quantos indecisos andam agora por aqui

Wednesday, March 17, 2010

a ciência das palavras

há palavras que se prendem nas pálpebras. a sério. escorrem de lá e não nos deixam dormir, tingem-nos de púrpura os sonhos, por não terem cor nenhuma. talvez isso não faça muito sentido, mas se disser que as palavras ficam com a cor que os sonhos nos dão, talvez seja mais fácil. também não. mais fácil é dizer que elas são o fio invisível entre a nossa consciência e a realidade. talvez elas no fundo sejam a realidade, quem sabe. a verdade é que elas são como lápis de cera e isso chega para as definir, pelo menos por agora.

estou aqui a matutar nisto simplesmente porque dei por mim cansada de usar vírgulas e de fazer sentido. quando acordo, tenho a sensação de que sou mais feliz nos sonhos, mesmo quando sei que dentro deles não compreendi grande coisa. e nas falas dos sonhos parece-me que não há grandes sinais de pontuação. de facto, lembro-me apenas de exclamações - aquelas que tanta gente parece querer abolir como se não se lembrassem que não há melhor indicador de perigo que um ponto encimado por uma aresta solta.

por falar em fazer sentido, estou a transcrever uma conversa que tive com gente dessa das artes, que tantos me dizem com ar de consternação serem malucos da cabeça, como se a sanidade não fosse um luxo raro hoje em dia. estava certa de que teria de pausar inúmeras vezes entre as palavras difíceis, mas acontece que tudo isso é filtrado pela vontade de chegar ao fim e encontrar um trabalho já pronto. ilusão, com a maior das certezas, que depois de frases reunidas, vou ter de desconstruir tudo. entretanto, tenho mais três livros a enfeitar a secretária e a teimarem comigo em não sair dali. eles cegam propositadamente o campo de visão e eu gosto. ainda vou construir uma muralha a toda a volta e ficar assim, na companhia das palavras. não gosto muito de transcrever conversas, parece que as estou a transformar em objectos de análise e ser científico traz mais dúvidas que benefícios. pôr a hipótese de não duvidar de alguma coisa é muito pouco científico. 




estou com problemas em fazer-me entender. é impressão minha? de certeza que não - olhem para mim com uma certeza! [e um ponto de exclamação, que lindo]

tenho a impressão de que os dias estão mais longos, mas as noites mais longas ainda. deito-me e quando acordo ainda é de noite. tacteio no escuro e não encontro vontade de me levantar e encarar o jacto de água quente que antecede as roupas ainda quentes. depois saio e já é primavera, ou as flores assim o indicam. estou confusa. e tenho frio. de qualquer forma, as andorinhas já andam por aí e parece que andam carraceiras a experimentar o monte da lua. nunca gostei muito de garças, mas estas são engraçadas.



"happiness is a sad song..."

7 comments:

vyrushack said...

xiiiiiii...
Adoro-te!
Bjt

Anonymous said...

Não, eu percebi bem o que quiseste dizer. Primeiro que os sonhos são incolores, mas não inócuos, que a tua escrita flui melhor sem vírgulas [lembro-me quando te aventuraste pela escrita "desvirgulada" e tinhas um caderno cheio de palavras] e que os pontos de exclamação são como... sei lá, faltam-me analogias.

Depois quero ler a reportagem de lés a lés. Aliás, a curiosidade chega a picar-me os nervos, porque ainda há duas semanas li o Bilhetinhos com Poemas da Emily Dickinson que foi traduzido pela Llansol, sob o pseudónimo Ana Fontes (foi uma amiga que me disse que aquele era o pseudónimo dela!). Agora quero ler a tradução dela de Rainer Maria Rilke - sei que és fã, se quiseres empresto-te.

Entretanto, vou tomar um café enquanto penso nas "tais" palavras.

Beijo meu*

Anonymous said...

estás a brincar?
Rainer Maria Rilke está para a poesia como Llansol está para a literatura indefinida. ou seja, quero tê-los na minha estante lado a lado.

Anonymous said...

E encher-lhes as páginas de conversa. Fiquei com o livro todo rabiscado e depois emprestei-o e a pessoa também escrevinhou. Qualquer dia os livros são conferências.

Anonymous said...

conferências livrescas.
perdes mais tempo a escrever do que a ler. eu às vezes também.
há alturas em que parece que conversamos com o autor. quando ele já não é vivo é muito estranho. é como falar com memórias vivas.
chega de devaneios, sim?

Sandra said...

escreves tão bem! (com um ponto de exclamação e tudo)

saudades!!!!

beijinhos genial*

Only Me said...

Consegues sempre expressar-te maravilhosamente bem, Luna, se bem que às vezes sejas difícil de decifrar XD
Muitos beijinhos minha querida, e muitas andorinhas a chilrearem ao pé de ti (se gostares, ito é)