quantos indecisos andam agora por aqui

Monday, December 03, 2007

Uma espécie de nada I

E se o céu derretesse?, perguntavas tu. E se o céu derretesse? Fitei os teus olhos, procurando uma resposta na tua alma. Mas os teus olhos não são espelhos, são reflexos. Não vejo a tua alma, dentro deles, como se apregoa por aí. Não vejo, porque tu não a queres [ou não podes] mostrar. E a minha curiosidade mata-me.

Quero saber quem és, como és, com quem queres ser. Quero que me mostres porquê, quando, onde. Quero que sejas, que faças, que mudes. Que me mudes.

Se o céu derretesse nós ficaríamos aqui, à espera que ele nos caísse em cima. Sentir o azul em pequenas gotas e o molhado em pequenas sensações. Degustar o cinzento, o pardo e o nublado. E não seria perigoso? Não te respondo, porque sei que a minha resposta trará mais alguma pergunta e agora não quero que fales mais.

Quero ouvir o som, a melodia que antecede o cair da chuva. O assobio? A gargalhada? O gargarejo? Talvez o dissolver das nuvens em pedaços de água. Quero ouvir, nem que seja para ter tempo de levar os olhos acima e ver a primeira gota, para a sentir antecipadamente tocar a minha pele, para ter tempo de suspirar e de sorrir e de receber de braços abertos a frescura do céu.

Posso ficar aqui contigo?, perguntavas tu. Olhos sorridentes, alma triste [porque sei que estás triste]. Claro, claro que sim! Sem ti a chuva não teria cheiro, não teria canção, não teria sabor. Claro que podes, podes ficar aqui comigo, de mãos dadas para sentir a chuva. Sim, o céu a derreter...

E eis que sentimos o chão vibrar de comoção e eis que a primeira lágrima [minha ou tua?] caiu e foi parar ao chão. E eis que não há primeira gota, mas sim um sem número delas que vai caindo de uma vez. De lá de cima. Como quem não consegue ver o mar todo de uma só vez ficamos parados. E o azul?, perguntaste. Não respondi. Queria dizer que o azul não se dissolve, está todo lá. Que o cinzento é inquebrável e que não há calor que o faça derreter. Que o céu está sempre lá e que há sempre uma cor diferente, que não sai e que nenhum pintor consegue imitar e que nenhum tom de olhos pode igualar. Queria dizer tudo isso.

Podemos ficar aqui para sempre?, inquiriste como se tudo fosse simples como o amachucar de uma folha de papel. Não sei, quis dizer. Mas o que me saiu foi... Vamos tomar um chá?


"Happiness is a sad song..."

8 comments:

Anonymous said...

"Mas os teus olhos não são espelhos, são reflexos. Não vejo a tua alma, dentro deles, como se apregoa por aí. Não vejo, porque tu não a queres [ou não podes] mostrar. E a minha curiosidade mata-me."
Maravilhosamente delicioso...

Mesmo que não fosse assinado por ti, saberia que este texto é teu se o lesse algures neste mundo...

Anonymous said...

Por que insistes em torturar-me com as tuas palavras demasiado belas para as conseguir digerir na minha alma?
Melhor do que isto... apenas os teus olhos a olhar para o céu...

Anonymous said...

Vamos tomar um chá, sim, por favor! Quero tomar um chá e ouvir as tuas palavras! E ouvir a chuva bater nos vidros... chá, calor, chuva e uma boa conversa... ai Luna... era a melhor prenda de natal que alguém me podia dar...

farfalla said...

:)

AMEI!

Vejo com os meus olhos tudo aquilo que escreves-te...

Também eu me identifico com o que escreves :)

_baci_

Anonymous said...

Vamos... vamos tomar um chá.
Em tua casa ou na minha?

Anonymous said...

Se o céu derretesse, tua passarias a ser uma estrela flutuante :p

Texto muito bonito. Parabéns!

Beijo "derretido" :)

Fay van Gelder said...

Texto muito Lindo - Parabéns :)

E obg pela visitinha, volta sempre.

Bjo:)

Raistlin The Wizard said...

(hmz)

I'm intrigued.

(hmz)