Cá estamos. Vivos, ou assim o pensamos. De candeias às avessas. Mas isso já é normal. Confusos. Mais normal ainda. Indecisos. Claro, senão não seríamos nós. E então o que falta? Qualquer coisa que não se sabe definir, quanto mais nomear. Pensamentos muitos, conversas mais que muitas, planos a curto prazo e músicas trocadas ao cair da noite. Assim somos nós.
Dantes procurava nos outros traços de mim própria. As semelhanças davam-me prazer. Gostos partihados, sorrisos parecidos, gargalhadas mútuas. Num repente, fartei-me de tudo isso. Passei a procurar - se é que alguma vez andei a vasculhar personalidades - diferenças. Oposições, antagonismos, distinções. Discussões, críticas, desembaraços. E tudo isso me dá mais prazer do que as semelhanças que vou encontrando.
Continuo à espera de diferenças gritantes. No entanto, acabo sempre por encontrar pequenos traços de mim nos outros. Seja uma ou outra música que nos faz chorar, um ou outro livro que nos fez sorrir, um ou outro filme que nos fez pensar. Somos todos tão parecidos. Feliz ou infelizmente não há muito que nos distinga. Inclusive e principalmente no que toca aos erros que vamos cometendo ou medos que vamos ganhando ou superando.
Mas hoje, por alguma razão, apenas vejo antagonismos. Por exemplo, tu tomas o chá com açúcar e eu tomo sem. E preferes filmes com legendas, enquanto que eu prefiro prestar atenção às bocas e às expressões. E consegues ficar calmo em situações enervantes, enquanto que os meus nervos dão de si. E não tens medo, quase nunca, enquanto que eu tremo e suo e choro. E és sério quando falamos os dois, enquanto que eu não consigo deixar de sorrir. E tens as mãos quentes, enquanto que as minhas estão sempre geladas, à procura de bolsos quentes ou de luvas polares. E falas de tudo e mais alguma coisa, enquanto que o silêncio toma conta de mim, mesmo que eu te queira dizer coisas que me fazem pensar. E não gostas de silêncio, porque pensas que há alguma coisa que está mal. E sabes dizer coisas certas em horas certas, enquanto que eu fico enredada em mim própria, à procura de palavras. E não adormeces nem deixas de ficar alerta quando a noite vai caindo pelo horizonte abaixo, enquanto que eu apago e não consigo abrir os olhos.
E, por alguma razão, nunca discutimos. É isso que nos falta. Discussões acesas, antagonismos atirados à cara, críticas sem fundamento. Se calhar nenhum de nós gosta disso - terei encontrado alguma coisa em comum? Ou se calhar estamos demasiado apegados ao que nos difere. Encontramos nas nossas oposições o subterfúgio de que precisamos para sobreviver. Toma o ananás da minha pizza, passa-me os pimentos que não vais comer da tua. Dá-me as mãos que tenho calor, dá-me as mãos que tenho frio. Calma, não chores; chora tu por mim. Dás-me o açúcar do teu chá?, dás-me a casca de limão do teu?
Podíamos ter discussões muito engraçadas, se quiséssemos. Mas podemos ser felizes assim, que é o que queremos a sério.
"You can erase someone from your mind. Getting them out of your heart is another story"*
Vamos apagar o que nos difere e fazer disso o que nos é semelhante. Seja na mente ou no coração, pode ser?
*quote from the movie Eternal Sunshine of the Spotless Mind
"Happiness is a sad song..."
Dantes procurava nos outros traços de mim própria. As semelhanças davam-me prazer. Gostos partihados, sorrisos parecidos, gargalhadas mútuas. Num repente, fartei-me de tudo isso. Passei a procurar - se é que alguma vez andei a vasculhar personalidades - diferenças. Oposições, antagonismos, distinções. Discussões, críticas, desembaraços. E tudo isso me dá mais prazer do que as semelhanças que vou encontrando.
