quantos indecisos andam agora por aqui

Sunday, February 15, 2009

Como despachar uma encalhada*

Convidarem uma rapariga solteira para um jantar de encalhados, dizerem para não levar ninguém a acompanhar, para ela chegar, cheia de expectativas de uma noite bem passada com amigos, e deparar-se com o seguinte cenário: uma mesa comprida com 6 casais. Sim casais. Encalhados à vista? Um. Do sexo oposto ao meu. Assim que ela entrou, percebeu logo o esquema. Um arranjinho. Daqueles bem subtis (notar a ironia). Será que a protagonista desta estória ficou feliz e contente? Não, claro que não. O que ela queria nessa noite de paz e sossego com amigos e amigas. Nada de amor. Só amizade. Difícil de perceber? Não creio. A fórmula para uma noite bem passada, com tanta lamechice e coraçõezinhos no ar espelhados por aí neste dia, é fecharmo-nos em casa com pessoas a quem queremos bem, para uma conversa, alguma dança talvez, um ou dois jogos, boa comida e bebida, boa-disposição e, acima de tudo, orgulho em ser-se solteiro ou independente. Sim, a protagonista desta estória é a Luna. Que ficou logo de mau-humor e tentou arranjar uma forma de escapar àquele ser que lhe foi impingido. Uma breve nota aos seres semelhantes: esforçarem-se demasiado é um contra, definitivamente. O esforço, muitas vezes implica falta de autenticidade e não há carinha e corpinho bonitos que valham quando assim é. Sejam como são, porque mais vale descobrir a verdadeira natureza das pessoas logo no começo, do que ir percebendo aos poucos, enquanto a máscara vai sendo arrancada a pouco e pouco. Se é para não gostar, que seja logo no começo. Não pelo caminho.

No entanto, não sou mal-agradecida. Obrigado pelo esforço. Mas devo dizer que, por agora, gosto de ser encalhada. Obrigadinho, mas mais vale só que mal acompanhada. Não estou sozinha, se me tenho por companhia. E peço desculpa por me ter escapado à primeira oportunidade. Não me contive. Não escondo que fui sair com outras pessoas, não inventei nenhuma catástrofe familiar nem nada.

Fui sair com um grupo de oito (creio que eram oito, mas já não tenho a certeza) solteiros, todos homens. Descobri que prefiro a companhia masculina em noites de festa. Descobri que não gosto de ir à casa-de-banho em bandos de raparigas, prefiro ir sozinha. Descobri que estou a ficar velha para estas coisas, o que não me impediu de dançar toda a noite. Descobri que tenho um íman para bichas, já que há sempre uma que decide roçar em mim enquanto dança como uma galinha louca (não me estou a queixar, já que o sítio estava tão apinhado que seria impossível dançar sem bater com a anca na pessoa que estava ao meu lado ou com o rabo na pessoa que estava atrás). Descobri que há um certo tipo de shots que nos fazem perguntar se não seria mais fácil emborcar álcool etílico puro. Descobri que o melhor da vida é divertirmo-nos quando pensamos que a noite está estragada. (Re)Descobri que as mulheres são muito complicadas. Descobri que não é preciso muito esforço para ter uma noite memorável. Descobri que devia ter nascido homem, já que me sinto deslocada neste género a que pertenço (como se já não fosse suficiente sentir-me um alien no meio das pessoas). Descobri que dançar faz desaparecer os problemas, nem que seja por algumas horas.

Para além de tudo isto, que são lições para a vida inteira, encontrei uma pessoa que consegue aturar-me e ainda tem paciência para andar comigo em carrocéis (os efeitos do álcool já tinham passado, era mesmo eu que queria andar em carrocéis para crianças de seis anos) quando o s
ol está prestes a nascer e ainda me vai pôr a casa comigo de olhos abertos mas já no sono REM e percebe-me mesmo que o que eu diga não faça sentido. Claro, tinha que ser um homem. Uma mulher chamar-me-ia louca e deixaria de falar comigo no dia seguinte (falo por experiência própria).

