando uma pessoa não se sente capaz de dormir e tem companhia, há sempre uma parte dela que quer ficar acordada por mais um bocadinho de tempo. porque quando uma pessoa quer pensar, mas não quer pensar, e de repente lhe fazem uma pergunta, estilo cliché, mas não tão cliché pelos anos de convivência que já passaram por essa amizade-ou-lá-o-que-é, é impossível conseguir dormir. porque quando a pessoa tenta responder à tal pergunta, quando já nem sequer pensa no sono descobre coisas que nem ela sabia.

e então uma pessoa dá-se conta, assim do nada, que: há pessoas que pensam que nos conhecem, há pessoas que lá nos conhecem, há pessoas que nos vão conhecendo e... há pessoas que fazem com que nos conheçamos.

"Happiness is a sad song..."