sou tipo grinch mas sem ser verde e a gostar um bocadinho desta época

estraguei um grande bocado de massa para sonhos porque o fermento tinha passado do prazo, as rabanadas saem sempre bem e pão esquecido no cesto há sempre, por isso todos os anos lá estão elas, a escorrer açúcar e canela e a chamar pela ponta dos dedos [porque será que a comida sabe melhor sem guardanapos?], tirando isso, tenho um jantar e um almoço para preparar, entradas e sobremesas incluídas, que não me faço rogada, uns quantos postais ainda por escrever, já escrevi dez e fiquei sem inspiração para mais, devia gostar mais de googlar e tudo se tornaria tão mais simples, porque a internet tem resposta para tudo [menos para encontrar uma receita que me agrade e depois acabo sempre por recorrer aos fiéis livros, que guardam manchas de gordura e saliências de farinha, e que aguardam ansiosamente para serem abertos ao reboliço, ultimamente muito sazonal, e que gostam tanto de me ver às voltas a destapar panelas], está tudo mais ou menos controlado, mas lá haverá alguma coisa em falta, que tenho uma certa aversão a escrever listas, mas isto é uma coisa recente, e depois as filas do supermercado e as pessoas numa correria porque padecem do mesmo, o síndrome de deixar as coisas para a última da hora ou não gostarem de escrever listas, e depois para voltar a casa e encontrar o calor do forno disperso por todo o lado, e depois digo para mim que devia usar o forno mais vezes, mas depois digo também que a culpa é toda minha por gostar de cozinhar a granel e depois saber que teria de passar um dia inteiro envolta em vapores culinários, entretanto alguém toca à campainha e quer conversas, não será sempre assim nesta época?, toda a gente fica muito solitária e precisa de conversar porque é a isso que a música de natal inspira, companhia e um chá quente, e o dia passa num ápice e depois é de noite e chegou a altura de relaxar e depois relaxamos demais e somos vagarosos demais, deve ser do frio lá de fora ou da quentura cá de dentro, e a meia-noite já vai a meio e as prendas ainda estão aconchegadas em papel garrido de vermelho e de verde e de dourado, com guizos e renas e homens gordos de vermelho, apesar de as crianças já não acreditarem que eles existam, e depois a noite acaba-se porque no outro dia há mais. 

tanto há mais que no início somos quatro e à tarde já somos dez, às vezes menos, às vezes mais, por isso já sei que tudo o que se cozinha, cozinha-se a dobrar ou triplicar, e mesmo quando penso que vamos ser só quatro e que tudo vai ser demasiado calmo e aborrecido, há sempre telefonemas de última hora e há sempre visitas de última hora e presentes que não se esperavam e o dia a passar tão depressa como todos os anos, e nunca deixa de ser assim o natal, depois de tudo comigo a expulsar a mãe da cozinha e a ficar um pedaço de tempo a olhar pela janela e aí é como se o tempo parasse, mas não gosto disso porque até nem sou amiga de natais, são demasiado nostálgicos para se suportar em constante felicidade, e é aí que me sinto como o grinch, mas sem ser verde, e penso que apesar de nunca ter tido o que mais queria de presente [provavelmente é exigência a mais, só isso] até que nem é mau, o natal e tudo isto, e até que há mais natais daqui para a frente e mais oportunidades para serem essas as vezes dos desejos totalmente satisfeitos, e até que é isso mesmo o natal: esperança.

e entretanto perdi-me, que eu só vinha mesmo desejar um feliz e santo natal aos meus e aos vossos e a todos os outros. pois. feliz natal!

"happiness is a sad song..."