a minha rotina é a falta de rotina. talvez a única coisa definida seja o chegar ou o matar de saudades quando elas se acumulam - e para isso basta um dia, muitas vezes nem isso - mas tudo o resto é uma incógnita. depois de chegar, não sei o que vem, isso também é definido, e depois do matar de saudades vem a despedida, que também é definida pela antecipação da próxima vaga de saudades. o indefinido é bem mais precioso, como a chuva que não se espera. havia quem me conhecesse e soubesse prever que as coisas que eu olhasse vagamente, mas por período prolongado, seriam objecto de narrativas nalgum bloco de notas e havia quem se surpreendesse por narrativas sem aviso prévio e sem objecto aparente. agora ainda as há, mas há mais ainda quem não espere nada ou espere apenas palavras. isso eu sei dar. podia ficar a noite inteira a escrever palavras, sem razão ou ligação com a realidade.
quando não escrevo aqui, há um bloco de notas que se enche, especialmente no comboio, com a letra a tremelicar pelo frio matinal e pelos solavancos. melhorei, porque já conheço os solavancos de cor. e as paragens sem ser em paragens também. as obras junto àquela estação e a curva sinuosa. depois há a paragem final, onde os pingos de orvalho se acumulam nas goteiras e nas telhas e apanham a pele desprotegida pela gola da camisola que não chega até ao cachecol. há uma folha de papel com a tinta escorrida e a palavra "desejo" esborratada por causa dos pingos. entretanto aprendi a guardar o bloco assim que o comboio trava.
o bloco de notas está quase no fim e tenho medo de o colocar junto dos outros blocos de notas. são palavras e mais palavras juntas, amontoadas, sem sentido aparente. para mim fazem sentido, são traços de uma realidade, de várias realidades, que se vão esbatendo com o tempo e construindo um passado que vai ficando definido em folhas de papel. moleskines há três, todos naquelas capas castanhas, com o bolso interior cheio de bilhetes de comboio escritos por trás e guardanapos amarfanhados de palavras gatafunhadas por entre bebidas quentes. o papel dos moleskines sobrevive ao tempo e não sei se gosto disso. tenho um moleskine por usar, com a capa preta entreaberta e o elástico frouxo. gosto de blocos assim abertos em cima da secretária, são um conforto ao chegar a casa. uma das melhores surpresas que já me fizeram foi deixar abertos 21 blocos em branco em cima de uma mesa quando cheguei a casa com a moral em baixo. hoje não tenho a moral em baixo mas tive uma surpresa, jazida em rosa pálido em cima de um banco. as rosas são como blocos de notas abertos em cima da secretária. sabem a abraço e a beijo e a palavras. uma coisa que sabe a palavras vale mais do que mil imagens. uma imagem vale sempre mais do que mil palavras. hoje a imagem que tenho é a de nós escondidos do mundo, com a chuva a bater nos vidros. vale mais do que mil imagens, sendo que cada imagem vale mais do que mais de mil palavras.
blocos de notas não podia ser designação mais perfeita. só pelas palavras, cada folha seria um maço de notas, daquelas que movimentam o mundo. o engraçado é que agora poderia acabar todos os blocos que tenho guardados, por usar. mas tenho sono e amanhã tenho imensas palavras para escrever.
quando não escrevo aqui, há um bloco de notas que se enche, especialmente no comboio, com a letra a tremelicar pelo frio matinal e pelos solavancos. melhorei, porque já conheço os solavancos de cor. e as paragens sem ser em paragens também. as obras junto àquela estação e a curva sinuosa. depois há a paragem final, onde os pingos de orvalho se acumulam nas goteiras e nas telhas e apanham a pele desprotegida pela gola da camisola que não chega até ao cachecol. há uma folha de papel com a tinta escorrida e a palavra "desejo" esborratada por causa dos pingos. entretanto aprendi a guardar o bloco assim que o comboio trava.
o bloco de notas está quase no fim e tenho medo de o colocar junto dos outros blocos de notas. são palavras e mais palavras juntas, amontoadas, sem sentido aparente. para mim fazem sentido, são traços de uma realidade, de várias realidades, que se vão esbatendo com o tempo e construindo um passado que vai ficando definido em folhas de papel. moleskines há três, todos naquelas capas castanhas, com o bolso interior cheio de bilhetes de comboio escritos por trás e guardanapos amarfanhados de palavras gatafunhadas por entre bebidas quentes. o papel dos moleskines sobrevive ao tempo e não sei se gosto disso. tenho um moleskine por usar, com a capa preta entreaberta e o elástico frouxo. gosto de blocos assim abertos em cima da secretária, são um conforto ao chegar a casa. uma das melhores surpresas que já me fizeram foi deixar abertos 21 blocos em branco em cima de uma mesa quando cheguei a casa com a moral em baixo. hoje não tenho a moral em baixo mas tive uma surpresa, jazida em rosa pálido em cima de um banco. as rosas são como blocos de notas abertos em cima da secretária. sabem a abraço e a beijo e a palavras. uma coisa que sabe a palavras vale mais do que mil imagens. uma imagem vale sempre mais do que mil palavras. hoje a imagem que tenho é a de nós escondidos do mundo, com a chuva a bater nos vidros. vale mais do que mil imagens, sendo que cada imagem vale mais do que mais de mil palavras.
blocos de notas não podia ser designação mais perfeita. só pelas palavras, cada folha seria um maço de notas, daquelas que movimentam o mundo. o engraçado é que agora poderia acabar todos os blocos que tenho guardados, por usar. mas tenho sono e amanhã tenho imensas palavras para escrever.
"happiness is a sad song..."
1 comment:
Achei piada ao teu comentário relativo à tua origem...é engraçado como um filme pode mudar mentalidades. Uma das minhas melhores amigas tem origem goesa e também sentiu o mesmo que tu. As pessoas limitam-se a um mundinho só seu...e é mais facil associar as pessoas a esterotipos que criar ideias próprias...e de tantas lições que se podiam tirar do filme as pessoas por algum motivo bizarro só gravaram mentalmente o facto de eles dançarem...xD
Enfim...
Vou seguir o teu blog por perto...
obrigado pela visita ^^
Post a Comment