«Os jornalistas preocupados com a liberdade preocupam-se com a deontologia. Sendo que o dever ético dos jornalistas é livremente assumido e reconhecido por estes. De facto, a ética no jornalismo assenta na assumpção de que o jornalista pode escolher entre diferentes modos de agir. A possibilidade de escolha implica liberdade. Se o jornalista for forçado a, por exemplo, escrever de uma certa maneira, estará a ser amoral. A liberdade está validamente alicerçada quando assenta na ética e na responsabilidade social.
Quando o uso da liberdade é feito de forma abusiva pode implicar uma reacção de coacção dessa liberdade. Por isso, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, o debate deontológico alargou-se e aprofundou-se por todo o mundo. Os códigos deontológicos dos jornalistas nascidos da auto-regulação seriam um meio de evitar a ingerência política.(...)
(...) reportando-nos ao caso português (...) faz-se entre nós com excessiva frequência- e talvez com excessiva impunidade- um tipo de jornalismo atentatório de alguns direitos fundamentais de cidadania: o direito ao bom-nome, o direito à reserva de vida privada, o direito à presunção de inocência, até o direito (absolutamente básico) ao respeito pela dignidade pessoal.» (Ética e Responsabilidade Social dos Media, Paulo Faustino)
Infelizmente, para os nossos jornalistas, o conceito de liberdade de expressão e de serviço público está ligeiramente deturpado em relação aos valores que vigoram no código deontológico Mas o que fazer? Estamos num país que mal lê jornais. Os que mais se lêem são aqueles que tornam os factos mais interessantes. Como? Há adjectivos que tornam a nóticia sumarenta (um "muito" ou um "absolutamente" faz toda a diferença, lá nisso a madame Z tem razão...). As leis no que toca a fontes de informação dão espaço a pequenos ajustes ou incongruências que raramente são notadas. Sim, não se deve tomar como notícia uma informação vinda de uma fonte anónima, mas alguém se preocupou com isso quando veio a público uma carta de fonte não identificada mesmo antes de explodir o Caso Casa Pia?
Recordo o caso da minha colega, ilustre Kitty, que estava numa sala de espera (ainda esta semana) e das cinco pessoas que liam jornal (que imagino serem como um oásis num deserto de pessoas coladas à televisão ou às revistas cor-de-rosa... saliento o imagino, atenção) quatro tinham em mãos "O Crime" (o português é de tal forma traiçoeiro que se estivesse aqui a madame Z diria "Seus marotos!"). O que lia a colega, perguntam os leitores? Bem... não querendo embaraçá-la em público (como se este blog tivesse uma multidão como público), a cara colega tinha em mãos um jornal gratuito.
Na minha (reles) opinião, o problema está todo na (excessiva) liberdade. Atenção que já realizei um trabalho sobre Censura e este ano estou a braços com outro (eu e mais outras três... quero dizer, o Sérgio está connosco em qual dos trabalhos???) e por isso "conheço" os dois lados da questão. Permitir-me-ia dizer ainda que estamos numa época quase completamente oposto ao que foi a época do Estado Novo.
Adiante. Penso que o problema reside em não existir um Código Deontológico profissional universal, como existe em outras áreas, como a medicina ou a advocacia. E na falta de preparação ética dos gestores de informação (já que, diga-se de passagem, que muitos não frequentaram o ensino superior...).
Para além dessas duas graves lacunas, há demasiada impunidade. Todos os dias, e sem que muitos se apercebam, o suposto código de ética jornalística (cuja vertente jurídica foi realçada no passado dia 6 de Novembro... pronto, ninguém pode reclamar de nada porque ainda é muito recente) é quebrado por jornalistas sedentos de leitores. Não os recrimino por isso. Deve ser muito frustrante não ter leitores ou ter que recorrer a meios menos próprios para ter que captar a atenção.
Ninguém se preocupa com a vida das pessoas em questão, porque o público ávido está mais interessado em saber que número de calças usam, ou a marca de shampô, ou para onde vão nos tempos livres. Quem quer saber do direito à presunção da inocência, quando é muito mais interessante dizem que uma menina desapareceu e que os pais escondem informação, ou que os culpados são os próprios pais, ou só a mãe, porque quase nunca chorou? Quem quer saber do direito à privacidade quando é tão engraçado saber que o príncipe Carlos deixa (ou deixava, na altura em que saiu a notícia) roupa interior suja espalhada pelo quarto?
O direito a informar e ser informado, em conjunto com a responsabilidade social faz com que muitas vezes se passe directamente do interesse público para o interesse do público. Sim, uma palavrinha tão pequena como 'do' pode fazer toda a diferença. No fundo, o interesse público foi tomado como interesse (mórbido) do público e isso justifica todas as bodegas que são tomadas como notícias.
