jogo de tabuleiro

devo ter lido isto em algum lado: o mundo é um imenso jogo do monopólio. ainda tenho um, com a caixa amassada, algumas notas (em escudos) manchadas de bebidas açucaradas e chocolate, migalhas coladas ao tabuleiro... mas adiante. o mundo é um jogo do monopólio. e neste momento estamos naquela fase do jogo em que apenas alguns detêm todas as propriedades e a maior parte do dinheiro e os outros são constantemente obrigados a pagar-lhes se quiserem continuar em jogo. quem conhece o monopólio sabe a que me refiro. é uma fase aborrecida e assustadora, porque uma pessoa até tem medo de lançar os dados.

no entanto, é nesta fase que hoje vivemos. a pagar. para poder continuar em jogo. infelizmente a factura para se viver em sociedade é muito alta. e o problema é que é alta, mas não tem contrapartidas. nenhumas, nenhumas. 

sou dada a divagações, que sou. mas a verdade é que se pegarmos em todos os pequenos pormenores que as subidas de impostos e os cortes implicam, temos várias bolas de neve. um dos exemplos que dava à pouco numa conversa foi absurdo, que foi. mas fez-me sentido.

passo a explicar: ponto i) há a intenção de portajar a entrada para a cidade de lisboa. coisa comum na idade média. pagar para entrar numa cidade. hoje em dia isso implicaria mais filas de trânsito, custo acrescido. e ainda por cima a alternativa não é melhor. os transportes públicos são o que se vê. a ironia é que as portagens serviriam para tapar (um bocadinho d)o buraco orçamental dos transportes. que funcionam mal e são caros. 

ponto ii) o iva sobe para a electricidade e o gás mas mantém-se nos 6% para bilhetes de espectáculo, golfe, entradas em jogos de futebol, bebidas gaseificadas de marcas conhecidas, etc. 

o meu raciocínio exagerado, absurdo e ao estilo de stand up comedy é o seguinte: as pessoas vão passar a ter outras prioridades. vão passar a viver à luz das velas, a candeeiros de petróleo (mas esperem, até no petróleo querem aumentar as taxas!), a cozinhar menos, a tomar menos banho ou banho de água fria. qualquer dia voltamos a aderir ao "água vai!". isto porque, pessimista que sou, estou à espera que aumentem o preço da água e isso de usar sanita e autoclismo sairia muito caro.

saltando vários pontos no raciocínio, daí até voltarmos às sociedades feudais... já faltou mais. 

uma das conclusões do tal do raciocínio: tudo quanto são feiras medievais deixariam de ser recriações. mesmo aquelas em que temos de comprar bilhete (com o iva a 6%) deixariam de fazer sentido como acto teatral.

por outro lado, com o aumento do preço dos bens de primeira necessidade, uma das consequências mais lógicas é as pessoas passarem a produzir esses bens em casa. o excedente seria depois vendido. aos vizinhos, primeiro, depois à beira da estrada. tudo o que são canteiros à frente dos prédios seria um bom terreno de pasto. para vacas, claro está. o que sobrasse seria para plantar batatas e couves e cenouras... sim, a solução passaria por voltarmos à terra, como tanto se apregoa por aí.

por outro lado ainda, a escola hoje em dia é uma instituição muito mal gerida. isso e a saúde. o melhor é sermos ensinados pelos nossos pais, em casa, e voltar às mezinhas dos nossos avós. aprendíamos muito mais e viveríamos menos, também. mas isso também tem aspectos positivos. menos reformas, menos despesa em medicamentos, menos dinheiro gasto em restruturações daquelas em que fica tudo na mesma.

que a história é feita de avanços e recuos já sabíamos. aprendemos na escola. mas, com a velocidade com que caminhamos para o abismo é mesmo essa a resposta, já que dar um passo em frente é demasiado fatalista. o melhor é mesmo recuar alguns passos. e no processo, repensar os valores e ver até onde isto vai dar.

o melhor é mesmo mandar o tabuleiro com todos os apetrechos para dentro da caixa e começar o jogo de novo. ou inventar um outro jogo. penso eu.

"happiness is a sad song..."