Continuo à espera de diferenças gritantes. No entanto, acabo sempre por encontrar pequenos traços de mim nos outros. Seja uma ou outra música que nos faz chorar, um ou outro livro que nos fez sorrir, um ou outro filme que nos fez pensar. Somos todos tão parecidos. Feliz ou infelizmente não há muito que nos distinga. Inclusive e principalmente no que toca aos erros que vamos cometendo ou medos que vamos ganhando ou superando.
Mas hoje, por alguma razão, apenas vejo antagonismos. Por exemplo, tu tomas o chá com açúcar e eu tomo sem. E preferes filmes com legendas, enquanto que eu prefiro prestar atenção às bocas e às expressões. E consegues ficar calmo em situações enervantes, enquanto que os meus nervos dão de si. E não tens medo, quase nunca, enquanto que eu tremo e suo e choro. E és sério quando falamos os dois, enquanto que eu não consigo deixar de sorrir. E tens as mãos quentes, enquanto que as minhas estão sempre geladas, à procura de bolsos quentes ou de luvas polares. E falas de tudo e mais alguma coisa, enquanto que o silêncio toma conta de mim, mesmo que eu te queira dizer coisas que me fazem pensar. E não gostas de silêncio, porque pensas que há alguma coisa que está mal. E sabes dizer coisas certas em horas certas, enquanto que eu fico enredada em mim própria, à procura de palavras. E não adormeces nem deixas de ficar alerta quando a noite vai caindo pelo horizonte abaixo, enquanto que eu apago e não consigo abrir os olhos.
E, por alguma razão, nunca discutimos. É isso que nos falta. Discussões acesas, antagonismos atirados à cara, críticas sem fundamento. Se calhar nenhum de nós gosta disso - terei encontrado alguma coisa em comum? Ou se calhar estamos demasiado apegados ao que nos difere. Encontramos nas nossas oposições o subterfúgio de que precisamos para sobreviver. Toma o ananás da minha pizza, passa-me os pimentos que não vais comer da tua. Dá-me as mãos que tenho calor, dá-me as mãos que tenho frio. Calma, não chores; chora tu por mim. Dás-me o açúcar do teu chá?, dás-me a casca de limão do teu?
Podíamos ter discussões muito engraçadas, se quiséssemos. Mas podemos ser felizes assim, que é o que queremos a sério.
"You can erase someone from your mind. Getting them out of your heart is another story"*
Vamos apagar o que nos difere e fazer disso o que nos é semelhante. Seja na mente ou no coração, pode ser?
*quote from the movie Eternal Sunshine of the Spotless Mind
"Happiness is a sad song..."
4 comments:
Até me doeu...
"E és sério quando falamos os dois, enquanto que eu não consigo deixar de sorrir. E tens as mãos quentes, enquanto que as minhas estão sempre geladas, à procura de bolsos quentes ou de luvas polares. E falas de tudo e mais alguma coisa, enquanto que o silêncio toma conta de mim, mesmo que eu te queira dizer coisas que me fazem pensar."
Lamento informar, mas identifico-me... Mas não leves isto a peito, como uma característica comum =P
Beijinhos Luna
LY
Oh Luna.. era tão bom se tudo fosse como quisessemos, não era? :')
mas se todos quisermos, conseguimo-lo!
beijinhos
Mas vê Luna, se não fossem as nossas semelhanças nunca nos teríamos conhecido e duvido que nos dessemos tão bem =)
Gostava de ter uma outra semelhança contigo. Acho que sabes a que me refiro :x
Beijo!
Eu ainda estou na fase do ''procurar semelhanças'', apesar de tremer de cada vez que algo é demasiadamente parecido comigo.
Também gosto de confrontos, de oposições, de gostos totalmente diferentes. Ao menos, quando isso acontece, aprendemos a valorizar muito mais o outro e claro, nós mesmos. Será que também me vou fartar das semelhanças? Curiosamente, queria experimentar essa tua fase. Acho que preciso disso!
Beijo grande
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