quantos indecisos andam agora por aqui

Tuesday, June 23, 2009

Não conseguir dormir dá nisto...devaneios

Tinha escrito um post, um pouco lamechas e cliché. E dei por mim a ver os meus dedos a ganhar vida própria e a apagarem tudo, num ápice. E cá estou eu a recomeçar, desta vez de forma mais racional, dentro dos possíveis para uma criatura lunática, claro está.

Não consigo dormir. Há sempre alguma coisa que me faz acordar ou que me distrai daquele grande fosso que aparece e no qual vou caindo, gradualmente, enquanto me sinto afastar da realidade. Não há grande barulho a esta hora, não há carros a passar nem gente a falar, não há televisões ligadas nem passos no corredor. É mesmo o silêncio, pesado e barulhento. Quando ele aparece, como aqueles monstros que estavam sempre na iminência de sair do guarda-roupa quando eu ainda tinha medo do escuro, os meus olhos abrem-se automaticamente.

Há um grande silêncio que a música não abafa, que a respiração não corta, que o chilrear suave das primeiras aves da manhã não disfarça. E o único remédio são as palavras, que soam como se fossem enormes, garrafais, como as letras que a professora da primária escrevia no quadro, para nos ensinar a escrever à máquina. Escondo os olhos nas páginas e o silêncio esmorece, enquanto viajo por terras desconhecidas. Agora estou na China, no tempo do comunismo, na casa de um soldado que espera pacientemente pelo 18º ano de pseudo-casamento com a sua amante para se poder divorciar da mulher, sem o seu consentimento.*

Só as palavras, ainda que silenciosas, acabam com o eco do silêncio. A ironia? A ironia é saber-me bem o silêncio depois da leitura. Aí já consigo adormecer e deixo-me cair no fosso. E pouco depois, já são horas de acordar, porque a manhã não me deixa dormir.

*Waiting, by Ha Jin

"Happiness is a sad song..."

4 comments:

L. said...

E de novo pergunto: para quando um livro teu?

Às vezes o silêncio é palpável. Mas nem sempre sabe bem.

Gosto de como tornas tuas as palavras e as moldas como se fossem plasticina. Cor-de-rosa, claro.

Beijo meu*

aquelabruxa said...

gosto muito da tua imaginação!

Anonymous said...

L.,
as tuas palavras deixam-me babada...eu apodero-me das palavras, isso sim. Acho que me cansei de as pedir emprestadas.

aquelabruxa,
eu, às vezes, tenho medo dela =)

L. said...

Por que é que eu fico com a impressão de que tu nunca me levas a sério? Estava a falar muito a sério quanto ao livro. Falo muito a sério sempre que elogio a tua escrita. Sabe sempre bem, mesmo quando não apetece ler. Há qualquer feitiço que lanças através das tuas palavras.

Beijo meu, minha céptica preferida*