Janela (In)discreta V

E hoje choveu, depois de tantos dias de sol. Foi dia de acordar cedo porque o homem queria arranjar a porta, foi dia de fazer inventário no guarda-roupa, de beber chá de manhã, de ir ao tão temido exame e ver uma figura inexorável e escarninha, que teve a lata de perguntar como correu quando entreguei e que levou uma careta e que depois disse que ia tentar lançar as notas até à meia-noite para termos todos tempo de estudar no fim-de-semana, se for caso disso. Pena os olhos verdes e o nome começado por V. que ficam mesmo bem de blazer, de resto, mais nada escapa... e depois início de fim-de-semana com compras de supermercado e o ipod com o volume quase no máximo. E depois uma proposta irrecusável onde vi as "pessoas" do costume.




[dá-me sempre vontade de o consolar. sentar-me ao seu lado e perguntar o que aconteceu. afagar-lhe os cabelos. trazer o seu rosto até mim para lhe poder ver os olhos. desgosto de amor ou cansaço? pesadelos de noite ou fantasmas no armário?]



[a menina com o seu cãozinho a passear pelo bosque. sinto o cheiro de velhas fábulas e contos de fadas e logo me sinto envolvida pela nostalgia. sinto o crepitar das folhas sob os sapatos e o vento a sussurrar por entre as árvores.]





[encurralado e esquecido, chama por mim quando passo, como se também quisesse ficar eternizado. estás encurralado num espaço, nós estamos encurralados no tempo, não é G.S.? Foi com imensa honra que captei o seu olhar e me arrepiei, mesmo com a alvura da sua tez.]




[escondem-se os amantes, faces sombrias, beijos ofegantes e desperados. uma despedida? ela parece chorar, perdida de amores, e ele parece impelido a ir-se embora. um amor impossível? romeu e julieta? sob o crepúsculo do ocaso e escondidos do mundo, assim como nós, a olhar para eles...]




[ao sair dei por ele. mais ninguém pareceu reparar. para todos, não passavam de pedras esculpidas pelas intempéries. eu vejo obra humana. um choro no cascalho, afundado sob a pedra, pisado por todos. prometo olhar para o chão sempre que passar por aí. prometo cumprimentar-te como mereces. prometo afastar as folhas secas dos teus olhos, para que possas olhar sempre para o céu.]


Afinal não fiquei desiludida com a chuva. Gostei de a ter de volta e de poder olhar pela janela e ver os pingos a escorrer e o chão húmido e o céu escurecido. Gostei desta tarde, da companhia, do que vi, dos aromas e dos sabores que descubro sempre que vou para aqueles lados. Não há nada como brindar a chuva com um chá e o paladar com bolinhos de chocolate e a mente com uma boa conversa. Venham mais tardes assim... *suspiro*


"Happiness is a sad song..."