quantos indecisos andam agora por aqui

Wednesday, March 07, 2012

vizinhança

viver num prédio significa viver em comunidade mesmo que não se queira: quando um vizinho é dono de um cão, os moradores dos apartamentos limítrofes também são donos de um cão; quando um casal de vizinhos tem filhos, os moradores das redondezas também têm filhos. há, no entanto, uma diferença: os pobres dos moradores são apenas donos ou pais no que toca às características mais desagradáveis das criaturas dos seus vizinhos, seja o ruído, seja o odor.

há pessoas que não sabem viver assim, em convivência: por exemplo, se estou de saltos altos ou tenho nos pézinhos qualquer calçado que provoque barulho, descalço-me à porta, para que os meus queridos vizinhos do andar de baixo não tenham de ouvir Molière. não creio que os meus vizinhos de cima (já por aqui passaram alguns) tivessem a mesma consideração e eu muitas vezes pergunto-me se as minhas vizinhas têm gosto por andar de saltos dentro de casa; quando eu era pequena e os berlindes estavam na moda eu gostava de treinar em casa, mas os meus pais repreendiam-me e eu parava (o mesmo acontecia quando desatava a brincar com uma bola de ténis). os meus últimos vizinhos de cima parecem gostar do som de berlindes a cair no chão, a julgar pelo "toc toc toc" que ouvia constantemente em horário nobre e pós-nobre.

quanto aos cães, passando a questão do senso-comum que é ter um cão (grande) num apartamento (o meu vizinho do andar de cima, mas do lado oposto), quanto mais dois (os meus vizinhos de baixo), eu pergunto: que razões levam as pessoas a tornarem-se donas de um animal de estimação se são desprovidas de estima para com os animais? isto porque eu não entendo por que carga de água as pessoas decidem ter um cão ou dois quando sabem que não têm um horário desafogado para lhes fazer companhia e levá-los a passear ou têm um quintal onde os animais possam andar livremente, independentemente do seu tamanho. 

estando em casa um dia inteiro oiço o ganir e o ladrar dos dois cães dos vizinhos do andar de baixo (que nem sequer têm uma varanda) e noite-posta oiço o ladrar do cão do andar de cima que é fechado na varanda com a janela aberta.

para além disso, os vizinhos dos restantes prédios das redondezas que também são donos de cães adoram passeá-los bem junto aos canteiros dos prédios e criar verdadeiros museus de dejectos. se calhar é porque os sacos de plásticos agora não são gratuitos na maioria dos supermercados.

as pessoas, pelo menos as daqui do subúrbio, são autênticos animais.

2 comments:

Gustavo said...

Gosto muito da tua escrita, tão jovial e irónica que nem pareces uma "velhinha" de um quarto de século! As pancadinhas de Molière estão sublimes!!! :)

P.S. Espero que tenhas incluído o teu blog no CV!

Anonymous said...

hahaha =) obrigado!

por acaso tenho andado a pensar nisso, mas ainda não o fiz... não sei se alguns dos empregadores gostavam de ler algumas das coisas que tenho aqui.
é preciso ter cuidado com essas coisas...