quantos indecisos andam agora por aqui

Friday, July 10, 2009

livros e escritas

Pedem-me para escrever livros, aqueles amigos aconchegados no meu coração, parentes próximos que se contentam com os meus rabiscos desalinhados em cadernos que, sem querer, acabam espalhados pela casa toda, leitores que me fazem chegar emails em que tecem elogios - nunca percebi como é possível tecerem-se palavras, mas gosto da expressão - e companheiros que, por uma altura ou outra, acabam desencontrados de mim. Tomo esse pedido como um louvor ao que escrevo ou como uma descarga de consciência por saberem que eu não sei fazer outra coisa e que mais valia oficializar aquilo que sempre quis.

Não escrevo um livro por não querer. Não o faço porque não consigo. Escrever não é uma tarefa simples nem simplista, não é um passatempo nem uma actividade que depois largamos quando aparece alguma coisa mais interessante para fazer, não é um escape, não é vago. Não é fácil. E eu não o faço por ser difícil, porque até gosto de coisas desafiantes, mas não o faço porque um escritor não é apenas alguém que regurgita palavras para formar uma narrativa, nem tão pouco é alguém que, por não ter alguma coisa para dizer, se esvai em palavras que depois, no fim de contas, não dizem nada. E também não é alguém, a meu ver, que escreva num blog que, por ter muitos comentários, alguém decide transformar num bestseller, com páginas, capa e contracapa e umas quantas opiniões ilustres. Eu penso que quando se quer escrever se deve pensar no propósito da escrita [e o leitor pergunta, neste momento, qual o propósito da minha, pergunta à qual respondo dizendo que não tenho propósito e, mesmo que tivesse, estaria indecisa entre quais].

Não escrevo, porque um escritor é um filósofo, não porque tece teorias que nos ajudam a perceber a humanidade (apesar de, algumas vezes, acontecer, mas isso requer tarimba), mas porque pensa sobre coisas. Pensar não é fácil e nem sempre é reconfortante. Acima de tudo, pensar não deve ser feito de ânimo leve.

Um escritor não deve escrever para libertar as suas neuroses, para desabafar sobre os seus problemas, para nos relatar a sua vida. Ele escreve para nos contar estórias, com uma moral ou uma lição que nos faça pensar. É isso. Um escritor é um ser que pensa e que faz pensar. Eu sei que está na moda despejar paranóias e emoções e transformar isso em livros sentimentais. Isso é um género de escrita que eu penso que deveria ser relegada para os diários, apesar de quase não os venderem por terem passado de moda com isto da internet.

A escrita é um trabalho sério, que requer uma rotina. Eu sei que nos filmes fazem parecer que o escritor foi subitamente iluminado pelo divino, ou pelo que lhe quiserem chamar, e que a partir disso escreve grandes epopeias que comovem milhões de pessoas. Não é assim ou, pelo menos, eu não acho que seja.

Escrever é abstrairmo-nos de nós próprios. E isso, eu não consigo fazer. Acho que sou egocêntrica.

"Happiness is a sad song..."

12 comments:

L. said...

Podias escrever um tratado sobre o assunto. E isso seria transformado em livro. Pronto, está bem, eu páro de dizer para ESCREVERES UM LIVRO. Mas seria tão bom ter a tua escrita na minha cabeceira. De certeza que se me acabavam as insónias.

Beijo meu, minha doce e lunática escritora (preferida)*

Senhor das Chaves said...

Eu apoio plenamente a decisão de não escreveres um livro porque, depois, ainda corriamos o risco de ter que o ler lol

Um beijo e um sorriso :o)

Only Me said...

"Porque um escritor é um filósofo, não porque tece teorias que nos ajudam a perceber a humanidade (apesar de, algumas vezes, acontecer, mas isso requer tarimba), mas porque pensa sobre coisas."

Adorei o texto, porque além de serem pensamentos nos faz realmente pensar. Não gosto de ler aqueles livros que não dizem nada. E sei que escrever é difícil e ter um propósito é ainda mais difícil. Um livro tem apenas um tema, a escrita não tem limites. COntinua assim.

