O problema de começar a escrever é parar. O problema de parar é recomeçar.
Não podia ter sido mais perfeito, aquele momento. Com a chuva a bater nas vidraças e eu sentada num daqueles sofás vermelhos que contrastavam com o negro das mesas. Uma chávena de chá perfumado, o queixo apoiado pela mão. O fumo do chá à frente das gotas de chuva, como uma cortina esvoaçante ou um fantasma. Vieram-me à memória palavras, breves palavras, para qualquer outra pessoa simples palavras, para mim o início de algo. Perscrutei os quadros com fotos de paisagens, retratos magníficos de tardes soalheiras ou de tardes escuras ou mesmo de crepúsculos.
Senti-me mal por me ter escapado ao trabalho [as crises no Bolhão, coisa que nunca tive grande vontade de pegar, e política, demasiada política para poder passar uma tarde descansada], mas na verdade a culpa nem era minha. Portanto, aproveitei a gazeta para fazer tudo aquilo a que não estava habituada a fazer sozinha. Ir a lojas e galerias, passear por ruas sujas e húmidas, parar para lanchar e ouvir os meus próprios pensamentos. Hoje o dia passou por duas fases, assim como eu. Primeiro acordou cinzento, com o céu pardacento e a ameaçar chuva, e continuou murcho até depois do almoço, na cantina, com pessoas com quem não estava há muito tempo, a sério. Mas, por entre um café e uma conversa de ocasião [não me apetece fazer nada; a mim também não; desculpa por não ter almoçado contigo; não te perdoo; mas eu vou lanchar contigo; está bem, estás desculpada, mas não é preciso], olhei pela janela e lá estava uma mancha luminosa e pálida. E depois, o ar aqueceu e eu resolvi sair, sem me despedir de ninguém.
Enquanto dedilhava a mesa, depois de ler tudo o que estava lá escrito, debaixo do tampo de vidro, sobre a canela e algumas ervas aromáticas e de perpassar os olhos pelo poema escrito a suspiros, perguntei-me porque não posso voltar atrás no tempo. Não é um desejo apenas meu, tenho a certeza. Mas eu gostava de voltar atrás, para os maus momentos, simplesmente porque tenho noção de que nem sempre aprendo com os erros. Que parvoíce. Esquecer-me do que fiz mal e do que sofri, para viver pequenos, minúsculos momentos bons, antes ou depois dos maus. Vale a pena? Bem, tem valido. Mas eu não tenho aprendido as lições. E sei que não as aprendo e continuo a tapar os ouvidos ao que diz o anjinho bom, sentado no meu ombro direito, para escutar atentamente o diabinho, no meu ombro esquerdo. Já passei por isto, penso eu, de vez em quando, quando a intensidade do 'déjà vu' me chega aos batimentos cardíacos, já estive aqui. E faço exactamente o que fiz da última vez, com todos os 'is' e com todos os pontos nos 'is'. Bolas, mas tem valido sempre a pena.
Hoje tive pensamentos nas entrelinhas. Desconfortável, pouco reconfortante, demasiado masoquista. Pensei no que já fiz e no que estou a fazer. Senti-me mal pelo erro que cometi e pelo erro que estava prestes a cometer. E então, desliguei o computador. Pronto, problema resolvido. Adiei o problema. Não resolveu tudo, mas aliviou-me o espírito. Às vezes penso demais. Devia ser mais impulsiva. Tenho sempre tendência a responder 'não' de início. Depois penso no assunto e resolvo se é mesmo 'não' ou se afinal é 'sim'. Hoje foi 'não', um daqueles redondos.
[mas foi um dia 'sim', um 'sim' bem esticadinho...]
"Happiness is a sad song..."
Não podia ter sido mais perfeito, aquele momento. Com a chuva a bater nas vidraças e eu sentada num daqueles sofás vermelhos que contrastavam com o negro das mesas. Uma chávena de chá perfumado, o queixo apoiado pela mão. O fumo do chá à frente das gotas de chuva, como uma cortina esvoaçante ou um fantasma. Vieram-me à memória palavras, breves palavras, para qualquer outra pessoa simples palavras, para mim o início de algo. Perscrutei os quadros com fotos de paisagens, retratos magníficos de tardes soalheiras ou de tardes escuras ou mesmo de crepúsculos.
