memórias cinzentas

às vezes há coisas que escapam as que acabam por voltar a nós. eu lembrava-me do dia da entrega de diplomas de mérito, quando estava no 12.º ano. era Janeiro e o tempo estava cinzento, um pouco como está hoje. eu vestia uma camisola branca e uma mini-saia castanha que incrivelmente ainda me serve. o meu cachecol colorido é o que melhor se vê nas fotos, a esconder o pescoço e o peito.

nesse mesmo dia o jornal onde agora trabalho esteve na escola. as imagens estão agora difusas, mas lembro-me do flash de uma máquina fotográfica e, à saída, de alguém de voz muito rouca que veio ter comigo, com um gravador daqueles de cassetes, e me perguntou quantos anos eu tinha, qual tinha sido a minha média e o que queria eu ser no futuro. 

hoje, a ver esse mesmo jornal aqui no arquivo olho para o nome do autor do artigo e vejo-lhe a cara. o meu colega e orientador jornalista, com quem passo tão bons momentos e com quem troco impressões sobre os mais diversos temas. o artigo sobre o dia da entrega dos diplomas foi capa e lá estou eu, com um sorriso de orelha a orelha, do lado esquerdo com o diploma na mão.

lá dentro, no artigo, digo que quero ser escritora e que ainda não sei se vou seguir uma licenciatura em línguas ou jornalismo. agora rio-me da ironia. porque entretanto passaram-se cinco anos e eu estou aqui, do outro lado, a ver jovens parecidos com o que nós éramos, a fazer-lhes perguntas e tudo o mais. e porque fui-me lembrar disto hoje, num dia com o tempo tão murcho. e porque quando o meu colega chegar lhe vou mostrar o jornal e perguntar se ele se lembra daquele dia e daquela rapariga morena de cabelo a roçar os ombros e dos sonhos e incertezas que ela levava [e ainda leva].

"happiness is a sad song..."