I should have met you in the 80's

Tento concentrar-me mas o calor não deixa. Acuso todos os que praguejaram contra o tempo farrusco de que eu tanto gosto. Mas lembro-me que hoje há noite há festa, apesar de ser quinta e de entrar às oito na sexta. É que tenho que aproveitar agora, que tenho mais flexibilidade de horários e de chefinhos, porque quando for estagiar para o outro sítio, mais profissional, vou ter de ter rédea curta em mim mesma. Nunca mais chega a hora de sair. Telefono, telefono, telefono. Não obtenho respostas. Não me interesso pelo tema, apesar de ser de cultura, a área em que mais gosto de escrever.

Saio mais cedo, com o Historiador, livro genial, debaixo do braço e sigo pela mesma rua de sempre, maldizendo a hora em que vesti aquela sweatshirt com o 't' escrito, que resultou em piadas e em conversas recheadas de totós, tansos, tarados, trampolins, trapezistas, tombos, tcharam's, tadadadam's e essas coisas infantis que àquelas horas da manhã sabem tão bem quanto rir dos títulos de alguns jornais. Sim, é engraçado sermos patetas, porque estamos fartos de ser sérios e de pedir seriedade e queremos rir, porque nos faz falta.

Quando chego ponho conversa em dia e tenho direito a uma sesta, que me faz acordar de um sonho estranho, como são sempre os meus sonhos quando durmo antes de jantar, e seguimos para a faculdade de economia onde nos esperava lasanha de bróculos como prato vegetariano, e depois vamos para o e-Learning Café onde nos regozijamos nos 'puffs', como se estivessemos demasiado cansadas para prestar atenção ao resto do mundo. Depois, esperar que a Su tomasse banho e seguir para o "O meu Mercedes é maior do que o teu", no carro comercial da Sandrine. Sim, dois lugares para três e eu lá vou eu, não no porta-bagagens, mas na parte minúscula que divide o porta-bagagens e os assentos. Consegui encaixar-me lá, ajustando-me ao carro e não ao contrário como costuma ser e seguimos viagem para a ribeira, sempre tão nostálgica nestas noites quentes.


[gosto de fotos desfocadas, principalmente de momentos divertidos como este, da pequena guerra entre a Sandrine e a Su, com a Sónia lá pelo meio... e os puffs tão confortáveis para descansar e para guerrinhas...]


[tentando não aparecer...]



Não sabia que gostava de tantos êxitos dos anos 80. Não sabia que ia gostar tanto do sítio, quase escavado na pedra, pequeno mas engraçado, com um segundo piso interessante, de onde podemos apreciar melhor a parede onde são exibidos filmes mudos. Festas de Erasmus são sempre engraçadas, penso, enquanto vejo chegar etnias a atirar para o escandinavas, cabeças loiras e pronúncias desconhecidas para mim. Rimo-nos do brasileiro no fundo das escadas, a observar atentamente as raparigas a subir, como que hipnotizado. Ele que depois acabou por dançar mesmo ao nosso lado, de forma bastante caricata, assim como o seu amigo de cabelos encaracolados. Ao nosso lado, porque quando se tratou de dançar eu e a Sandrine não nos fizemos de rogadas e fomos para o meio do pagode de pessoas que não paravam quietas ao som da música. Infelizmente, na maior parte delas, só sabia os refrões, mas cantei na mesma, com lalala's e assobios, enquanto tentávamos não ser arrastadas pela força da pequena multidão e espreitávamos por entre as pessoas para ver onde estava aquele dos olhos verdes que também nos procurava com o olhar. Noite quase fantástica, quase porque podia ser menos curta, mas ainda assim muito divertida porque parecia haver gente de todo o mundo ali, como aquele vestido de motoqueiro (talvez a tentar condizer com os 80's?) que esbarrou em mim e que disse "Sorry love!" com uma pronuncia algo irlandesa e o "Escuzzi" de uma rapariga quando quase entornou cerveja para cima de mim (parece que tenho um íman) e o pedido de desculpas entredentes de outro rapaz quando eu tropecei nele...

Mas acabou rápido, tão rápido... chegámos tarde, mas cedo, durmi três horas e fui a correr para não chegar atrasada à reunião e fiquei com a escritura pública do Health Cluster, que pensei eu, fosse apenas uma formalidade, mas que albergou surpresas. Como o ministro da economia, que não era esperado na cerimónia a falar no púlpito e secretários de estado e os representantes de todas aquelas empresas e instituições e eu ali, pequena e a sentir-me como um alien, a amaldiçoar o facto de não me ter esmerado para me vestir, ao ver todas as pessoas de fato, as mulheres bem maquilhadas, e olhei para os ténis, sujos da noite anterior. Mas safei-me, apesar de me sentir deslocada, com o presidente de alguma coisa ao meu lado a abanar a fila de cadeiras, enquanto tentava escrever no meu caderno de notas a precisar de ser substituído e a tirar fotos de vez em quando, porque nós estagiários temos de nos desdobrar...

Ainda tenho os anos 80 na cabeça... às vezes, muitas vezes, penso que nasci na época errada...


"Happiness is a sad song..."