o título fica para depois

todos os dias digo ou penso que tenho de começar a deitar-me mais cedo e que tenho de comer mais legumes e que o doce da fruta não é assim tão diferente do doce dos doces e que procrastinar não é saudável, como diz a letra daquela música - "é p'ra-manhã..." - e que tenho mesmo de começar a dormir mais e pensar menos. é mais fácil dizer do que fazer, mas se calhar tornar isto público pode fazer a diferença e pode ser que ganhe vergonha e faça mais vezes aquilo que penso. quero dizer, depois de pensar uma vez, porque se penso uma segunda posso mudar de ideias. costuma ser assim. 

dantes pensava que dormir era uma perda de tempo. ainda penso um bocadinho isso. o tempo que se perde para repôr energias é tanto que não compensa. seis a oito horas, dizem especialistas na matéria. não. uma noite bem passada vale bem mais do que isso e as gargalhadas que se prolongam pelo ar fora fazem mais diferença do que atingir o r.e.m. muitas vezes. o problema é a preguiça matinal, como se o dia fosse demasiado longo para se aguentar escrever muitas palavras ou demasiado comprido para se conseguir chegar ao fim e conseguir ter um pouco de tempo para aproveitar a brisa nocturna e ver as estrelas e entrelaçar as mãos e descançar o sono no ombro de quem se gosta. 

apesar disso vale bem a pena acordar de manhã, muitas horas antes do ocaso, e ter de aguentar o aborrecimento e o fastio e os protocolos e as burocracias e a simpatia profissional, quando sabemos que as noites serão sempre assim, se o quisermos. assim: passeios pós-laborais, o dia para trás das costas, jantar no primeiro sítio que encontramos, afogar a rotina num pedaço de nostalgia, sentir na pele a maresia e o sol fugidio, vê-lo afundar-se numa tira de mar e beijar muito. tudo isto sem ordem predefinida.

e hoje decidi que vou mesmo dormir mais cedo do que o habitual. o que não significa nem muito cedo, nem muito, nem muito bem. não faz mal, amanhã é outro dia e vamos sempre a tempo de fazer cumprir aquilo que pensamos - ou adiar para o dia seguinte, porque quando somos jovens há sempre muitos dias pela frente para fazer o que se quer. 

"happiness is a sad song..."