quantos indecisos andam agora por aqui

Wednesday, May 26, 2010

desabafos que me apetecem

o problema de hoje em dia é que a pessoas lidam diariamente com esse instinto tão pouco galináceo, mas tão patachoqueiro, que se ergueu da crise que é o de fazer omeletas sem ovos. por força da falta de meios ou por força da avareza. o que acaba por ser a mesma coisa, uma vez que o fim é o mesmo. fazer omeletas sem ovos quer dizer: quererem bom trabalho sem a recompensa devida. é pressuporem em vez de perguntar. é quererem pessoas com as mínimas habilitações possíveis para fazerem um trabalho perfeito, para o qual seria indicado uma pessoa com habilitações mais desenvolvidas. é acharem que as empresas se podem alimentar de estagiários que vêm e vão e recomeçam o mesmo ciclo de aprender - fazer – sair, vezes sem conta. é quererem estagiários que tenham a escola toda, quando muitos deles estão apenas a fazer dos programas de estágios aquilo que eles devem ser - formas de dar os primeiros passos no mercado de trabalho. é quererem dar mais responsabilidades e tarefas do que aquilo que devem a essas mesmas pessoas que estão a dar os primeiros passos e depois mal se podem mover tal o peso do trabalho que carregam. é quererem tudo por quase nada. é nunca estarem satisfeitos quando o que deviam fazer era agradecer. é não respeitarem cursos superiores como se ser estagiário diminuísse a carga educativa de mais de 15 anos (ou mais) a estudar. é não respeitarem quem tenha menos do que um curso superior por acharem cursos profissionais mais inferiores do que eles são. é quererem gente de cursos profissionais a fazer tarefas de quem tem cursos superiores. é quererem gente de cursos profissionais a fazer tudo e mais alguma coisa. é desperdiçarem por não terem tido a formação que têm os seus estagiários e não se darem conta de que é preciso investir para depois colher frutos, de que o barato sai caro, de que às vezes sai mais barato comprar novo do que reparar o velho, de que… para se fazer omeletas é preciso ovos e ainda pelo menos um par de mãos para fazer o trabalho.

é isto e muito mais. e o que é mais engraçado ainda é que deixei de encontrar anúncios com ofertas de emprego, para passar a encontrar milhentos anúncios com ofertas de estágio, como se um estágio fosse uma espécie de curso de onde provavelmente sairão tantos quantos saem das escolas e das universidades, que depois vão ter os mesmos problemas com que se depararam quando saíram dos seus cursos. o problema é o mesmo de sempre, aquele que tem aumentado a olhos vistos como uma sombra que se ergue sobre uma geração que, por força das circunstâncias se tornou pessimista, depressiva e desertora.

mais engraçado ainda foram alguns comentários que vi numa notícia online sobre o aumento do desemprego entre licenciados, que explicavam, como se fosse a coisa mais óbvia e racional do mundo, que a tarefa dos licenciados é criar empresas que depois vão dar emprego a pessoas com menos habilitações que eles. valerá a pena comentar?

isto é o que eu vejo: jovens desrespeitados, exemplos a serem generalizados, centros de emprego que não aguentam a quantidade de desempregados, pessoas trabalhadoras com o título [diminuidor] de estagiárias, estagiários que vão para empresas em que trabalham mais do que aquilo que está no contrato, estagiários que vão para as empresas ensinar mais do que aquilo que aprendem, cintos a apertar, jovens a partir, sociedade a envelhecer de idade e de problemas, incertezas e inseguranças, consequente falta de optimismo. sobre isto não tenho mais a dizer.

[tudo o que escrevi não é (apenas) proveniente da minha experiência, é fruto de muitas conversas, muitos fóruns, muitos artigos, etc.]


“happiness is a sad song…”

3 comments:

aquelabruxa said...

tudo por causa do dinheiro. continuo a achar que acabando-se com o sistema monetário acaba-se com tudo isto e muito mais.

Anonymous said...

E quando tens noção de que sabes mais do que o(s) teu(s) superior(es)? E és tratado como um colegial?

Unknown said...

És a maior. Sabes bem como me identifico. E vou partilhar este texto, se me dás licença!