mesmo em dias de sol abafado há uma neblina que nos envolve. em Sintra. uma claridade obscura, uma obscuridade clara que fere os olhos e os obriga a pousar em maravilhas arquitectónicas ou em raridades botânicas. agora há cachecóis coloridos em cotos de árvores e muitos turistas de pernas à mostra e os pêlos dos braços arrepiados. este sol daqui engana, especialmente no sopé da serra. hoje era dia para fazer gazeta e aproveitar a sombra para nos sentarmos num qualquer banco, comprar pevides e chegar a meio do livro que já ostenta vincos na lombada e marcas de andar na mala atafulhada. Moon Palace, ou Palácio da Lua é um título mesmo a propósito para se ler neste Monte. da Lua. será que Paul Auster conhece Sintra? imagino-o a deambular por aí, com um bloco de notas - um Moleskine A5 de capa preta de páginas lisas - e uma caneta daquelas de tinta preta daquela que flui assim que se coloca a ponta no papel.

hoje parece uma quinta-feira repetida e é estranho ter pausas assim a meio da semana e depois um dia de trabalho e depois outra pausa de dois dias. não sou muito de pausas, prefiro slow motions. às vezes deixo os pensamentos em fast rewind e transformo horas em viagens ao passado, quando ainda não conhecia bem Sintra e íamos em bando à vila comprar travesseiros e sumos e nos púnhamos a experimentar uma máquina fotográfica que eu tinha, que por um defeito qualquer queimava as extremidades das fotos como uma moldura - só guardei algumas, as outras apanharam chuva e estragaram-se. Sintra é a minha Memory Lane. um vívido álbum de memórias em muitos recantos.

"happiness is a sad song..."