Chegou a Primavera...

Chegou a Primavera, mas tu foste embora. Sou culpada por te deixar ir e sou culpada porque fui eu que te mandei embora.
Agora fico sozinha, a ver as flores desabrochar, a ouvir os pássaros cantar mais alto, a ver a lua no céu limpido.
Podia ter sido diferente, claro que sim. Mas eu sou indecisa e nunca tenho a certeza. E desprendo-me com muita facilidade, com a mesma facilidade com que me apego. As coisas desinteressam-me tão rapidamente, como se de repente, um sumo de morango soubesse a sumo de laranja e eu não gostasse de laranjas.
Estou aqui, mas não estou aqui, porque estou sempre a pensar em alguma coisa diferente. Se estou aqui há sempre algo que me faz estar na lua. Não sou despistada, apenas tendo dividir a minha atenção por demasiadas coisas. E por isso pareço ausente.
Sempre te ouvi e tudo o que disseste ficou guardado. Não penses que estavas a falar para as paredes, porque se eu fosse parede teria ouvidos e teria a atenção redobrada das cuscas das esquinas. Os teus conselhos ficaram guardados na gaveta dos conselhos e os nossos bons momentos ficaram guardados na gaveta das lembranças. As coisas más estão na caixa negra, no fundo do guarda-roupa, que foi onde sempre guardei as coisas que queria esquecer.
Chegou a Primavera apenas para te ver partir. Mas o meu coração tem resquícios de ti.
No entanto, mesmo que tentes recomeçar tudo eu não te deixo, porque prefiro ver-te partir a quereres que eu te torne no meu universo. Sou demasiado independente e sabias disso. Mesmo assim te quiseste aproximar...
E depois tentaste mudar-me. Mas o que tu não sabes é que nunca se deve tentar mudar a alma de uma indecisa, porque ela fica sempre dividida entre duas almas, quando podia ter uma completa e única. E unicamente completa. E quando podia ser ela própria.
Chegou a Primavera...

"Happiness is a sad song..."