La petite fille de la mer - Vangelis
Às vezes gostava de não ter esta estranha necessidade de escrever sobre tudo e mais alguma coisa. Por exemplo, deixar as memórias instalarem-se suavemente, sem ter de as escarafunchar em palavras sem valor que se note. Por mais que queira resistir, há coisas que ficam tão mais doces em caligrafias cursivas, a tinta preta numa folha de papel ou num diário de capa de camurça preta já meio cheio [ou meio vazio - depende do estado de espírito]. Ou num bloco de notas virtual, onde se retificam alinhamentos e espaçamentos, tipografias e tamanhos num layout escolhido a gosto [que é exactamente o que estou a fazer].
Gostava de guardar apenas em lembranças tardes em que se tem tempo para tudo, menos para se ver filmes; em que ficam presos às almofadas os cheiros e os suspiros; em que se colam à pele os beijos e as palavras; em que se confunde o sonho e a realidade, debaixo de um céu estrelado; em que o mundo fica fechado lá fora, a sete chaves, senão mais; em que o sabor que fica na boca não é só o meu; em que as gargalhadas se soltam de mim ao som de onomatopeias trancadas na pele; em que o calor chega de fora até ao coração ou até à alma.
Talvez escreva para nunca me esquecer que há dias como este e que há emoções assim. Ao escrever, os sentimentos ficam agrafados à memória e é difícil que saiam. É isso.
"Happiness is a sad song..."
3 comments:
sim, escrever é gravar os acontecimentos para sempre, também tenho essa necessidade. e parece que depois de os escrever já posso esquecê-los na memória (que, coitada, já não dá para tudo), sabendo que os tenho guardados de outro modo.
A tua escrita é tão docemente poética que até me provoca deliciosos arrepios neuronais e outros que tais...
que somos nós sem as palavras? :)
beijinhos
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