há uma qualquer diferença entre a minha geração e os adolescentes e pré-adultos de hoje em dia. por alguma razão, lembro-me de ser criança e de me deitar a altas horas da madrugada nas férias para acabar os t.p.c. o mais depressa possível e ficar com o resto do tempo disponível. lembro-me de receber 50 escudos por dia durante a semana e de poupar para comprar canetas de gel coloridas ou a revista Bravo. lembro-me de me levantar mais cedo e preparar uma sanduíche de queijo para o intervalo. lembro-me de poupar para ter um walkman e de gravar músicas da rádio para uma cassete, esperando ansiosamente pelo momento de carregar no botão com um círculo vermelho, depois do intervalo (no tempo em que rádio cidade tinha locutores brasileiros). lembro-me de acompanhar os meus pais ao café, de querer um pouco de tudo e de não pedir nada porque, bem, não precisava porque tinha muito (que agora é considerado pouco) em casa. lembro-me de ignorar programas parvos da televisão. lembro-me de serões com jogos de tabuleiro (mesmo quando tive o meu primeiro computador, a minha maior ambição era escrever nele e de tentar ganhá-lo no jogo de damas). sei que não sou a única, provavelmente a maioria das pessoas da minha geração se identifica com algumas destas coisas.
nada do que escrevi acima me foi directamente incutido, mas sim aprendido. chamam-lhe senso comum, eu chamo-lhe ter respeito. pela vida em geral, por quem me criou e deu um tecto e garantiu que eu conseguisse chegar onde cheguei fornecendo as bases necessárias.
acontece que eu não vejo isso nas crianças e nos adolescentes de hoje em dia. provavelmente está relacionado com o facto de terem nascido numa era em que uma peça de mobiliário, por exemplo, é muito mais barata do que um equipamento electrónico. o circuito da informação e do entretenimento, tão emaranhados que estão, é-lhes disponibilizado sem reservas. com isto quero dizer que eles acham que sabem tudo, inclusivamente que sabem mais do que quem os criou.
com isso perde-se o respeito, aquele que eu fui ganhando e que as crianças e adolescentes de hoje vão perdendo cada vez mais cedo. falo pelo meu irmão, por exemplo, que se comporta como se vivesse num hotel e os pais fossem empregados e ao mesmo tempo a fonte financeira para todos os caprichos que ele considera necessários à sua sobrevivência. falo dos miúdos que vejo no supermercado a pegarem em objectos coloridos e a colocarem no carrinho de compras mesmo quando os pais dizem que não. falo dos adolescentes que povoam a noite e bebem como se fossem adultos e continuam a comportar-se como crianças. falo da perda de respeito.
o pior é que um puxão de orelhas já não resolve o problema.
"happiness is a sad song..."
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