Olhámos um para o outro como se o horizonte estivesse nas nossas íris. Por mais que lhe desejasse tudo, não conseguia deixar de desejar que o tudo fosse para sempre eu, para sempre nós. Sim, sempre fui um pouco egoísta com as emoções, sempre as quis todas para mim. Naqueles breves momentos, o roçagar das mãos, o intercalar de frases, o fantasma da nossa respiração junta no ar, os limões no saco que seguravas, o céu perfeito, a lua ainda intacta, a rua húmida e escura, tudo me parecia um daqueles sonhos delirantes que se tem quando se está febril.
Seguimos sempre em frente, como se a rua nunca acabasse, como se nunca fôssemos perder o fôlego, como se nunca fôssemos precisar de mais do que uma simples conversa, de mais do que uma simples troca de olhares. Sim, os meus olhos são castanhos e os teus verdes, a minha pele morena e a tua pálida, as tuas mãos grandes e as minhas pequenas, mas é como se as nossas almas se juntassem como as peças de um puzzle. Se eu te perguntasse de que cor é o meu sorriso, o que responderias? Se eu te perguntasse se querias jantar comigo, aceitarias?
Há algo de diferente na tua voz, nos teus gestos. Como se fosse preciso um manual de instruções para [te] perceber. Neste momento não me lembro de como estavas vestido. O que fizeste à minha memória? Não me lembro do que te respondi quando me perguntaste se morava sozinha, não me lembro de fui sincera ou se menti. Não me lembro porque confiei em ti, nem se me arrepiei com a brisa gélida da noite de outono. Ficaste com a folha que estava no meu cabelo, mas é como se tivesses ficado com uma parte de mim.
Se eu seguisse o teu impulso, onde estaríamos nós agora? Juntos? Felizes para sempre, talvez. Sinto-me como se tivesse prolongado o sono para toda a vida. Como se ainda estivesse a dormir e algures num vácuo a tua vida tivesse estacado num único momento, aquele em que as mãos se entrelaçaram. Não foi preciso mais do que isso, para perceber que o teu toque me faz lembrar o brilho do arco-íris e que um suspiro vale mais do que mil palavras.
Tenho pena de ter fugido de ti e ao mesmo tempo não tenho. O teu cheiro a luar tortura-me. Se é porque és como a lua e nunca vou conseguir chegar a ti ou se é porque nunca vou poder comparar o teu cheiro com qualquer outra coisa, não sei. Pensei que seria mais fácil aceitar o que pretendias. Mas não é. Disseste que eu pensava demasiado, mas a verdade é que tu é que és demasiado impulsivo. Pelos vistos os opostos não se atraem? Ou atraem-se demasiado.
Se eu tivesse ido contigo, como pediste, o que aconteceria a tudo isto que eu ganhei, que eu aprendi, que eu (re)conheci, que eu descobri por não ter ido? A vida é feita de escolhas, certo? Eu escolhi, tu escolheste ir. Foi justo para os dois. Não para os nossos corações. Corro o risco de soar lamechas, mas talvez o nosso lugar seja a esta distância um do outro. Ambos sabemos que não existem finais felizes, porque não chegamos a conhecer realmente o final das estórias. Quando me leste o teu trecho preferido, de cotovelos apoiados no sofá, ao som daquela música que ainda me ecoa nos ouvidos quando me sinto terrivelmente só, depois do jantar que ficou queimado pela segunda vez, porque era a segunda vez que jantávamos juntos, não me saía da cabeça que os bons momentos são tão curtos que os maus parecem durar eternidades e que me ias achar parva por estar a chorar ao som de palavras preferidas de outrem e que nunca mais sentiria a tua voz fazer vibrar o ar.
Gostava que soubesses que a orquídea que me ofereceste foi a que menos me durou. Tenho pena, mas a verdade é que por mais que cuidasse dela, as pétalas murchavam e o meu coração ficava cada vez mais apertado. Quem me dera ainda tê-la no parapeito da janela. Se ela fosse um suspiro seria o teu, se fosse uma lágrima seria a minha...
A verdade é que tenho saudades tuas. E agora não sei que destinatário hei-de colocar nesta carta. Será que vale a pena guardá-la na gaveta dos desejos até voltares? Será que vais voltar?
Sempre [tua?].
V.
"Happiness is a sad song..."
Seguimos sempre em frente, como se a rua nunca acabasse, como se nunca fôssemos perder o fôlego, como se nunca fôssemos precisar de mais do que uma simples conversa, de mais do que uma simples troca de olhares. Sim, os meus olhos são castanhos e os teus verdes, a minha pele morena e a tua pálida, as tuas mãos grandes e as minhas pequenas, mas é como se as nossas almas se juntassem como as peças de um puzzle. Se eu te perguntasse de que cor é o meu sorriso, o que responderias? Se eu te perguntasse se querias jantar comigo, aceitarias?
