O [quase] melhor de tudo é falar com pessoas que nos passariam ao lado se não estivéssemos [ou fossemos estar] nesta profissão. Com 80 anos, Daniel Serrão tem o espírito de um jovem que ainda tem muito para descobrir. Não pusemos isso no nosso artigo, claro, nem o facto de ser uma pessoa extremamente afável e com uma cultura geral e conhecimentos de história que me deixou boquiaberta. Hoje saiu no JN, mas ontem já estava publicada no JPN a nossa extensa entrevista. O que ficou foi o sorriso e o piscar de olho lançado nas piadas e ironias da [sua] vida, a moldura com a prole, de entre eles o Manuel Serrão, o “gostei muito de ser embrião e se me tivessem deitado fora não estaria aqui a falar consigo”, o "Nenhuma dificuldade é superior à minha vontade e capacidade de a vencer”, os devaneios, o “narcisismo bacoco” dito com desprezo e o “nada justifica o endeusamento das pessoas”, as citações de Pessoa, o estarmos em sua casa.
["Eu sou contra transformar as actividades humanas em espectáculo. Hoje tudo tem que ser espectacular. Se não for espectacular não vale, não passa, não interessa. Acabando o espectáculo ficamos vazios."]
[tenho saudades da primavera e dos jardins e das conversas primaveris. gosto destas árvores que deitam os seus suspiros em borrões rosa que cobrem o chão como um tapete aromático. e gostei do almoço que se seguiu a esta fotografia.]
São dias longos, estes. Gostava de prolongar conversas e ensejos, mas ao mesmo tempo quero chegar a casa o mais rápido possível. Não percebo para onde vai o tempo. Não percebo porque temos de andar todos a correr, porque gosto da calma e de poder parar para olhar o céu, ou fazer pausas a torto e a direito. Porque quando aprendi química na escola tentava encontrar as moléculas na água, segurando o copo mesmo à frente dos olhos e franzindo o sobrolho e agora bebo água depressa, em garrafas de plástico que se vão espalhando pelo quarto, tenho uma garrafa de plástico cortada com uma flor que [felizmente] persiste à janela, com o botão virado para o sol e gosto de olhar para ela porque me faz lembrar quem ma deu e me lembra as rosas guardadas dentro de livros, tão ao género de Shakespeare. Quando as suas pétalas caírem vou guardá-las, talvez as embrulhe no lenço de cetim que me deste, para guardar o seu perfume na gaveta dos desejos.
Hoje soprei uma vela, porque a brisa nunca mais entrava. As árvores dançavam com o vento, mas o ar não entrava pela janela e a chama persistia num coto, como o instinto de sobrevivência que não abandona um ser vivo até ele suspirar pela última vez, e eu soprei de longe e ela não resistiu. Ao longe ouvia um piano, em fortíssimo e depois em staccato, como na banda sonora de um filme. Se fosse um drama tudo aconteceria comigo envergando um vestido, de lágrimas nos olhos e uma carta amachucada contra o peito. Mas não era, e eu apenas segurava a carta, como um relíquia ou uma antiguidade que se vai perdendo pelo contacto com o ar. Tive vontade de a atirar pela janela, mas guardei-a na caixa das cartas, apenas porque gosto da caligrafia.
Amanhã vou soprar outra vela, pelo meu irmão que faz anos e depois telefono-lhe e ouço a voz infantil de sempre a contar as peripécias do dia. Enquanto isso vou olhar pela janela, como sempre, e pensar que a noite desce demasiado depressa. Por agora vou esperar o telefonema para ir tomar uma bebida, para não deixar o sábado em branco. Ou em azul.
"Happiness is a sad song..."
8 comments:
... ou verde, com a forma de um gato? e sim, vamos prolongar as conversas, temos quase quinze dias de atraso...
Correndo o risco de me tornar repetitiva, gosto tanto de passar por aqui. Parece tudo tão simples e tão bonito. Gosto das tuas palavras pautadas por sinceridade. Gosto da tua forma de (te) descrever(es).
Um beijinho*
Não deites as cartas fora. Em tempos foram cartas que gostaste de ler, que saboreaste cada palavra e interiorizaste cada linha. Foste feliz ao lê-las. Agora, penso eu, se as deitares fora o que acontece a esses momentos?
Bj :)
(ai)
Ps: Luna, hoje à noite pela primeira vez, seremos rivais! :P Muahahahaha
Bj :D*
olá,
é muito bom conversar, e quando o nosso interlocutor nos passa experiências ,e nos faz vibrar em curiosidade, de ouvir um pouco mais e de nos deleita , quase como bebés que esperam o final do conto e adormecem em sono profundo....
Linda essa tua futura profissão.
De resto tem uma boa semana.
bj
Estou a olhar para o Dany (o nosso amigo Daniel) e estou-me a lembrar daquela foto perfeita que tu lhe tiraste e que devia estar no JPN... e estou-me a lembrar ainda da foto de família e da única "coisa" que os meus olhos conseguiram focar...
A semana foi muito frustrante e cansativa (ai que ainda faltam 3 meses)e eu sou negativa por natureza, mas acho que a sexta foi o dia em que me ri mais...
A dar com o sítio, a "penetrar" na portucalense, a almoçar às onze, a descobrir que existia um shopping no pólo universitário, a transcrever a entrevista, a irritar o Rios, a gozar ctg por causa dos kinders e por aí fora...
Venha mais uma semana, desta vez a horas mais decentes, e seja o que Deus quiser...
bjo
Obrigada pelos comentários! :D
Gostos não se discutem, tens razão, mas quando são sportinguistas eu não resistooooo! :P hehe, desculpa lá*
:D beijos
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