Para além de estranho país que não lê, somos também um país estranho que lê o que não deve...
"Happiness is a sad song..."
Quando o uso da liberdade é feito de forma abusiva pode implicar uma reacção de coacção dessa liberdade. Por isso, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, o debate deontológico alargou-se e aprofundou-se por todo o mundo. Os códigos deontológicos dos jornalistas nascidos da auto-regulação seriam um meio de evitar a ingerência política.(...)
(...) reportando-nos ao caso português (...) faz-se entre nós com excessiva frequência- e talvez com excessiva impunidade- um tipo de jornalismo atentatório de alguns direitos fundamentais de cidadania: o direito ao bom-nome, o direito à reserva de vida privada, o direito à presunção de inocência, até o direito (absolutamente básico) ao respeito pela dignidade pessoal.» (Ética e Responsabilidade Social dos Media, Paulo Faustino)
Infelizmente, para os nossos jornalistas, o conceito de liberdade de expressão e de serviço público está ligeiramente deturpado em relação aos valores que vigoram no código deontológico Mas o que fazer? Estamos num país que mal lê jornais. Os que mais se lêem são aqueles que tornam os factos mais interessantes. Como? Há adjectivos que tornam a nóticia sumarenta (um "muito" ou um "absolutamente" faz toda a diferença, lá nisso a madame Z tem razão...). As leis no que toca a fontes de informação dão espaço a pequenos ajustes ou incongruências que raramente são notadas. Sim, não se deve tomar como notícia uma informação vinda de uma fonte anónima, mas alguém se preocupou com isso quando veio a público uma carta de fonte não identificada mesmo antes de explodir o Caso Casa Pia?
Recordo o caso da minha colega, ilustre Kitty, que estava numa sala de espera (ainda esta semana) e das cinco pessoas que liam jornal (que imagino serem como um oásis num deserto de pessoas coladas à televisão ou às revistas cor-de-rosa... saliento o imagino, atenção) quatro tinham em mãos "O Crime" (o português é de tal forma traiçoeiro que se estivesse aqui a madame Z diria "Seus marotos!"). O que lia a colega, perguntam os leitores? Bem... não querendo embaraçá-la em público (como se este blog tivesse uma multidão como público), a cara colega tinha em mãos um jornal gratuito.
Na minha (reles) opinião, o problema está todo na (excessiva) liberdade. Atenção que já realizei um trabalho sobre Censura e este ano estou a braços com outro (eu e mais outras três... quero dizer, o Sérgio está connosco em qual dos trabalhos???) e por isso "conheço" os dois lados da questão. Permitir-me-ia dizer ainda que estamos numa época quase completamente oposto ao que foi a época do Estado Novo.
Adiante. Penso que o problema reside em não existir um Código Deontológico profissional universal, como existe em outras áreas, como a medicina ou a advocacia. E na falta de preparação ética dos gestores de informação (já que, diga-se de passagem, que muitos não frequentaram o ensino superior...).
Para além dessas duas graves lacunas, há demasiada impunidade. Todos os dias, e sem que muitos se apercebam, o suposto código de ética jornalística (cuja vertente jurídica foi realçada no passado dia 6 de Novembro... pronto, ninguém pode reclamar de nada porque ainda é muito recente) é quebrado por jornalistas sedentos de leitores. Não os recrimino por isso. Deve ser muito frustrante não ter leitores ou ter que recorrer a meios menos próprios para ter que captar a atenção.
Ninguém se preocupa com a vida das pessoas em questão, porque o público ávido está mais interessado em saber que número de calças usam, ou a marca de shampô, ou para onde vão nos tempos livres. Quem quer saber do direito à presunção da inocência, quando é muito mais interessante dizem que uma menina desapareceu e que os pais escondem informação, ou que os culpados são os próprios pais, ou só a mãe, porque quase nunca chorou? Quem quer saber do direito à privacidade quando é tão engraçado saber que o príncipe Carlos deixa (ou deixava, na altura em que saiu a notícia) roupa interior suja espalhada pelo quarto?
O direito a informar e ser informado, em conjunto com a responsabilidade social faz com que muitas vezes se passe directamente do interesse público para o interesse do público. Sim, uma palavrinha tão pequena como 'do' pode fazer toda a diferença. No fundo, o interesse público foi tomado como interesse (mórbido) do público e isso justifica todas as bodegas que são tomadas como notícias.
Para além de estranho país que não lê, somos também um país estranho que lê o que não deve...
"Happiness is a sad song..."
