há coisas com que não consigo lidar e uma delas são os nervos. a sensação irritante no estômago, como se estivessemos constantemente em queda livre, é muito desconfortável, especialmente quando se quer comer. torna-se impossível. café então, nem pensar e chá só se for de camomila.
tentamos então não pensar no assunto, arranjamos formas de nos entreter. mas se há coisa que se torna também difícil é a leitura. é irritante ter que ler a mesma frase algumas vezes até a compreender, enquanto a mente vagueia para onde não queremos que ela vá. por isso os livros ficam de lado. o que é pena, porque estou a gostar do Great Gatsby.
por coincidência, ontem o Paul Auster leu uma passagem do último livro que li dele e último livro que li de todo, Sunset Park, onde se refere a essa obra. maior coincidência foi ele ter lido a passagem do livro que mais palavrões contém. ver o nosso escritor favorito a praguejar na primeira vez que o vemos de todo é engraçado. depois a mulher dele, Siri Hustvedt, conseguiu pôr toda a gente a rir com o seu tom melodramático e mudanças de voz numa leitura sobre estudos que "comprovam" a fraqueza do sexo feminino em vários aspectos. e a filha do casal, na plateia com ar embevecido.
fiquei sentada atrás do Pedro Mexia, que reconheço pela foto tipo passe que acompanha as suas crónicas. havia muitos outros jornalistas, intelectuais e actores, incluindo a Soraia Chaves, sem maquilhagem. fiquei à espera de ver a jornalista literária Isabel Coutinho, mas acho que não estava lá.
à saída passei os olhos pela galeria, mas não me interessei nem pela exposição, feita de nus integrais de mulheres nem pela de imagens de noites escuras com brilhos de faróis e candeeiros de ruas. saí e das escadas via-se a lua redonda. à minha frente a Sophie Auster fumava um cigarro. mesmo a um palmo de mim. depois a assistente dela, com quem conversava, pediu-me lume e por coincidência eu levava um casaco onde no bolso habita um isqueiro que raramente funciona. foi assim que trocámos algumas palavras com a filha do Paul Auster a sorrir para nós. depois os escritores saíram. a mãe dela, alta e loira e elegante e o pai, alto e um pouco desengonçado. a sua trajectória colidiria com a minha presença, não fosse uma senhora que prontamente lhe estendeu o livro, o das Ilusões, para ser autografado. pensei para comigo que também devia ter trazido um dos dez livros que tenho da sua autoria, mas contentei-me com aquele momento.
poder ver uma pessoa cuja escrita adoramos, isto é, podermos perceber que ela existe e respira como nós, é um grande passo. ouvi-la a ler as suas próprias palavras foi, por si só, uma dádiva.
John DeLillo e J.M. Coetzee foram duas surpresas. não estava à espera do sotaque britânico deste último nem da sua leveza de leitura. só li um livro seu, mas fiquei com vontade de mais.
de outra coisa que não estava à espera foi da maior concentração de moleskines que já presenciei e de óculos de massa escura.
entretanto, os nervos continuam e não há Gatsby que me salve. resta-me continuar o pseudo-estudo. já não estava habituada a estas andanças e algo me diz que isto é argumento suficiente para não prosseguir com os meus estudos académicos, algo que está na minha lista de coisas a fazer no futuro.
"happiness is a sad song..."
2 comments:
Espera um momento... tu estiveste no mesmo sítio que esses escritores todos ?!?!?!?!?! Estiveste na mesma sala que o Paul Auster?!?!?!?! Não levaste um livro dele para autografar?!?!?!?!
Tenho inveja, muita inveja.
Mais uma alusão ao Gatsby? É como quando nunca ouvimos falar de personalidade tal e depois de sabermos mais sobre ela estamos sempre a vê-la em todo o lado.
Quanto ao resto, tem calma. Tudo vai correr bem, como sempre. You're a genius and you should remember that.
Beijo meu*
não podia perder, não achas? não levei livro nenhum. o meu livro preferido dele está em mau estado...
outra alusão ao Gatsby vi eu num programa, enquanto estava a fazer zapping. e sim, é uma dessas situações.
thanks for the support. i'm such a genius that last year, i asked Santa for the most intelligent person ever for Christmas and i woke up in a box.
muahahaha
beijinho*
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