dez anos depois

 foto roubada da Sara

então foi assim, eu tinha as pernas cansadas da viagem de mais de três horas, do trânsito que nos deu as boas-vindas à chegada e desiludida com o ar encardido da cidade. realmente só mesmo eu candidatar-me a uma universidade quase na outra ponta do país e sem sequer a conhecer! eu pensava, na minha ignorância, que o Porto era aquela coisa bonita que se vê em Vila Nova de Gaia, que é isso que mostram nas excursões. as pontes e o rio todo giro, o sotaque, a comida caseira.

depois fui ter ao pólo errado. acontece que jornalismo e ciências da comunicação, hoje ciências da comunicação: jornalismo, assessoria, multimédia ('coolmente' chamado ccjam) era noutro sítio, um edifício velho, de pintura a descascar e musgo nas paredes, mesmo junto ao edifício da faculdade de direito, tão linda, branquinha, a cheirar a nova (por momentos pensei que seria aí que funcionavam as instalações de jornalismo, que inocente era eu).

mas algo mudou. primeiro a saudação do querido Sr. Coelho (tenho saudades de o visitar na sua "toca" e de deixar lá o meu saco de viagem, quando vinha directamente para casa depois das aulas), depois a séria Ana Paula na secretaria, que revirou os olhos quando lhe disse que pensava que ia ter aulas na faculdade de letras, depois encontrar alguém da praxe e dar o meu nome relutantemente, depois passear pela cidade e alugar logo um quarto, tentar adivinhar o resto dos meus quatro anos (que se transformaram em três e tal) por aquelas ruas. e depois voltar para Lisboa e aguardar o início do ano lectivo enquanto fazia as trouxas.

e agora a faculdade fez dez anos, está remodelada, com novas pessoas, futuros jornalistas e assessores e multimédicos, mas por lá continuam os professores, os funcionários e os sítios. as ilhas de rádio, para onde íamos entre aulas fazer trabalhos e acabávamos em palhaçadas, o JPN onde passei três meses a escrever notícias online e a rir-me das manifestações vocais do Pedro Rios e a escapar-me para os ensaios de imprensa dos teatros para ver e fotografar peças em primeira mão, a cafetaria onde pedíamos torradas e deixávamos as partes do meio para o fim, a biblioteca ainda tão vazia, as salas de computadores (com que então agora há mais mac's?!) e aquelas aulas de que não me esqueço: inventar entrevistas com pessoas famosas e títulos bombásticos em certas aulas de imprensa; filmar cenas altamente embaraçantes para mim, que implicavam vestir-me de forma esquisita e ou cómica e fazer certos gestos e expressões; aquelas outras aulas a olhar para o computador e a) a cabeça constantemente a descair para cima do teclado b) ficar a olhar para o ecrã, para um programa qualquer que para mim era chinês, e perguntar para mim própria "erm... estou em jornalismo?";

e as amizades, aquelas pessoas com quem partilhei embaraços - ai os directos de televisão e ter que decorar um texto e dizer em frente a um espelho! - e bons momentos, em cafés e esplanadas a desabafar sobre o futuro, à noite em bares a descomprimir, em casa a fazer trabalhos, as pessoas que se foram conhecendo ao longo do curso e aqueles que se conheceram melhor depois e aqueles de que sente tanto a falta e pronto... estou nostálgica.

chega destas coisas. parabéns ccjam! (espero que não formes muitos mais, que não há espaço sequer para todos os que já formaste, hum?)

"happiness is a sad song..."