quantos indecisos andam agora por aqui

Sunday, November 25, 2007

Junto ao Douro...




Sento-me e parece que toda a gente olha para mim com um misto de curiosidade e desconfiança. Sim, sou uma cara nova por estes lados, por estas horas. Ou sou simplesmente diferente do que eles estão habituados a ver... por estes lados, por estas horas.

As águas do Douro agitam-se impacientemente. O ar que bate à superfície do rio forma ondinhas e redemoinhos. Se pudesse congelar este momento, as águas pareceriam os lençóis de uma cama. Lençóis verde-aço, com barquinhos cheios de turistas.

Chegam-me aos ouvidos fragmentos de conversas. Já me sinto familiarizada com o ambiente e parece que o ambiente também já se habituou à minha presença.

O sol embate na água e traz-me o brilho, o brilho do ouro, o brilho de uns olhos sorridentes, o brilho de tempos que já se foram e nunca mais hão-de voltar...

Parece-me estranho esta calma tão profusa, apesar da agitação do mundo.

"Má que cosa bella!", oiço ao meu lado. O ruído de uma máquina fotográfica. O som das águas que se começam a agitar. O som de vozes bem portuguesas, bem portenhas, bem qualquer coisa que não sei explicar, mas que cativa.

Oferecem-me um cigarro, mas recuso. No entanto, a conversa aceito de bom grado, como quem aceita um chá bem quente numa noite de Inverno. Perguntam-me se sou daqui. Sabem a resposta de antemão, mas perguntam na mesma. Querem saber de onde venho, porque tenho a pele morena, porque brilham os meus olhos, porque estou aqui. Querem saber o que faço. Oferecem-me um gole de algo que está dentro de uma garrafa opaca. também não aceito. Querem saber para onde vou. Se estou sozinha.

Não estou habituada a que me oiçam assim. Com os ouvidos e com os olhos. No entanto, o Douro tira-me a timidez e eu converso como se falasse com velhos amigos. Aqui, junto ao lamento do rio, todos são amigos.

Aqui, o aroma da água e a melodia de algo que está longe [talvez no céu?] fazem-se amigos do tempo que parece não querer passar.

Suspiro e deixo-me ficar. Aqui junto às águas do rio...




"Happiness is a sad song..."

10 comments:

Anonymous said...

"Oferecem-me um cigarro, mas recuso. No entanto, a conversa aceito de bom grado, como quem aceita um chá bem quente numa noite de Inverno. "

Má que cosa bella!!

Anonymous said...

Luninha, luninha... podias-me ter chamado para ir contigo! Mas pelo que vejo arranjaste logo companhia...

Anonymous said...

Bonito, muito bonito Luninha... andas mesmo a ficar com jeito pá coisa... será que me podias dar um pouquinho? Hum... digamos... 20% já me chegava. Se não fosse pedir muito...
Meh... tenho inveja de ti -.-

Raistlin The Wizard said...

*This post was censored by the author on the grounds of too much explicit truth*

elisa said...

Todos os dias passo a bela ponte sobre o Douro e todos os dias, fico maravilhada com a paisagem:)
Que post inspirado!
Beijocas

O Profeta said...

A bucolidade do lugar e este rio...o teu bonito coração...uma tela cheia de encanto...


Boa semana


Mágico beijo

PostScriptum said...

Não sei [tu] indecisa, mas sei que tens uma escrita belisima e fluente.
A linkar este espaço com a tua permissão.
Beijo grato.

Irene Ermida said...

Retribuo e agrade�o a visita ao meu blog.

O que encontrei por aqui vai fazer-me certamente voltar.

Uma escrita correcta que espelha conte�dos consistentes...

Gostei especialmente deste post... Quando parava por Lisboa n�o apreciava o Porto. Quando regressei ao norte, descobri aos poucos a cidade invicta e aprendi a gostar.

Parab�ns pelo teu blog.

At� � pr�xima.

Anonymous said...

"bem qualquer coisa que não sei explicar, mas que cativa"

é precisamente isso que me cativa no Porto... não saber explicar e adorar... Acho que aquilo que nos faz sentir verdadeiramente bem não tem qq razão para isso, faz-nos bem e pronto... Não necessitamos de qq motivo, não é?

Parabéns pela sua escrita, em cada palavra dá-nos um bocadinho da sua alma. Gosto disso.

Anonymous said...

"bem qualquer coisa que não sei explicar, mas que cativa"

é precisamente isso que me cativa no Porto... não saber explicar e adorar... Acho que aquilo que nos faz sentir verdadeiramente bem não tem qq razão para isso, faz-nos bem e pronto... Não necessitamos de qq motivo, não é?

Parabéns pela sua escrita, em cada palavra dá-nos um bocadinho da sua alma. Gosto disso.