Querido Mercúrio,

Ocorreu-me que nunca te escrevi uma carta, apesar de seres uma pessoa importante na minha vida. É que eu escrevo cartas a todas as pessoas que significam algo [de bom ou de mau] para mim. É claro que é um pouco difícil leres, de facto, esta carta, mas isso faz-me sentir mais aliviada, porque seria demasiado embaraçoso saberes o que sinto por ti. Desta forma, parece-me que fecho um ciclo, ao poder dizer livremente aquilo que penso sem ter que me conter pelas esquinas obscuras do meu próprio pensamento.
Cada vez que te vejo o meu coração gela. Não é paixão, nem medo. É algo que fica no meio desses dois sentimentos, o que me faz ficar ainda mais confusa quanto ao que sinto. Por um lado, a admiração, por outro o receio. Por um lado a obsessão em saber mais sobre ti e por outro... o querer manter a distância.
Não sei o que esperar de ti. Não sei se vais ser simpático ou se vais ser intolerante. Fico sempre na expectativa, imaginando o que farias nesta ou naquela situação, tentando, inclusive, colocar-me na tua posição.
Quando passaste por mim senti o teu aroma. Não cheirava a nada... quando me puseste a mão no ombro, pareceu-me que tinha sido eu própria a colocar a minha mão sobre o meu próprio ombro. Nunca te vi um sorriso sincero, nunca te ouvi uma palavra carinhosa e, no entanto, sei que por fora pareces interessado [e interessante] e atento, mas por dentro a tua mente viaja para lugares onde a minha imaginação não pode chegar. Um dia poderá, mas não agora...
Sei que com outras pessoas, fora deste mundo, longe destas paredes, és uma outra pessoa, com outros gostos, com outros olhares, com outros sorrisos e com outras vozes... pena que eu não possa chegar a esse outro mundo...

Curiosa e atenciosamente
Luna Tic


"Happiness is a sad song..."