Definitivamente, sou uma pessoa cheia de sorte no meio de tantos azares. Sou também demasiado descomplicada. Mas, de qualquer forma, sou da opinião que a vida não deve ser levada a sério. Os problemas, sim. A vida, não. Se ela zomba de nós, zombemos nós dela e com ela também. Há tantos pensamentos filosóficos que nos ocorrem às tantas da madrugada enquanto o co
rpo pede descanso, mas a vontade de dançar é demasiado forte para pararmos. Ontem afugentei todos os males e azares com a boa-disposição que foi surgindo mal me vi rodeada de pessoas que parecem partilhar comigo a mesma vontade de liberdade. Hoje é dia de descanso, de pôr a leitura em dia, de recuperar conversas, de me desculpar também, de tomar muitos cafés para manter os olhos abertos, de ouvir música mexida e repescar memórias, de fazer o jantar com o volume do ipod no máximo enquanto se agitam os músculos doridos.

Foi um dos melhores dias de São Valentim de sempre. Venh
am mais, seja só ou acompanhada.






*qualquer coincidência com o filme com o nome semelhante é pura realidade

"Happiness is a sad song..."

6 comments:

Anonymous said...

Foi com boa intenção, de certeza. Os teus amigos só querem o teu bem. Mas não percebem que estás bem sozinha. Ao menos divertiste-te. Já tinha reparado que não és normal. É por isso que és especial =) uma mulher descomplicada. Nem acredito que estás solteir... independente, quero eu dizer. Ah, é porque queres, certamente =p

Temos de ir sair os dois, um dia destes e dançar até cair xD

Beijo meu

Anonymous said...

Btw as tuas pernas estão muito magrinhas, mulher. Toca a comer mais donuts ;)

m said...

Primeiro, muito obrigada pelo teu comentário! Sei/sabemos muito bem do que falas e orgulhamo-nos disso. Não há nada melhor do que esta liberdade e nós sabemo-lo bem. God bless us! E devo dizer que foi dos melhores comentários que já me fizeram.. mais uma vez obrigada por teres sido tu! :D

Segundo...
O dia de S. Valentim é o que eu chamo uma grande chachada. Já vi muitos casais todos ''kikinhos'' no dia 14 e dia 15 já se odeiam e acaba o conto de fadas. Que tristeza, que grande falsidade! E também acho que o dia de S.Valentim tem que ser passado com os amigos (de preferência todos solteiros) que é para não sermos testemunhas de tanta lamechice, se faz favor e obrigada. Por isso acho que fizeste muito bem. É irritante quando nos tentam arranjar parzinho...!!! Não percebem esta coisa de independência...
E sair com um grupo só de homens é bem melhor do que ver certas e determinadas coisas que muitas vezes nos dão a volta ao estômago. A tua noite foi grande e ainda bem! Com amigos e mais amigos. E é assim que deve ser! :D

Beijinhos

Sandra said...

Que venham mais dias assim Luna :D como vês não precisamos de estar "acompanhados" para nos divertirmos à grande. O que importa mesmo é não estarmos sozinhos. Apesar de eu acreditar que se me desse na cabeça sair sozinha ia acabar por encontrar alguém que me ia fazer valer a pena o resto da noite.. Não podemos é desanimar. E os resultados são todos estes que postaste hoje :D!
E ainda bem que te divertiste, isso é que importa!


Um beijinhoooo

Sandra said...

Luna tens um desafio no meu blogue :D*

_+*Ælitis*+_ said...

Como adorei este post! nunca me aconteceu, ser convidada para um blind date '(que no final, nada tem de blind hehe).

Também acho que mais vale so do que mal acompanhada. E que o que tiver de acontecer tem de o ser, sem tanto esforço...

Beijo meu ♥,

A Elite