E obrigada XD

Bjs :D

Sandra said...

Eu não acho que sejas egoísta gémea, mas é normal que estejas "hesitante" ... Escrever um livro exerce alguma "pressão" ainda que psicológica e tem algum peso no escritor. Talvez não te sentes preparada, por estares meia insegura em relação ao que os outroos vão achar, e no que é que vais ter para escerever em tantas páginas que não fale um bocadinho de ti e do teu dia-a-dia. Mas não tenhas medo disso. Tu tens uma "coisa" que são poucas as pessoas que têm. Sabes melhor que ninguém, e não so porque todos te dizem, mas que eu sei que tu sabes por ti mesma, que tens um dom. O dom de escrever, e de seres tão traansparente perante uma mísera folha de papel. Pois olha, não desistas, nunca. Não deixes também que isso te passe ao lado... Quando te dizem (dizemos) para escreveres um livro, não é hoje, nem amanhãã.. É mais um: pensa nisso, seriamente.
Sem pressões, nem nada disso... porque uma coisa é certa, faças tu o que fizeres nunca vais perder o dom especial que tens de nos encantar e deliciar com o que escreves, nem que sejam simples coisinhas do dia-a-dia.

A tua fã número 1 *

Anonymous said...

Tenho de concordar contigo, querida lunática. Escrever um livro não deve de ser uma coisa que se faça de ânimo leve. Escrever algo com conteúdo e que nos faça pensar, não é fácil.
Romances de cordel (Corín Tellado) não obrigado.

m said...

Escrever é gritar sem ruído!

Tudo o que dizes é verdade, ainda assim imagina o quão gratificante é escrever um livro. O que aprendes no seu processo de construção e o que ensinas quando está finalizado e a ''vaguear'' por aí.
Pensa nisso. Não é mais um livro. Não é um livro qualquer. É o TEU livro, que de certo fará toda a diferença. E se for algo minimamente autobiográfico... então que seja! Afinal todos os livros têm um bocadinho do seu autor, certo? :)

beijinhos

aquelabruxa said...

não concordo com tudo o que disseste, mas gosto do novo vestido do teu blogue.

Anonymous said...

Só mais uma coisinha... gosto muito do que escreves. Acho que tens um dom natural na escrita.
No entanto, nada disto invalida tudo o que disse no post anterior.

Anonymous said...

NOTA: Se eu estiver errado, dá-me uma prova de tal e calarme-ei para sempre. lol

Anonymous said...

L.,
meu querido lunático, na tua cabeceira, se bem me lembro, tens livros de grandes e VERDADEIROS génios e um livro meu só ia destoar. de qualquer forma, vou considerar, se é para acabar com as tuas insónias.

Senhor das Chaves,
se eu escrevesse não obrigaria ninguém a ler. não gosto de submeter aqueles de quem gosto a tortura...

Sandie,
só tu... até fiquei sem palavras.

Marta,
vou pensar nisso. com carinho =)

aquelabruxa,
obrigado. ao menos gostaste de alguma coisa lol.

Jace,
obrigado pelas palavras. eu tenho noção de que escrevo quilómetros, por isso sim, tens razão, mas a)não o consigo evitar, b)não o quero evitar, porque gosto de escrever assim, c)aqui dou-me a liberdade de devanear sem restrições, porque este é o meu espaço; se fosse um jornal não o faria.

beijinho*

Anonymous said...

Only me,
obrigado eu ;) gosto de fazer as pessoas pensar, porque sei que habitualmente elas relegam essa tarefa para coisas mais corriqueiras lol

Raistlin The Wizard said...

Vou-me remeter ao silêncio com receio de ferir susceptibilidades porque enfimmnmmmmãmmmmmmmmmommmmmmmmmmmmmmmmmmcmmmommmmmnmmmcmmmmmmommmmmmrmmmmmmmmmmmmdmmmmmommmmmmmmmnmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmammmmmmdmmmmmmmmmmammmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm