quantos indecisos andam agora por aqui

Monday, June 08, 2009

Um post a sério (isto é, sem grandes devaneios lunáticos) sobre modernices

É claro que isto não é um post a sério, só queria assustar quem me lê. Quem me conhece sabe que há poucas coisas que levo a sério. E quem me conhece sabe que sou uma info-excluída, metade por opção, metade pela força das circunstâncias - sim, confesso orgulhosamente que tenho apenas dois neurónios e que um deles é extremamente preguiçoso.

De há uns tempos para cá, ando assustada com isto das novas tecnologias, especialmente porque quando pensamos que uma coisa é novidade, lá vem outra que torna a anterior num dinossauro. Isto faz-me confusão, porque sou daquelas pessoas que se apegam tanto a seres humanos como a objectos e custa-me que as coisas passem de moda tão depressa. Por moda, defino tudo aquilo que me cai no goto, quer esteja ou não na crista da onda (esta expressão, por exemplo, já passou de moda "há que tempos").

Fico arrepiada com estes novos conceitos que japoneses e americanos criam e que toda a gente agarra com unhas e dentes. Fico indignada quando, de repente, a nova geração retrata tudo o aquilo a que já me habituei a ter à minha volta como "ultrapassado". Especialmente no que toca a livros. Fiquei irritada hoje, quando fui tomar um cafezinho matinal e comprar o jornal, e ouvi um bando de adolescentes referir-se a livros como sendo uma coisa do século passado. Teria sido mais condescendente se estes adolescentes não estivessem vestidos como se fossem para uma festa de Carnaval subordinada ao tema "como-gastar-a-maquilhagem-da-mãe-e-fazer-a-avó-ter-um-enfarte-ao-olhar-para-a-nossa-fronha".

Tudo bem que hoje em dia os conceitos andam um pouco baralhados, especialmente porque o formato em que as coisas foram concebidas não são os mesmos: uma coisinha com ecrã e botõezinhos (aka Kindle) também é um livro, por exemplo. Foram-se os formatos e ficaram os conceitos. Mas os conceitos, penso eu, também mudam com a renovação dos suportes. Não consigo olhar para uma geringonça com botõezinhos e chamá-la de livro. Seria o mesmo que olhar para uma maçã verde e chamá-la de limão só porque é ácida. Mas parece que eu é que estou errada, a julgar pela opinião destes jovens e de meio mundo.

Fala disto esta pseudo-pessoa que tem um ipod (ganhei-o num concurso, não o comprei, o que é importante referir e chamo-o de grafonola digital pocket-size) e que tem uma pasta de shuffle com os últimos êxitos de
dance music misturadas com rapsódias de Bach e Beethoven.

No entanto, para mim um Kindle ou um Sony Reader não são livros, ponto final. Ainda me lembro de ter descrito um livro a pedido de uma professora no 7º ano como sendo um "objecto, com capa, contra-capa, páginas e lombada, que serve o propósito de lazer ou estudo". Continuo a pensar nesta definição quando me refiro a um livro.

Os livros são coisas que podemos cheirar e que nos invadem com o aroma a papel, que podemos amolgar e deixar com os cantos dobrados, que podemos sujar com nódoas de comida, que podemos guardar na estante e fazê-la ceder ao peso dos volumes, que podemos sublinhar com um lápis, como se conversássemos com as palavras ou com o autor. Para mim, um e-book é um pseudo-livro.

Eu gosto de coisas transparentes, metaforicamente falando. Continuo a preferir os átomos aos bits, porque me fazem confusão coisas em que não podemos tocar: são como sentimentos, só lhes podemos pegar através de um intermediário (a amizade está para um amigo assim como o bit está para uma engenhoca digital - não tocamos na amizade nem nos bits de um e-book, mas tocamos num amigo ou num Kindle).

Não sou totalmente aversa às novas tecnologias: por exemplo, não me importava de ter uma Espresso Book Machine (uma maquineta de print-on-demand que tira livros como quem tira cafés - 100 páginas num minuto) ou que um livro meu fosse transformado em audiobook. Mas há coisas que não deviam mudar. Eu sei, eu sei, estou a escrever num blogue e já não passo sem ele, mas também não vivo sem caneta e papel.

Que me perdoem os adeptos das novas tecnologias, mas eu sou daquelas pessoas que acredita que, por vezes, o futuro está no passado. Desde que começou o "boom" das modernices, começou também o "boom" das doenças mentais, dos stresses e dos escândalos que nos fazem pensar que o mundo está do avesso (será coincidência?). Acho que éramos muito mais felizes no tempo em que aos treze anos andávamos a ver desenhos animados e a brincar ao "guelas" em vez de andar por aí a fazer bebés.

[desconfio que depois deste post ser publicado vou ter a caixa do email a abarrotar de gente a oferecer-me pancada]

"Happiness is a sad song..."

8 comments:

Just me said...

"a amizade está para um amigo assim como está para uma engenhoca digital - não tocamos na amizade nem nos bits de um e-booke-book, mas tocamos num amigo ou num Kindle"

Passagem genialmente filosófica sobre algo tão tecnologicamente metafórico.

Concordo com tudo o que escreveste. É bom ver que consegues escrever "a sério", isto é sem (grandes) devaneios lunáticos =)

groze said...

Eu não te ofertaria, de modo algum, pancada. Gostei bastante de te ler, de resto, e concordo, em grande parte, com o teu ponto de vista.

Um abraço (passarei mais frequentemente por aqui, aviso desde já).

Anonymous said...

Isso são devaneios de uma mentecapta. Ainda assim, uma mentecapta que argumenta muito bem a seu favor. Pancada? Não. Sticks and stones...

farfalla said...

Longe de mim oferecer-te porrada :) especialmente quando concordo a 100% com tudo o que disses-te! Honestamente acho que a geração dos anos 80(a melhor de todassssssssssss eheheheheeheh) foi a última que teve privilégios culturais tais como ter tempo para brinca, na verdadeira acepção da palavra, e aprender o que são livros. Talvez por ser de letras tenho uma especial paixão por tudo o que seja papel e os livros são a minha Bíblia... um livro tem vida, podemos sublinhar, podemos escrevinhas, podemos secar flores nas páginas... pfu.. tanto.... Se levar com um pingo de água corremos o risco de perder uma palavra, ou enrugar a folha... estou mesmo a ver o kindle, ou lá como se chama isso, fazer-nos perder um livro inteiro devido a um pingo de água... por exemplo... um Livro, será sempre um livro tal e qual como o descreveste e tal jamais irá mudar!

APOIADO :)

_baci_

aquelabruxa said...

querida, cada vez estou a gostar mais de te ler. quanto a mim não há nada de mal com a tecnologia, tecnologia é óptimo (imaginas o mundo sem internet? para mim vai-se tornando difícil, e olha que sou do tempo dos átomos, lol). o problema é a tecnologia ser pensada com fins comerciais, e não com o objectivo de ajudar o dia a dia deste planeta (pelo contrário, até o destrói). daí as coisas ficarem desnecessariamente obsoletas e estragarem-se, para além disso, tão rapidamente.
andar de bicicleta não é o mesmo que andar a pé, e uma coisa não impede a outra. umas vezes é bom e rápido andar de bicicleta (e tenho a certeza que esse kindle é interessante e útil), e outras vezes é bom andar calmamente a pé (e ler livros com capa e contracapa num jardim ao sol ;)

G.S. (eu sei que há muito tempo que não aparecia, desculpa Luninha) said...

Compreendo o que queres dizer, mas não consigo concordar. Rapariga, as modernices trouxeram mais vantagens que desvantagens, não há como negar. Mas, como em tudo, há sempre um senão. O mundo sem tecnologias seria bem desinteressante.

Mas num ponto concordo: livros são livros, não há como negar.

Anonymous said...

Just me,
Com algum esforço consigo escrever a sério, mas a brincar. Obrigado pelo teu comentário, deixou-me que nem um pavão ;)

Groze,
Obrigado pela visita e pelas palavras. É bom saber que há mais pessoas que pensam, nem que seja um bocadinho, como eu. Vou já acrescentar o teu blog à minha lista. Fico à espera de mais visitas.

Anónimo,
Retiro do teu comentário o elogio de que argumento bem. Mentecapta ou não, estou muito feliz assim.

Farfalla,
Os anos 80 foram os mais mágicos. A partir daí foi sempre a piorar. Também sou de letras, mas mesmo que não fosse teria esta estranha paixão por livros. São qualquer coisa de especial =) Obrigado pelo apoio ;)

Aquelabruxa,
Obrigado pelas palavras. Gostei da analogia =) Não há nada como ler livros a sério num jardim ao sol, ou refastelada num sofá num dia de chuva, ou num transporte público, ou em qualquer outro lugar =) mesmo que seja um lugar decandente, será especial porque os livros transformam-nos e levam-nos para onde nunca fomos.

G.S.,
Não te perdoo a ausência, por isso terás de me compensar de alguma forma =)O mundo sem tecnologias seria mais pacífico. Interessante ou não, não sei. Acho interessante um jardim com flores e não há modernices nisso (a não ser sistemas de irrigação e essas coisas, mas isso não é regra). E sim, livros são livros.

Beijinho lunático*

Sandra said...

ai eu concordo c a parte final xD hahahahahahahahah :| my God.

Beijao :D *