quantos indecisos andam agora por aqui

Wednesday, June 10, 2009

Mais um ano (warning: post cheio de lamechices subliminares)

Era uma vez uma rapariga de 19 anos que descobriu um café simpático e acolhedor no meio de uma cidade e que decidiu fazer dele um ponto de referência.

Era uma vez um rapaz de 21 anos que trabalhava em part-time num café simpático e acolhedor no meio de uma cidade e que ocupava as horas vagas a ler, quando não havia clientes à vista.

Por alguma razão, de todas as vezes que a rapariga ia ao café, o rapaz estava lá, atrás do balcão, com a cabeça baixa e os olhos postos nas páginas. Por alguma coincidência, sempre que lhe apetecia tomar café, ele lá estava a trabalhar.

Por alguma razão, ele soube exactamente a forma como ela gostava do café, mesmo antes de a conhecer. Por alguma coincidência, até quando ela lhe pedia cappuccinos ou meias de leite, ele sabia como fazê-los sem precisar de perguntar. O único senão eram as chávenas, sempre demasiado escaldadas. Mas ela esperava pacientemente que elas arrefecessem, porque tinha vergonha de pedir chávenas frias.

Depois de algum tempo, ela passou a levar os livros da faculdade para o café e passava muitas horas debaixo da luz alaranjada, ao ritmo das músicas que ele escolhia.

Depois de algum tempo, ele passou a fazer-lhe companhia e quando o seu turno terminava ia sentar-se na mesma mesa que ela, com o seu livro, sem (precisar de) pedir autorização.

Durante algum tempo, nenhum dos dois falou. Ambos gostavam da companhia, mas preferiam não estragar o silêncio, por medo ou embaraço.

E então um dia ele teve coragem para lhe perguntar o nome. E ela teve então coragem para perguntar o nome dele. E ficaram a saber como encetar conversas, pois o nome é também uma forma de denunciar identidades.

Do nome partiram para as origens de cada um e depois daí para gostos, muitos em comum, e depois daí para livros e depois para músicas e então ela teve coragem de lhe pedir que não escaldasse tanto as chávenas. E ele teve coragem para dizer que apenas o fazia para que ela ficasse mais tempo no café. E ela teve coragem para lhe dizer que bebia devagarinho porque nunca lhe apetecia sair dali.

Algum tempo passou. Ele cresceu e tornou-se o adulto que nunca quis ser, ela cresceu e deu trambolhões e de todas as vezes ele estendia-lhe a mão para que ela se levantasse. Juntos, partilharam filmes a preto e branco, livros com as capas engelhadas, poemas de autores estrangeiros, músicas que iam descobrindo, luares em muitos lugares, sorrisos, bebidas com cafeína, conversas intermináveis, amigos, sítios especiais, chocolates, silêncios e, acima de tudo, partilharam a alma.

E da última vez que saíram juntos, numa manhã fria e parda, para ver o mar, sem trocar palavra, ela pensou que aquele era um dos seus amigos mais preciosos. E deu-lhe a mão gelada para ele a aquecer e perguntou-lhe como estava ele. E ele respondeu que estava feliz porque naquele dia fazia três anos que se tinham conhecido.

E hoje faz 24 anos aquele rapaz que não queria crescer, mas que, sem querer, se tornou o adulto mais especial que a rapariga conheceu. E a rapariga está triste, porque o rapaz está longe dela e ela não lhe pode dar um abraço e um beijinho na testa e dizer-lhe "Parabéns por existires".

O mais que a rapariga pode fazer é escrever no seu diário virtual o quanto gosta dele e esperar que ele veja.

"Happiness is a sad song..."

7 comments:

Lunático said...

Era uma vez um rapaz que adorava ler os escritos devaneantes de uma criatura lunática e indecisa, que adorava contar piadas parvas só para ouvir o seu riso cristalino, que guardava sempre os melhores bombons para lhe oferecer só para ver o seu enorme sorriso, que adorava partilhar filmes a preto f, livros com as capas engelhadas, poemas de autores estrangeiros, músicas que iam descobrindo, luares em muitos lugares, sorrisos, bebidas com cafeína, conversas intermináveis, amigos, sítios especiais, chocolates, silêncios e, acima de tudo, que adorava partilhar a alma.

Era uma vez um rapaz que tem pena de não poder estar junto da criatura lunática para receber o seu beijinho na testa e escutar no ouvido as suas palavras.

Era uma vez um rapaz que gosta muito da criatura lunática e indecisa, mesmo apesar das lamechices e indecisões.

beijo meu*

Lunático said...

Obrigado Luna. Estás guardada no coração*

Anonymous said...

Era uma vez uma rapariga que ficava toda babada com comentários tão fofos =) também estás guardado no coração*

aquelabruxa said...

que fixe :)

" e então ela teve coragem de lhe pedir que não escaldasse tanto as chávenas. E ele teve coragem para dizer que apenas o fazia para que ela ficasse mais tempo no café "

:)

Anonymous said...

Às vezes, pessoas que não nos conhecem, adivinham aquilo que nos apetece =) uma boa companhia...

Sandra said...

meu Deus, tá lindo :| amaãe. Escreve um livro!!!! Ai, ainda por cima uma história real, aiii! :| *.*

Beijinhoooo *

By myself said...

A carta de amor mais linda e original que me ocorrer ter lido.

Lindaaaaa.
Beijinhos e felicidades