fim do mundo

pois claro que tinha. foi um fenómeno tipicamente cibernético e quase pensei que tivesse sido tudo um grande logro só para assustar quem estava por aquelas horas a navegar pela internet fora quando devia era estar a dormir. penso que isto não se passava assim quando havia sismos no tempo posterior às máquinas de escrever e anterior ao twitter: corria-se para debaixo de uma mesa, para um umbral ou para a rua. eu tenho para mim que quem tem twitter foi a correr para o teclado mais próximo, fosse ele o do computador ou o do telemóvel. enquanto decorria o sismo abriram-se algumas janelinhas do msn, de gente tomada pelo pânico ou pela surpresa, querendo partilhar comigo o alívio de não ter estado sozinho no mundo das sensações.

houve de tudo: desde gente a mandar piadas sobre o facto de ter sido um sismo e não a turbulenta vida sexual dos vizinhos, ou sobre o terramoto de 1755 que tinha sido muito pior e que, por comparação, não deveríamos ficar assustados - como se tivéssemos todos vivido nessa altura para tomarmos este sismo de ânimo leve -, ou sobre o facto de ter pensado que era tudo uma partida dos amigos, ou sobre a preocupação de não ter tido tempo para prender os móveis do IKEA à parede.

pensando no que devia fazer para me entreter enquanto o sono não voltava, liguei-me imediatamente a sites noticiosos mesmo antes de me lembrar de ir ver as notícias de última hora na televisão. ainda bem que o fiz, porque contaram-me à pouco que só às duas da manhã é que os canais de notícias conseguiram ir para o ar com as últimas novidades que, graças ao mundo revolucionário das mensagens instantâneas e tuítadas e todas essas coisas que me cortam a respiração por se movimentarem à velocidade da luz, estavam já ressessas.

eu confesso que quando se deu o tremor, já estava a meio passo do mundo dos sonhos. senti umas pontadas na cama, como se animaizinhos irrequietos se tivessem alojado por entre as molas do meu colchão. pensei que talvez fossem palpitações ou um fenómeno paranormal provocado pela súbita consciência - que por sua vez tinha sido provocada por sei lá o quê - enquanto o cérebro se encontrava em repouso. mas depois pensei que, se tinha chegado àquele rebuscado pensamento, estava bem consciente da realidade.

devaneios à parte, eu defendo a versão apocalíptica da coisa, defendida também por quem viu o filme 2012 ou leu livros sobre a mesma temática e acredita nas previsões Maias de que estamos a caminhar para o dia do juízo final e que isto é o início do fim. sou um pouco drástica, é verdade, mas não me digam que um sismo não é um sinal de que as placas tectónicas não estão propriamente seguras e que falta pouco para os continentes andarem por aí soltos, como pranchas de surf pelos mares.

enfim, talvez devesse ver menos filmes ou algo do género. mas isto pode ser uma boa oportunidade para fazer todas aquelas maluqueiras que nunca fazemos por estarmos demasiado receosos das consequências: das duas uma...ou o mundo acaba mesmo e não nos arrependemos, naqueles segundinhos em que nos damos conta do que está a acontecer, ou temos a desculpa de ter acreditado em algo que até estava comprovado, pelo menos historicamente, mas que se revelou um erro. também uma terceira opção: passamos por maluquinhos. mas ao que parece isso está na moda nos dias de hoje.

"happiness is a sad song..."