quantos indecisos andam agora por aqui

Monday, January 28, 2008

meu deus...



Vou já dormir? Já não é cedo, seria cedo há uma semana atrás, e o meu relógio biológico começa a dar o alerta e os olhos sentem-se cansados de olhar para o ecrã do computador. Tenho vontade de ler e de me perder pelas páginas até os meus olhos lerem as palavras e de repente elas deixarem de chegar ao meu cérebro por ele estar demasiado ocupado a processar imagens tuas. Aquela sensação de estar deitada, com a almofada mais levantada do que o normal, e o candeeiro projectando um círculo sobre as páginas. E sonhar acordada e deixar o livro cair sobre o peito, como que num abraço de palavreados e frases que me comovem ou elucidam, e suspirar vezes sem conta e beber o chá sem me dar conta que o faço.
Talvez não vá dormir já, esqueço o livro e fico simplesmente a olhar para o tecto demasiado branco, com saudades do tecto do meu quarto e das estrelas que brilham no escuro que o meu pai e o meu irmão pintaram, em constelações imaginárias ou mesmo inexistentes. Talvez não vá dormir para poder recordar o teu rosto, de olhos bem abertos. Ou talvez vá dormir para sonhar contigo? No entanto, isso é um risco porque posso deixar-me dormir profundamente ou então sonhar com qualquer outra coisa. Se ficar acordada sempre posso entreter-me a gravar cada um dos teus traços na minha mente e todas aquelas coisas de que me quero lembrar num cantinho especial, perto das memórias que mais me animam o espírito. Será que mereces?
Posso deixar-me ficar aqui, por enquanto, a olhar pela janela, porque mesmo que não goste da paisagem, vou estar completamente distraída. A lembrar-me daquela vez, do café de sempre e do bilhete debaixo da minha chávena, da Su à minha frente sem consegui perceber nada e eu a disfarçar bem o nervosismo, da senhora de meia leite a beber a meia de idade, ai a senhora de meia idade a beber a meia de leite, acho que é assim, do teu chá entornado sobre a mesa e da confusão que foi e que terminou em felizes coincidências, mas e então? não cheguei a ouvir a tua voz e tu parecias ansioso para ouvir a minha mas eu não falei, que estranho, a minha voz estava embargada e eu não sabia o que dizer, pela primeira vez desde há muito tempo, não sabia o que dizer e isso é tão fora do normal, eu que às vezes não me calo e tenho medo de parecer pouco oportuna, e não foi por não ter assunto, se calhar até foi porque todos os assuntos do mundo se desvaneceram, mas a verdade é que havia apenas uma pergunta na minha cabeça e mesmo assim não a consegui dizer, como te chamas? Pois e então? fiquei sem fala e sem saber para onde olhar. Devias estar a pensar no estranho hábito que eu e a Su temos de ir para aquele café barulhento e sentarmo-nos frente a frente a ler um livro cada uma. Mas é que acontece que, normalmente conversamos sobre tantas coisas que ler naquele cantinho, que estranhamente está sempre guardado para nós, é quase um ritual, mais um daqueles que se entranharam. E, bem, nunca te tinha visto onde te vi e pensei que nunca mais voltasses e por isso não voltei também, com medo e também porque eu e a Su temos tido tantas coisas para fazer que ler, agora só de noite, antes de dormir. E hoje voltei, sozinha, porque tinha demasiadas coisas para fazer e precisava de fazer nada e coisa nenhuma e acontece que não estavas lá e a esperança apodreceu, só e tristemente.
Esta um belo dia, hoje, mas eu levei um casaco demasiado quente e tive de prender o cabelo com um elástico, e o único que tinha na carteira era amarelo, e eu detesto amarelo, mas aquele era o único que tinha, só para emergências, está na hora de comprar mais elásticos, e o meu cabelo ficou preso num rolinho que se ia desprendendo à medida que andava, mas não me preocupei porque estava quase a chegar a casa, as compras ficariam para outra altura. Não sei como, nem porquê, não te reconheci àquela distância, nem sequer senti o sorriso, nem percebi as tuas mãos. Bolas, devia estar mesmo distraída a pensar em ti para não te ter reconhecido! E então continuei a andar, por aquela rua apertada, com o casaco demasiado largo na cintura, era suposto ficar mais apertado, talvez tenha que o mandar apertar, e ainda tenho que arrumar os apontamentos senão ainda estudo outra cadeira por engano, e ainda vou fazer um bolo, de chocolate ou de laranja. E, olha és tu! A olhar para mim desde que comecei a caminhar, há quanto tempo estás aí? E Como te chamas, finalmente!
Não… a voz morreu outra vez, o cabelo soltou-se e veio o vento e levou o elástico, mas não faz mal porque vou comprar mais naquela drogaria perto do supermercado, e olhei para o chão e depois olhei para ti e vi que me reconheceste e estavas à porta de casa, a tua casa? a casa de alguém da tua família, da tua namorada, mulher, amante? E tantas, tantas perguntas e… tanto, tanto silêncio. Passei simplesmente e senti os teus olhos na nuca e do outro lado da rua aquela rapariga que conheço vagamente acena-me e eu aceno de volta e apresso o passo e cruzo a esquina e desço a rua. E suspiro de alívio. Ou de desilusão?

[To be continued?]

“Happiness is a sad song…”

8 comments:

Anonymous said...

A tua vida daria uma bela telenovela. Não sei como é que os mexicanos e venezuelanos (e outros a quem os tugas vão roubas as ideias das suas telenovelas, que depois não conseguem retratar com tanto rigor cuz the actors suck) ainda não notaram a tua existência.

Anonymous said...

Depois de um sábado calminho querias o quê? Um domingo descansado. Devo relembrar o teu nome?
Bom, ao menos consegues tornar as coisas bem poéticas e harmoniosas. You're a genius =D

Gi said...

Diz-me o teu nome para que, ao menos nos meus sonhos, te chame. Quem sabe reconheças a minha voz ! :)

Fico à espera da continuação, da concretização ... do nome !

um beijinho, noite feliz

m said...

Hmmm cheira-me que foi amor à primeira vista... :P

Claro que continuas. Quero saber o desfecho desta história!

Beijinhos :)*

m said...

resposta ao comentário: tens razão no que disseste em ambos os comentários, então no do dicionário mais razão tens :P
sim, a fotografia é minha. Podes utilizá-la se quiseres ;)

beijinhos

m said...

(respostas na caixa das bilhardices! :P)

Anonymous said...

Hum... "E suspiro de alívio. Ou de desilusão?"... então? onde está a coragem e o assombro? Vá lá, da próxima vez deixa lhe um bilhetinho. Mesmo que não dê em nada, ao menos ficam quites ;)

Carlos said...

olá Luna,
Voz embargada? hum!

Lindo gostei muito.
Poderia escrever muito e muito e muito , até ser chato, mas hoje não o vou fazer, porque são as tuas palavras, os teus feelings, que são importantes.
Dia após dia vais encontrar, a razão do teu existir e daquilo que te dá prazer e num ápice a tua voz se vai libertar......
como os outros também espero a continuação.....

beijito