quantos indecisos andam agora por aqui

Monday, June 06, 2011

guilty pleasures

tenho um fraquinho por policiais, estilo filmes noir, um toque de cliché e outro de gabardine. há livros modernos, policiais, digo, muito assim. li a trilogia Millenium, em pouco mais de um mês. antes disso nunca tinha lido autores suecos. agora a Fnac tem vários livros de autores de países nórdicos. deve ser uma nova moda. que não me transcende.

gosto dos policiais especialmente pelos desfechos. gosto de contabilizar as vezes em que a culpa foi do mordomo. de escrever num bloquinho os suspeitos e os hálibis. isso ou notas mentais, que a turbulência do comboio não permite aventuras. gosto daquele descrever de momentos. quando a narrativa do crime se torna poética é que sei se o autor me cativou. até aí é igual a ver um filme. depois de uns 15 minutos já teremos traçado uma ou outra nota inicial. se for uma comédia e nenhuma cena tiver suscitado em nós pelo menos uma gargalhada então o resto do tempo poderá estar perdido. é mais ou menos assim, acho eu.

mas com os livros é preciso ter mais paciência. às vezes só há um crime, um bom crime, na página 125. outras vezes entramos na mente do detective e ficamos a saber durante muitas páginas o que é que o levou a escolher aquela profissão. conhecemos a solidão de quem teve de se divorciar. ou de quem sofreu o desgosto de uma perda importante. algo do género. 

não conheço detectives felizes. à excepção do primeiro livro de Val McDermid, em que há um chefe de departamento na polícia que tem dois filhos e uma mulher absurdamente compreensiva. e ele não era bem detective, mas mandava em muitos polícias que ajudaram a descobrir o assassino travesti. ainda assim vivia cansado e com saudades.

os policiais são o meu guilty pleasure. como o chocolate a meio da tarde ou os passeios de domingo. daquelas coisas que não podem ser sempre. depois da minha estreia com Val McDermid passei logo para um romance, daquele tipo de bestseller que não percebo porque cativou tanta gente. Lesley Pearse. foi como ler uma revista. em três dias o Nunca me esqueças acabou-se. ficou a memória de ser uma narrativa baseada numa história verdadeira e pormenores de uma viagem dramática.

mas depois veio o Deus das moscas e estragou um pouco este sistema a que me tinha habituado. demorou-me quase duas semanas. perturbou-me tanto que fiquei dois dias a quatro páginas do fim. tive medo do desfecho e fui adiando. mas não li nada durante esses dois dias. agora acabei-o e hoje estive à procura de um romance leve para desanuviar aquela carga emocional. foi uma má leitura, pelo medo de virar as páginas, só isso. depois pensei numa crónica de Miguel Esteves Cardoso sobre os livros não serem um passatempo leve e sobre ler não ser uma tarefa para ser feita de ânimo leve. tenho pena de não ter decorado uma ou outra citação dessa crónica.

então acabei por comprar mais dois policiais. ainda assim, depois recorri à minha estante e desencantei um livro de Virginia Woolf e outro de Charles Dickens, ainda virgens. sem marcas de leitura, pontas dobradas e essas intempéries que, para mim, acabam por ser efeitos decorativos de uma leitura afincada. os policiais ainda vão descansar um pouco e eu vou descansar deles. quando tudo o resto falha podemos sempre recorrer aos clássicos. a pausa perfeita.


"happiness is a sad song..."

4 comments:

lampâda mervelha said...

E para quando o teu?

Anonymous said...

quando parar de ler, i guess...
e o teu?

*

Anonymous said...

E quando até os clássicos falham recorro a ti ;)

Beijo meu por tantas recomendações interessantes num só texto*

P.S: também eu voltei aos clássicos ultimamente. Estou com uma overdose, se é que isso é possível, de Henry James e Edgar Allan Poe.

lampâda mervelha said...

Ora bem... quando tiver "matéria" para tal.