quantos indecisos andam agora por aqui

Friday, March 09, 2012

paradoxos vi

se há coisa de que gosto é de ver filmes de terror e filmes de acção, dos modernos, com efeitos especiais e movimentos de câmara estonteantes com uma banda sonora a acompanhar. por outro lado, tenho um soft spot relativamente a clássicos, seja em que suporte for [claro que em livro é sempre melhor]: estórias de épocas em que o óbvio não era óbvio, em que um pulso significava pele suficiente para se mostrar ao sexo oposto, em que o ruborescer das maçãs do rosto era maquilhagem suficiente para tornar uma mulher bonita, em que as cartas eram, elas próprias, estórias de encantar. 

Jane Eyre é uma das minhas heroínas da literatura preferidas, talvez porque haja nela algo com que me revejo. também gosto de Catherine Earnshaw; tal como as suas autoras são irmãs, as irmãs Brontë na vida real, ou Bell no mundo da literatura, também Jane e Catherine podiam ser, sob aquela forma de características opostas que os irmãos, não raras vezes, apresentam.

o filme Jane Eyre, de Cary Fukunaga, lembrou-me o gosto pelo gótico, pela aura melancólica com que as estórias de época decorrem, pelos diálogos mais elaborados que requerem um certo esforço de concentração que não é necessário nos filmes modernos e especialmente o gosto pelo não-óbvio. 

o livro, lembro-me, manteve-me acordada pela madrugada, presa às palavras e presa às páginas; o filme, este que vi, era suposto ser dividido em partes, porque não quis deixar que acabasse de uma assentada só. entretanto perdi-me na estória e esqueci-me do tempo, que são os dois principais poderes que os enredos mais brilhantes têm sobre nós.

pode ser que amanhã veja um filme de acção, com efeitos especiais e movimentos de câmara; no entanto, as estórias desses filmes vão-se perdendo, excepto com as semelhanças que as películas do género invariavelmente partilham umas com as outras e que fazem com que nos lembremos de certos pormenores. por outro lado, os clássicos serão sempre imortais e perdurarão na memória.

2 comments:

Gustavo said...

Partilho contigo esta dicotomia entre a força de um imediatismo furiosamente energético e a sedução de um não-óbvio que se vai apoderando de nós! Gladiator ou Mulholland Drive, Matrix ou Cinema Paraíso, Saw ou Mar Adentro, Avatar ou O Segredo dos teus Olhos, O Resgate do Soldado Ryan ou As Horas? AMBOS!!!

Anonymous said...

a isto se chamam de gostos eclécticos! =)