Senti-me mal por me ter escapado ao trabalho [as crises no Bolhão, coisa que nunca tive grande vontade de pegar, e política, demasiada política para poder passar uma tarde descansada], mas na verdade a culpa nem era minha. Portanto, aproveitei a gazeta para fazer tudo aquilo a que não estava habituada a fazer sozinha. Ir a lojas e galerias, passear por ruas sujas e húmidas, parar para lanchar e ouvir os meus próprios pensamentos. Hoje o dia passou por duas fases, assim como eu. Primeiro acordou cinzento, com o céu pardacento e a ameaçar chuva, e continuou murcho até depois do almoço, na cantina, com pessoas com quem não estava há muito tempo, a sério. Mas, por entre um café e uma conversa de ocasião [não me apetece fazer nada; a mim também não; desculpa por não ter almoçado contigo; não te perdoo; mas eu vou lanchar contigo; está bem, estás desculpada, mas não é preciso], olhei pela janela e lá estava uma mancha luminosa e pálida. E depois, o ar aqueceu e eu resolvi sair, sem me despedir de ninguém.
Enquanto dedilhava a mesa, depois de ler tudo o que estava lá escrito, debaixo do tampo de vidro, sobre a canela e algumas ervas aromáticas e de perpassar os olhos pelo poema escrito a suspiros, perguntei-me porque não posso voltar atrás no tempo. Não é um desejo apenas meu, tenho a certeza. Mas eu gostava de voltar atrás, para os maus momentos, simplesmente porque tenho noção de que nem sempre aprendo com os erros. Que parvoíce. Esquecer-me do que fiz mal e do que sofri, para viver pequenos, minúsculos momentos bons, antes ou depois dos maus. Vale a pena? Bem, tem valido. Mas eu não tenho aprendido as lições. E sei que não as aprendo e continuo a tapar os ouvidos ao que diz o anjinho bom, sentado no meu ombro direito, para escutar atentamente o diabinho, no meu ombro esquerdo. Já passei por isto, penso eu, de vez em quando, quando a intensidade do 'déjà vu' me chega aos batimentos cardíacos, já estive aqui. E faço exactamente o que fiz da última vez, com todos os 'is' e com todos os pontos nos 'is'. Bolas, mas tem valido sempre a pena.
Hoje tive pensamentos nas entrelinhas. Desconfortável, pouco reconfortante, demasiado masoquista. Pensei no que já fiz e no que estou a fazer. Senti-me mal pelo erro que cometi e pelo erro que estava prestes a cometer. E então, desliguei o computador. Pronto, problema resolvido. Adiei o problema. Não resolveu tudo, mas aliviou-me o espírito. Às vezes penso demais. Devia ser mais impulsiva. Tenho sempre tendência a responder 'não' de início. Depois penso no assunto e resolvo se é mesmo 'não' ou se afinal é 'sim'. Hoje foi 'não', um daqueles redondos.
[mas foi um dia 'sim', um 'sim' bem esticadinho...]
"Happiness is a sad song..."
7 comments:
Hum... "Não podia ter sido mais perfeito, aquele momento"... identifico-me com esta frase...
Perfeito, perfeito seria as tuas palavras prolongadas até ao infinito. Nada é mais doloroso do que chegar a meio dos teus textos e sentir já que está a terminar...
Eu também penso demais, e ainda tenho o dia só para mim para tirar. Preciso de um day off!
Grande texto.
Beijinhos
Gostei, tal como sempre. Deste, talvez um bocadinho mais. Simplesmente porque me revi em (muitas) das tuas palavras. E que palavras as tuas!
Um beijinho*
chama-se personalidade, e não cometer os mesmos erros outra vez.
teimosia pode ser bom!
Luna, viver é uma arte :) Não vejo os erros como uma lição mas sim como mais um traço no esboço daquilo que será o retrato da nossa vida. Por isso, prefiro arrepender-me daquilo que não faço... pois é menos uma nota na minha sinfonia :)
Beijocas e boa semana
Minha querida amiga, a arte da vida suplanta-nos e surpreende-nos. é sempre bom perder-me na miriade das tuas palavras.
sábias.
beijos
olá,
Aos poucos vamos aprendendo com os erros.
Mas qual o problema? toca a andar para a frente, que atrás vem gente...
tudo de bom
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