7 comments:
Às vezes assustas-me com o teu nem sei o quê... bolas... nunca tinha pensado nesse tipo de coisas, até porque sou o tipo de pessoa que só lê jornais desportivos (eu sei que já me disseste que há uns 4 e que é demasiado e tal...).
Eu, como leitor ou audiência, sinto-me particulamente mais interessado por coisas interessantes. Não quero saber de pormenores básicos e objectivos, quero saber os podres, porque é mais giro. Bom, estou a generalizar, porque na maior parte das vezes estou-me a... bem, não me interesso... mas ainda assim, as pessoas querem ler sobre a realidade, mas também se querem afastar dessa realidade... o que faz com que queiram saber pormenores que não interessam a ninguém (que paradoxo lol)...
De qlq forma... tenho saudades de posts de fotos...
O PRINCIPE CARLOS DEIXA ROUPA INTERIROR ESPALHADA PELO QUARTO??????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????
Querida Tic com Luna adjunto,
Calma filha, respira! Enfim faz-se o necessário para sobreviver e se alguns jornalistas se podem dar ao luxo de fazer um jornalismo de alto nível a maioria não pode, e ir contra um 'dado empírico' generalizado requer uma revoluçao cultural que penso já não existir nos dias de hoje.
Foi-se o sentimento de 'comunidade' por isso ninguém se junta ou involve em tais causas ou demandas. Talvez daqui a uns cem anos ou mais quando o nível de educação for maior talvez os jornalistas possam fazer aquilo que o seu trabalho originalmente requer, até lá... olha nem sei.
Quero contudo parabernizar-te pelo teu esforço e espero sinceramente que te seja dada a oportunidade de fazres um jornalismo de tao elevado nível crítico senão nos gostamos de ti à mesma. xD
Anyway, já viste como é difícil fazer os jovens pensar em tais assuntos quanto mais preocuparem-se com eles! A começar perto de nós quantos amigos consegues antever que teria uma opinião respeitável sobre o assunto ou sequer achariam tal tópico relevante?
Sabes bem que expressar o que penso não me foi facultado pelos deuses como algo fácil de fazer pelo que espero pelo menos tu teres compreendido um pouco do que quis transmitir.
ARRASA NO 'BODEGA'! VANESSA PARA PRESIDENT'a'!
Ai Luninha, Luninha... acho que o teu problema é pensares demais. Esquece as aulas, esquece o curso e esquece a tua futura profissão, que aliás, irás desempenhar como ninguém... exactamente como ninguém, porque as ideias que tens e a tua visão é só tua... tirando isto, esqueci-me completamente do que ia a escrever... mas pronto...
Concordo com o que dizes, mas por favor não te descabeles á conta disso... a gerência agradece...
Muito bom ^^
OY!
Eu gosto de revistas cor-de-rosa e pormenores sórdidos!!!!!!
Enquanto que temas mais sérios são sempre bons e bem-vindos há que relaxar e eu quero saber quem fez o quê ou deixou de mostrar o quê e bateu em quem!
É preciso ver a miséria dos outros para de algum modo vermos que não estamos mal de todos e quando isso acontece com uma celebridade ui jesus é festa!
O humano é sobretudo mesquinho e muitas vezes só está contente com a desgraça dos outros!
O problema é que as pessoas ou só se interessa pelas temáticas mais 'eruditas' ou só plo meio 'cor-de-rosa' não seria um ponto intermédio a plenitude?
Ai, que medo... escreves em grande e bem... mete mesmo medo... podias escrever muito e mal e assim uma pessoa tinha mais coisas a apontar lol.
"Na minha (reles) opinião, o problema está todo na (excessiva) liberdade"
A tua opinião não é reles, só é despropositada LOOOL... mas pronto, concordo em absoluto. Era umas chibatadas para pôr o pessoal todo no sítio...
Quem é a madame Z??????
"...ou só a mãe, porque quase nunca chorou?"
este raciocínio está brutal...
Congrats!
pronto, lá vou ter que comentar, uma vez que a minha consciência me empurra para tal...
"O direito a informar e ser informado, em conjunto com a responsabilidade social faz com que muitas vezes se passe directamente do interesse público para o interesse do público."
Esta frase é tua? Está demasiado... não sei... parece escrito por um sábio ou assim... mas bem, concordo. Ultimamente andam-se a explorar demasiado as emoções nos meios de comunicação. Isso talvez vá de encontro ao que é considerado jornalistico. Aliás, isso tem pouco de objectivo.
No entanto... as emoções aproximam as pessoas. Não quero fazer aqui ensaios parecidos com os teus (porque o tema do post dava, quase de certeza, para uma tese de mestrado), mas diria mesmo que estamos perante um pau de dois bicos...
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