quantos indecisos andam agora por aqui

Saturday, December 10, 2011

quem sai aos seus...

recentemente comprei um caderno de caligrafia (os chamados "cadernos de duas linhas"). no primeiro ano da escola a minha professora ensinou-me a tornar a letra legível com um desses cadernos, fazendo com que as letras minúsculas fossem cuidadosamente colocadas entre as duas linhas, a parte debaixo a tocar a linha inferior e a parte de cima a tocar a linha superior. só algumas letras tinham permissão para transgredir essa regra (foi mais ou menos aí que começou o meu ódio pelas letras maiúsculas).

o meu primo e afilhado, a frequentar o segundo ano de escolaridade, esperto e enérgico (ou melhor, hiperactivo, mas não hiperactivo como forma de definir um miúdo que não pára quieto, mas sim um miúdo com hiperactividade diagnosticada por quem de direito), estava a ver desenhos animados e eu aproximei-me com um caderno e um lápis e pedi-lhe ajuda para escrever o abecedário com a desculpa de que já não me lembrava de como era o abedecário dos tempos de escola, bastante diferente das gatafunhadas que enchem agora os meus cadernos e blocos.

ele escreveu e eu vi aquilo que temia. caligrafia minúscula e encabulada e letras que se atropelavam. acabara de encontrar o destino perfeito para aquele caderno (para dizer a verdade, quando o comprei já tinha em mente esse destino). então ensinei-o, da mesma forma que me lembro a minha querida professora da escola primária me ensinar, a usar o caderno de duas linhas. escrevi o abecedário e disse-lhe que tinha que preencher a frente e o verso da folha, devagar e cuidadosamente. ele preencheu uma linha e eu corrigi-o, enfatizando que as linhas só podiam ser transpostas por algumas letras. e começamos a conversar sobre outra coisa qualquer.

muito solene, ele interrompeu-me e disse: "olha, posso preencher já as duas páginas, se faz favor?". 

eu calei-me e deixei-o ficar-se ali a escrever. com orgulho e a certeza de que este sai a mim. entretanto pedi-lhe para dar largas à imaginação e escrever uma carta ao pai natal e ele esqueceu-se dos desenhos animados.


"happiness is a sad song..."

2 comments:

Anonymous said...

Ainda há esperança neste mundo!!

Beijo meu*

Anonymous said...

é bom saber isso, não é? =)