Há algo de diferente na tua voz, nos teus gestos. Como se fosse preciso um manual de instruções para [te] perceber. Neste momento não me lembro de como estavas vestido. O que fizeste à minha memória? Não me lembro do que te respondi quando me perguntaste se morava sozinha, não me lembro de fui sincera ou se menti. Não me lembro porque confiei em ti, nem se me arrepiei com a brisa gélida da noite de outono. Ficaste com a folha que estava no meu cabelo, mas é como se tivesses ficado com uma parte de mim.
Se eu seguisse o teu impulso, onde estaríamos nós agora? Juntos? Felizes para sempre, talvez. Sinto-me como se tivesse prolongado o sono para toda a vida. Como se ainda estivesse a dormir e algures num vácuo a tua vida tivesse estacado num único momento, aquele em que as mãos se entrelaçaram. Não foi preciso mais do que isso, para perceber que o teu toque me faz lembrar o brilho do arco-íris e que um suspiro vale mais do que mil palavras.
Tenho pena de ter fugido de ti e ao mesmo tempo não tenho. O teu cheiro a luar tortura-me. Se é porque és como a lua e nunca vou conseguir chegar a ti ou se é porque nunca vou poder comparar o teu cheiro com qualquer outra coisa, não sei. Pensei que seria mais fácil aceitar o que pretendias. Mas não é. Disseste que eu pensava demasiado, mas a verdade é que tu é que és demasiado impulsivo. Pelos vistos os opostos não se atraem? Ou atraem-se demasiado.
Se eu tivesse ido contigo, como pediste, o que aconteceria a tudo isto que eu ganhei, que eu aprendi, que eu (re)conheci, que eu descobri por não ter ido? A vida é feita de escolhas, certo? Eu escolhi, tu escolheste ir. Foi justo para os dois. Não para os nossos corações. Corro o risco de soar lamechas, mas talvez o nosso lugar seja a esta distância um do outro. Ambos sabemos que não existem finais felizes, porque não chegamos a conhecer realmente o final das estórias. Quando me leste o teu trecho preferido, de cotovelos apoiados no sofá, ao som daquela música que ainda me ecoa nos ouvidos quando me sinto terrivelmente só, depois do jantar que ficou queimado pela segunda vez, porque era a segunda vez que jantávamos juntos, não me saía da cabeça que os bons momentos são tão curtos que os maus parecem durar eternidades e que me ias achar parva por estar a chorar ao som de palavras preferidas de outrem e que nunca mais sentiria a tua voz fazer vibrar o ar.
Gostava que soubesses que a orquídea que me ofereceste foi a que menos me durou. Tenho pena, mas a verdade é que por mais que cuidasse dela, as pétalas murchavam e o meu coração ficava cada vez mais apertado. Quem me dera ainda tê-la no parapeito da janela. Se ela fosse um suspiro seria o teu, se fosse uma lágrima seria a minha...
A verdade é que tenho saudades tuas. E agora não sei que destinatário hei-de colocar nesta carta. Será que vale a pena guardá-la na gaveta dos desejos até voltares? Será que vais voltar?
Sempre [tua?].
V.
"Happiness is a sad song..."
4 comments:
A verdade é que já não consigo distinguir o que é ficção e o que é realidade. Não sei se hei-de elogiar a tua imaginação ou consolar a tua mágoa...
De uma forma ou de outra, não há nada como ler o que escreves antes de dormir...
olá,
Isto aqui tá cheio de estados de espirito, de sentimentos , de medos ....
Bom, ficção ou realidade |tua|, só a ti diz respeito, é uma texto lindissímo.
«o roçagar das mãos, o intercalar de frases, o fantasma da nossa respiração junta no ar...»
«E agora não sei que destinatário hei-de colocar nesta carta. Será que vale a pena guardá-la na gaveta dos desejos até voltares? Será que vais voltar?»
gostei muito de todo o texto.
um dia o destinatário para a tua carta aparece, talvez quando menos esperas.
Realmente as mãos são uma fonte inesgotável de sensualidade...
Bravo .....
uma boa semana,
bj
Eu sei qual o destinatário que hás-de colocar nesta carta: Uma editora qualquer!!! :)
Adorei que o cheiro a luar tenha tido uma segunda parte! :)
Beijocas e boa semana
Dizem que os opostos atraem-se! ;)
bj
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