cegamente

há dias, normalmente segundas-feiras, que me fazem lembrar um passeiozinho que há aqui perto de casa, sobejamente conhecido por ser uma casa-de-banho para cães, um caminho em que os fiéis donos alargam as trelas e deixam os bichos fazer o que bem entenderem, o que normalmente dá... bom, vocês sabem o quê. ora o caminho de que falo não foi agraciado de iluminação, nem sequer um postezinho daqueles que só iluminam num raio de 30 centímetros em volta da lâmpada.

o resultado é, pois, desastroso, para quem regressa do trabalho após o ocaso o que, no inverno, acaba por se traduzir em cinco dias por semana. há quem, como eu, se sirva do telemóvel para alumiar o chão, há quem tenha consigo uma lanterna em miniatura presa ao porta-chaves e há quem coajosamente prossiga caminho ao deus-dará. há segundas-feiras que me fazem lembrar esse andamento cego de quem acredita que não vai pisar nada para além do chão e depois acaba por ficar com a sola suja vezes e vezes sem conta. desvia-se de um cagalhoto e logo surge outro até que não hajam mais cagalhotos para pisar.

o pior não é o momento crucial, em que o sapato embate numa substância mole e mal-cheirosa e quase derrapa, o pior é mesmo ter de limpar a sujeira. isso normalmente fica para um cantinho de relva temporariamente imaculado ou um raminho seco que sirva de esfregão, pouco tempo depois, ou no dia seguinte, já com a parafernália caseira para limpeza-de-coisas-nojentas, no pior dos casos. e porque esta metáfora já começa a enjoar e provavelmente já apanharam o sentido do meu pensamento, termino por aqui, sentindo-me muito melhor por não ter deixado porcaria nenhuma para o dia seguinte e não chegar a casa a cheirar mal - sempre metaforicamente falando, uma vez que hoje tomei o caminho mais longo,já que, por me ter esquecido do telemóvel, não tinha com que iluminar o caminho. não houve, portanto, consequências muito graves nem fedorentas.

"happiness is a sad song..."