quantos indecisos andam agora por aqui

Tuesday, January 22, 2008

Compressões de pensamento III

Sou melhor a inventar do que a descrever. No que toca a ficção, não deixa de ser bom. Mas no que toca ao meu futuro vou ter que resolver isto. “Mas ao inventares, estás a descrever o que te vai na imaginação.”, dizes tu. Sim, então reformulo o que disse. Sou melhor a inventar do que a descrever factos da vida real. Melhor assim? “Sim.”

Quando era pequena, tudo o que escrevia terminava quase no mesmo. O ou a protagonista acordava e apercebia-se de que tudo não tinha passado de um sonho. Talvez porque muito do que escrevia provinha de sonhos ou pesadelos, talvez porque eu acreditava que tudo aquilo não tinha passado de um sonho. Não sei bem explicar. Provavelmente, pensava que aquela seria a forma mais interessante de terminar as estórias. O meu colega de carteira fazia descrições incessantes. Aliás, enumerações que se demoravam languidamente em longos parágrafos de palavras escritas desordenadamente, bem à maneira de uma criança. Não sei porque me recordo disto, hoje. São estranhas, as minhas memórias. Vêem sem pedirem permissão, persistem, mesmo quando lhes peço para partir, e ficam gravadas na mente, quando preferia que se desvanecessem para sempre. Há memórias boas e más, mas há aquelas que simplesmente não são bem-vindas. Essas não precisam de convite.

Mas gosto das memórias da infância e adolescência, porque me trazem o gosto daqueles dias. Podia ficar um dia inteiro a pensar, naqueles dias. A minha mãe entrava no quarto e perguntava o que fazia eu, sozinha, com o livro aberto à minha frente [era hábito meu, naquela altura, fazer-me sempre acompanhar por um livro. Esse hábito persiste, mas não tão exaustivamente], a olhar para o espaço. Eu respondia que estava a pensar. E ela perguntava-me em quê. E eu respondia que tentava lembrar-me do sonho dessa noite ou qualquer outra coisa que, para a minha idade não soava a normal e que se repetia por diversas vezes, o que apoquentou os meus pais durante muito tempo. O meu irmão via e vê televisão e raramente abre um livro por opção própria. Creio que os meus pais se admiram de tamanhas diferenças entre parentes tão próximos. Eu própria me surpreendo, por vezes.

Bom, o hábito de fitar o vazio e pensar ainda persiste. Luna assenta-me que nem uma luva, porque é aí que se encontra a minha mente. Sempre na lua, diz a minha mãe, agora com suavidade e outrora em jeito de reprimenda. Não o consigo evitar. Se estiver muito tempo parada, frente a algo que não suscita interesse por parte da minha imaginação, é inevitável que o meu espírito comece a viajar, por lugares longínquos, por sítios inatingíveis. Deve parecer estranho, por exemplo para a Su, chegar e ver-me a fitar um horizonte que não existe. Já lhe expliquei e ela já percebeu, mas não consegue evitar olhar-me durante algum tempo até se aperceber de que, na verdade, é normal eu não ter reparado na sua presença no quarto.

“Já percebi o que queres dizer.”, dizes tu. Mas não entendeste, de facto. Porque me pedes para descrever o que vejo, nesses sonhos acordada, e o que sinto e o que me rodeia. Não o posso revelar, não sabes? Não posso e não quero. Não o podes perceber, da mesma forma como não consegues ler os meus pensamentos, mesmo que quisesses muito. “Fico-me pelas tuas estórias, então?”, sinto o teu olhar inquisidor e a tua mão na minha. “Pois claro.”, respondo eu com naturalidade.

"Happiness is a sad song..."

8 comments:

Anonymous said...

Belo e triste ao mesmo tempo, talvez porque eu próprio gostaria de ler alguns dos teus pensamentos, de vez em quando... mas não posso mesmo que queria muito, certo?

m said...

Para onde vão os nossos pensamentos no momento em que a nossa vista apenas alcança o vazio? Hmm.. parece que não sou a única a querer saber a resposta! ;)

Beijinhos

Anonymous said...

Quando era mais nova, também os contos que escrevia terminavam como os teus. Ainda hoje assim terminam... Talvez porque não consiga conceber uma história dessas no Mundo real... talvez porque gosto mais de imaginar aventuras etérreas... Talvez porque sei que, histórias dessas, só em sonhos... Talvez...

Fico-me pelas tuas estórias ;)

Beijos

.diana.alves. said...

E que as estórias continuem assim...perfeitinhas como até agora:)*

Carlos said...

Olá LUNA,

Entendo o que ,eventualmente sentes,...e sonhas...
Não pensas, por vezes que os outros se interrogarão: «será que ela é doidita ?»
Ainda bem que o pensamento é algo imparável....
Se mo permites , continua a fitar o horizonte.


bj

Carlos said...

Olá LUNA,

Entendo o que ,eventualmente sentes,...e sonhas...
Não pensas, por vezes que os outros se interrogarão: «será que ela é doidita ?»
Ainda bem que o pensamento é algo imparável....
Se mo permites , continua a fitar o horizonte.


bj

Carlos said...

Olá LUNA,

Entendo o que ,eventualmente sentes,...e sonhas...
Não pensas, por vezes que os outros se interrogarão: «será que ela é doidita ?»
Ainda bem que o pensamento é algo imparável....
Se mo permites , continua a fitar o horizonte.


bj

Carlos said...

desculpa , não sei o q se passou, para ir em triplicado,
forgive me, please