Querido Mercúrio,

Vejo-te e fico fora de mim. Toda a gente repara, penso eu, enquanto caminho em direcção a casa. A Su perguntou-me o que se passava. Creio que consegui disfarçar, com palavras entrecortadas, aquilo que não queria dizer e ao mesmo tempo queria.
Hoje foste simpático. Quero dizer, não consegui distinguir se foste simpático ou apenas condescendente. Não percebi se foste cordial apenas porque tinhas mesmo de falar comigo e não querias demonstrar-te mal-educado.
Espero que não tenhas percebido o meu nervosismo. Ou a minha inquietação. Espero que não tenhas reparado no meu arrepio quando tocaste o meu ombro, num gesto amigável. Nem no ímpeto de me despedir e cortar os resquícios da conversa que ainda querias ter.
Mas fiquei e aguentei-me, sentindo as pernas fraquejar e o coração a querer saltar do peito. Sorri, apenas porque tinha de sorrir e acenei quando a voz me falhou... e disse apenas "Adeus" quando o que realmente queria dizer era "Até à próxima".
Receio que não haverá uma próxima vez, nem uma próxima oportunidade. Amanhã já me esqueci da tua voz, depois de amanhã a minha pele já perdeu o teu toque. Daqui a uma semana já terei encontrado outro alguém e tu apenas serás uma vaga imagem na gaveta das recordações...
Mas hoje quedei-me a olhar. Sentei-me de propósito em frente a ti, a alguns metros de distância e guardei todos os teus gestos comigo. Pelo menos hoje tenho um pouco de ti...

Curiosa e atenciosamente,
Luna Tic


"Happiness is a sad song..."